quarta-feira, 8 de julho de 2015

Nem mandioca nem tocha ou bola de folha de bananeira: Dilma se sente fatalmente atraída pela casca de banana

Quantas vezes vocês já leram textos meus acusando a presidente Dilma Rousseff de cruzar a rua só para pisar em casca de banana? Nunca antes na história “destepaiz” uma pessoa tão inábil havia chegado politicamente tão longe. Não é que eu não esperasse. Previ que a dupla Dilma-Aloizio Mercadante (Casa Civil) daria errado. É um texto de 20 de janeiro de 2014 (clique aqui para lê-lo). A presidente parece sentir especial prazer em inflar crises. Não há problema pequeno, inclusive os de retórica, que ela não consiga piorar. Dilma é bem mais confusa do que sua sintaxe. É bem mais atrapalhada do que seu pensamento. É bem mais desorganizada do que seu discurso. No domingo, o PSDB fez a sua Convenção Nacional. Como escrevi aqui, bateu duro no governo — e poderia ser diferente? —, mas não encaminhou o impeachment como palavra de ordem. Nas declarações a jornalistas, tucanos expressaram a convicção de que a presidente não termina o mandato. E daí? Já ouvi isso de peemedebistas. Já ouvi isso de pepistas. Já ouvi isso de… petistas! Uma pessoa com um mínimo de “savoir-faire” e “savoir-vivre” políticos daria publicamente de ombros, mas, nos bastidores, chamaria seus líderes no Congresso para articular uma resposta. E pronto! Mas sabem como é… Dilma é uma fatalista e acredita que ninguém consegue resistir às paixões. Ela pode se encantar com a mandioca, com a bola de folha de bananeira, com o cachorro que está sempre atrás de uma criança ou com a tocha olímpica, mas a sua perdição é a casca de banana. Convocou para segunda uma reunião de presidentes e líderes de partidos aliados, forçou Michel Temer — vice-presidente e coordenador político — a arrancar das legendas um desnecessário manifesto em favor da legalidade e concedeu aquela entrevista desastrosa à Folha de S.Paulo, em que volta a misturar delação premiada com tortura, em que chama seus críticos de golpistas e em que quase os desafia para uma luta campal. Consequência de tanta clarividência política: Dilma, não a oposição, levou o impeachment para o centro do debate político, para dentro do Palácio do Planalto, para dentro do Palácio Congresso, para dentro do Palácio da Justiça, para dentro do TCU, para dentro dos lares, para o noticiário de TV. A presidente que me perdoe, mas isso é de uma burrice que chega a ser escandalosa. Imagino um petista inteligente — sim, existe isso, e não se deve confundir inteligência com qualidade moral — a botar a mão na cabeça: “Ah, não! Lá vai ela de novo!”. Se o impeachment, até outro dia, a muitos parecia uma possibilidade remota, coisa dos movimentos mais duros de oposição, agora virou carne de vaca dos tempos de inflação baixa: todo mundo está consumindo. Obra de Dilma! Não foi o que ela fez com a refinaria de Pasadena? Durante quase dois anos, só eu insistia nesse assunto na grande imprensa. Escrevi 17 textos — me sentia até um Policarpo Quaresma da questão. Até o dia em que Dilma decidiu dizer ao Estadão que, na condição de presidente do Conselho, fora ludibriada por Nestor Cerveró. Aí veio o pandemônio. Notem: eu estou pouco me lixando para as trapalhadas de Dilma. O problema é que estou convicto de que ela governa com a mesma falta de destreza com que pensa e com que faz política. Observem: se a sua popularidade fosse grande, vá lá demonizar a oposição. Não deveria fazê-lo em caso nenhum, mas, destaco, não seria um ato estúpido do ponto de vista puramente pragmático. Quem, no entanto, tem só 9% de ótimo e bom deve tomar muito cuidado quando fala um “cospe aqui”. A essa altura, a esmagadora maioria da população se alinha com aquilo que o PSDB ainda nem defendeu: o impeachment. É claro que a presidente só pode ser tirada da sua cadeira por força da lei, mas isso não nos impede de constatar que essa é hoje a vontade da esmagadora maioria do povo. Movimentos de extrema esquerda ameaçam botar fogo no circo se isso acontecer. É bravata! Não teriam como enfrentar a população. Mas reitero: isso só pode ser feito dentro da lei. Ocorre que é justamente com as leis que a presidente anda enrolada.
Volto a janeiro do ano passado
Quando Dilma transferiu Mercadante da Educação para a Casa Civil, escrevi o seguinte naquele meu texto de janeiro do ano passado:
“Mesmo na pasta da Educação, Aloizio Mercadante se transformou numa espécie de voz política de Dilma. Vai funcionar? Ninguém sabe. Em princípio, sua tarefa termina no dia 31 de dezembro. Se a presidente for reeleita, ele continua como homem forte do governo. Nunca foi conhecido por sua habilidade política. Tem uma certa e reconhecida vocação para ser professor de Deus. Sua gigantesca vaidade sempre o precede. Em política, costuma dar errado.
Observem que Lula jamais o levou para a Esplanada dos Ministérios. Em 2003, lembre-se sempre, com o governo enfrentando ainda uma crise de confiança e com Antonio Palocci sendo apresentado como a âncora da estabilidade, Mercadante enchia os ouvidos da imprensa com um certo “Plano B” para a economia. No passado mais remoto, foi o homem que convenceu Lula, em companhia de Maria da Conceição Tavares, de que o Plano Real seria um fracasso.”

Não era uma profecia. Era só uma análise racional. Eis aí. Hoje, Mercadante é o principal conselheiro de Dilma, e Dilma é a principal inspiradora de Mercadante. O resultado se mede em desastres. Por Reinaldo Azevedo

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