sexta-feira, 24 de julho de 2015

Lobista Fernando Baiano usava 19 contas no Exterior para movimentar a propina da Petrobras


O relatório final da investigação de um contrato de US$ 1,2 bilhão da Petrobras com a coreana Samsung Heavy Industries para a compra de dois navios-sonda, encaminhado nesta quinta-feira à Justiça pelo Ministério Público Federal (MPF), lista uma rede de contas bancárias no Exterior movimentadas pelo esquema do lobista Fernando Soares, o Fernando Baiano, preso em Curitiba. Segundo os procuradores da força-tarefa da Operação Lava-Jato, as contas eram usadas para lavar dinheiro de propina destinada a executivos da estatal e políticos. As investigações apontam Baiano como operador do PMDB no esquema de fraudes e desvios de recursos de contratos da Petrobras. Com o fim dessa investigação, o Ministério Público Federal pediu a condenação de Baiano e do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, responsável pelo contrato. Os procuradores também querem punição para os delatores Júlio Camargo e Alberto Youssef pelos crimes de corrupção (ativa e passiva) e lavagem de dinheiro. Camargo era representante da japonesa Mitsui, parceira da Samsung Heavy Industries na construção de um dos dois navios-sonda. O relatório que baseia a denúncia do Ministério Público Federal mostra pelo menos 19 contas ligadas a Baiano em bancos na Suíça, Estados Unidos e Espanha, além de Hong Kong (China), por onde transitaram cerca de US$ 20 milhões entre 2006 e 2008. Os procuradores querem que os denunciados devolvam mais de R$ 156 milhões. Segundo o Ministério Público Federal, nem todas as contas rastreadas pertencem a Baiano. Várias delas são apenas controladas por ele ou foram indicadas para que o consultor Júlio Camargo pagasse a propina combinada pela compra das duas sondas. Na primeira delas, a parceira da Samsung HI foi a Mitsui. Na segunda, foi a Schahin Engenharia. Nos dois casos, Fernando Soares atuou. Para os procuradores, ele operava para o PMDB na Diretoria Internacional da Petrobras. É a esse contrato da Petrobras que estão relacionadas as suspeitas em torno do presidente da Câmara dos Deputados, o deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na semana passada, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, Júlio Camargo disse que Baiano era “sócio oculto” de Eduardo Cunha. O deputado, que não é denunciado e só é investigado no âmbito do Supremo Tribunal Federal por ter foro privilegiado, nega a acusação. Em depoimento à Justiça, Camargo disse que o negócio com as sondas renderia US$ 53 milhões de comissão a ele, dos quais US$ 40 milhões seriam direcionados a agentes públicos e políticos. Julio Camargo disse à Justiça que Baiano lhe entregou pessoalmente os números das contas que deveriam receber os depósitos provenientes dos contratos das sondas. Segundo ele, os valores eram pulverizados, por isso em nenhum momento soube quem eram todos os beneficiários. O dinheiro que passou pelas 19 contas, para o Ministério Público Federal, foi cobrado por Cerveró e Baiano na compra de sondas. O valor foi discutido diretamente com os japoneses antes mesmo que a diretoria executiva da Petrobras desse o aval para início das negociações. O controle de acesso à sede da Petrobras mostrou que Baiano participou das negociações, embora nunca tenha tido vínculo ou prestado algum tipo de serviço para a estatal. Logo depois de receber das empresas contratadas, Júlio Camargo distribuiu US$ 15 milhões por meio de 35 operações bancárias em contas controladas ou indicadas por Baiano. Apenas duas delas, na Suíça, receberam, num único dia de maio de 2007, US$ 1,5 milhão cada. Menos de um ano depois, a Petrobras comprou a segunda sonda da Samsung HI. Parte da propina, que subiu para US$ 25 milhões, também passou pelas contas indicadas pelo lobista. O repasse só foi revelado na Lava-Jato porque Julio Camargo não recebeu o total prometido e teve de recorrer ao doleiro Alberto Youssef para complementar o dinheiro exigido por Cerveró e Baiano. Youssef contou à Justiça que repassou dinheiro a pedido de Júlio Camargo por meio do policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Jayme Careca, que trabalhou para o doleiro entre 2010 e 2013. Numa planilha denominada “Transcareca”, apreendida pela Polícia Federal no escritório de Youssef, o Ministério Público Federal descobriu a entrega de R$ 1,132 em dinheiro vivo no dia 15 de junho de 2012 para Baiano. Segundo Youssef, porém, o valor total repassado foi maior: R$ 4 milhões. “Eu peguei esses reais, uma parte mandei pelo Jayme, que entregasse ao Fernando Soares no Rio, no seu escritório na Rio Branco e o restante eu pedi também que o Jayme levasse, mas aí eu, pessoalmente, fui junto e entreguei esses valores”, disse. A planilha mostra ainda que a “Transcareca”, em apenas dois anos (2011 e 2012), distribuiu R$ 35,4 milhões apenas em notas de reais a beneficiários dos desvios na Petrobras. Por enquanto, o Ministério Público Federal revelou a identificação apenas de um dos nomes da planilha, o de Baiano. Entre os muitos outros, um que se repete é “Walmir”. São 18 menções entre 2011 e 2012, com entregas que totalizam R$ 7,232 milhões. Há ainda “Julinho”, “Sandra”, “Band Jp", “Edú”, “Mercedão”, “Ronaldo”. Os advogados de Baiano, André Azevedo, e de Cerveró, Edson Ribeiro, disseram que o pedido de condenação do Ministério Público Federal não corresponde aos autos. "Até hoje não conseguiram identificar os beneficiários dessas contas", disse Azevedo. Os procuradores do Ministério Público Federal assinalam que Cerveró “confundiu o público e o privado, atuando na Petrobras visando seus próprios interesses, de seus comparsas e das empresas corruptoras”. Para eles, os denunciados prometeram, aceitaram, pagaram e receberam vantagens indevidas para obter “poder, dinheiro e status”. Baiano, assinalam, “enriqueceu vertiginosamente” graças aos desvios na Petrobras: é dono de uma cobertura de luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e de casas de veraneio em Angra dos Reis e Trancoso, na Bahia. Ele mantinha na garagem três caminhonetes Land Rover e uma Toyota Hilux. Sua lancha Cruela 1, com capacidade para 18 pessoas, foi comprada de outro preso da Lava-Jato: Otávio Marques Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez. Segundo o Ministério Público Federal, Baiano também comprou um Land Rover para “presentear” Cerveró e sua mulher. Para os investigadores, era mais uma forma de pagar propina. 

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