terça-feira, 7 de julho de 2015

Golpista, Dilma, é tentar intimidar o TCU, o Congresso, a Justiça e a população

Eu vou lhes dizer a diferença entre quem entende e quem não entende a democracia. Maior do que o atraso econômico do Brasil, ainda é seu atraso institucional, tudo porque, no fim das contas, somos governados por um partido, de fato, obscurantista.

Vamos lá: em 1999, o então presidente dos EUA, Bill Clinton, sofreu um processo de impeachment, acusado de perjúrio, por ter negado, diante de um júri, que tivesse mantido relações impróprias com Monica Lewinski — ele explicou entender que sexo oral não era sexo… — e de obstrução da Justiça: seu governo teria tentando criar entraves para que se chegasse à verdade dos fatos. Placar da primeira acusação no Senado: 55 pela absolvição contra 45 pela condenação; da segunda: 50 para cada lado. Para cassar o presidente, eram necessários dois terços dos votos.
Não! Clinton não era acusado de ser ladrão. Seu partido não era acusado de comandar uma máquina criminosa. O presidente nem roubava nem deixava roubar. Ele só era um tantinho descontrolado da cintura para baixo. Não via problema em abrir o zíper da calça quando se fechava a porta do salão oval. E olhem que os EUA viviam uma era de ouro. Clinton é frequentemente listado entre os melhores e mais hábeis presidentes que teve o país. Ainda assim, por causa, digamos, de uma incontinência erótica, quase foi cassado. O processo teve rituais de humilhação. Veio a público o vestido que Mônica usava no dia, com restos do esperma presidencial.
Embora também alguns democratas tenham votado pelo impeachment, é evidente que foram os republicanos que comandaram o esforço para depor Clinton. Em nenhum momento, a imprensa americana escreveu a palavra “golpe”. Colunista que se aventurasse por aí seria desmoralizado. Entenda-se: os analistas políticos americanos têm, sim, suas preferências ideológicas e até partidárias, mas não se sabe da existência de penas de aluguel na grande imprensa — a não ser naquelas entidades que funcionam como órgãos explícitos de proselitismo partidário.
Clinton procurou se defender sem acusar conspiração nenhuma — embora, como é normal na democracia, a oposição republicana se esforçasse para extremar a fealdade de seus atos, e os democratas fizessem o contrário, acusando os adversários de exagerar por razões puramente políticas.
Imaginem se Clinton teria o topete de dar uma entrevista no tom daquela concedida por Dilma Rousseff à Folha, publicada nesta terça-feira. Com todas as letras, a mandatária acusou a oposição de golpista e desafiou: “Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso é moleza, isso é luta política. As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não estou. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha tentar.”
Tivesse Clinton, durante a sua defesa, se comportado desse modo, teria caído. Há desaforos que as instituições democráticas não aceitam. Ele estava sofrendo um processo de acordo com as regras da democracia que também o elegeram. Nesse regime, um governante não tem o direito de solapar o que lhe confere legitimidade.
Nesta terça-feira, o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, reagiu às declarações destrambelhadas de Dilma. Afirmou tratar-se de “uma estratégia planejada para inibir a ação das instituições e da imprensa brasileiras no momento em que pesam sobre a presidente da República e sobre seu partido denúncias da maior gravidade.” Para Aécio, golpista é discurso do PT. É evidente que concordo com ele, e eu mesmo já afirmei isso aqui. Qualquer seja o destino de Dilma, ele se dará dentro da lei.
Também nesta terça-feira, capitaneados por Michel Temer (PMDB), 11 partidos da base de apoio assinaram um manifesto em defesa do mandato de Dilma. Lá se pode ler: “Os líderes e dirigentes partidários abaixo-assinados manifestam o seu apoio à presidente e ao vice-presidente da República. E reafirmam seu profundo respeito à Constituição Federal e seu inarredável compromisso com a vontade popular expressa nas urnas e com a legalidade democrática".
Se Dilma cair em razão das pedaladas fiscais, será de acordo com a lei. Se Dilma em cair em razão da doação ilegal de uma empreiteira  à sua campanha, será igualmente de acordo com a lei.
Sim, a vontade nas urnas tem de ser respeitada. E o povo não disse, em nenhum momento, que tinha vontade de ser roubado, achacado e enganado.
A presidente pode ficar tranquila. Seu adversários não são como os petistas que dão tudo aos amigos, menos a lei, e que negam tudo aos inimigos, inclusive a lei.
Golpista, presidente, é tentar intimidar o TCU, o Congresso, a Justiça e, claro!, a população! Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário: