terça-feira, 7 de julho de 2015

Lava Jato apura papel de suposto sócio de Zelada em negócios de navios-sondas

O empresário Raul Schmidt Fellipe Filho, suposto sócio do ex-diretor de Internacional da Petrobrás Jorge Luiz Zelada – preso na Operação Conexão Mônaco, no dia 2 -, é investigado pela força-tarefa da Lava Jato pelo recebimento de “comissão” em contratos de navios-sondas da coreana Samsung Heavey Industries. Zelada é administrador da TVP Solar Brasil, empresa de Raul Schmidt, segundo a Receita Federal. A informação sobre a parceria entre Raul Schmidt e Zelada consta de manifestação do Ministério Público Federal em pedido de prisão do ex-diretor da estatal. “Jorge Luiz Zelada aparece como administrador da empresa TVP Solar Brasil. Ao que tudo indica, a TVP Solar Brasil é subsidiária da empresa TVP Solar, uma sociedade de tecnologia ligada à utilização de energia solar térmica, sediada em Genebra (Suíça) com o seguinte endereço e telefone: +41 22 5349087 – 36 Place du Bourg-de-Four, 1204 Geneva, Switzerland. Na TVP Solar, Jorge Luiz Zelada é sócio de Raul Schmidt Felippe Junior”, afirma a força-tarefa da Lava Jato. No mesmo documento, o MPF registra que eles não são sócios na TVP Solar Brasil. ”Para fins de bloqueio, deve-se incluir os ativos financeiros das empresas em que o investigado é sócio e administrador, as quais, segundo as informações da Receita Federal”, requereu a Procuradoria. O pedido inclui a TVP Solar Brasil. “Raul Schmidt Fellipe também possuía ligação com a Samsung, estaleiro responsável pela construção dos navios-sonda Petrobrás 10000 (que segundo a auditoria da Petrobrás teve pelo menos U$ 11,9 milhões de superfaturamento) e Vitória 100000, cuja aquisição pela estatal foi objeto de denúncia pelo MPF”, registra a força-tarefa da Lava Jato em pedido de prisão de Zelada. Pelo menos US$ 3 milhões da Samsung passaram por uma conta aberta em nome da offshore Goodal Trade Inc, das Ilhas Virgens Britânicas, que segundo autoridades do Principado de Mônaco seria controlada por Raul Schmidt. “Na documentação enviada por Mônaco consta um contrato de comissionamento envolvendo a Samsung como contratante e duas empresas sediadas nas Ilhas Virgens Britânicas como contratadas, a Barvella Holding Corp. e a Goodal Trade Inc – esta última é uma offshore de propriedade de Raul Schmidt Fellipe, enquanto o proprietário da primeira ainda é ignorado”, informou o MPF ao juiz Sérgio Moro. Os contratos da Samsung com a Petrobrás foram assinados em 2006 e 2007, na gestão do ex-diretor de Internacional Nestor Cerveró, antecessor de Zelada. Eles previam a construção dos navios-sondas Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, ambos superfaturados. Cerveró e o lobista do PMDB Fernando Antonio Falcão Soares, o Fernando Baiano, são acusados de receberem US$ 30 milhões de propina em contratos de navios-sonda. Os dois foram presos pela Lava Jato.


A Procuradoria considera ter comprovado nesse caso o pagamento de US$ 30 milhões em propina a Cerveró e ao lobista Fernando Baiano, por meio do lobista Julio Gerin Camargo, delator da Lava Jato com elos com integrantes do PT. Camargo confessou ao juiz Sérgio Moro ter pago os US$ 30 milhões por intermédio de Fernando Baiano para Cerveró. O processo em que os três são réus por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa está em fase final, na Justiça Federal, em Curitiba. A força-tarefa da Lava Jato considera peculiar o papel de Raul Schmidt nesses negócios e está aprofundado a coleta de dados. O empresário, que vive na Suíça, é investigado como elo de Zelada na lavagem de dinheiro supostamente desviado por ele da Petrobrás em dois outros navios-sondas, que sucederam os fechados por Cerveró, com a Samsung. Zelada teria recebido propina nos contratos com a Pride International, de 2008, para construção do ENSCO DS-5, e com a Vantagem Deepwater Company, em 2009, para o Titanium Explorer. Nas buscas por dados desses contratos, a Lava Jato chegou a Raul Schmidt. O alvo foi gerente da Braspetro Oil Service, em Angola, e representante da norueguesa Sevan Marine, no Brasil. Documentos enviados por Mônaco revelam ainda a existência de um contrato de comissionamento de US$ 20 milhões, assinado e 18 de outubro de 2007, pela Pride Internacional – vencedora do contrato do ENSCO DS-5 – como origem dos US$ 3 milhões pagos ao suposto sócio de Zelada. O contrato “previa uma comissão de broker para a intermediação de um contrato de construção de navio-sonda com a Pride International, a qual negociava uma contratação pela Petrobrás”, registra a força-tarefa. A partir desse contrato é que autoridades de Mônaco identificaram o depósito de de US$ 3 milhões, no dia 15 de abril de 2011, da Samsung para a conta da Goodal, no Banco Luius Bär, no Principado de Mônico, que seria de Raul Schmidt.


“Há indicativos de que a parceria entre Raul Schmidt Fellipe e Jorge Luiz Zelada é utilizada para lavagem de dinheiro obtido ilicitamente por intermédio de contratos com a Petrobrás”, afirma a Procuradoria no pedido de prisão de Zelada. Além de ter relação direta com os desvios supostamente cometidos por Zelada, a Lava Jato quer saber qual foi o papel de Raul Schmidt na intermediação entre os dois primeiros contratos de navios-sondas da Samsung, assinados na gestão Cerveró, e os dois contratos feitos com Zelada, em especial o terceiro, de 2008, com a empresa Pride. 

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