quarta-feira, 8 de julho de 2015

Dilma precisa saber que, no Brasil de hoje, só o choque entre ideias é legítimo. Não há mais nem VAR-Palmares nem Comando de Caça aos Comunistas. Acorda, Carolina!

Faço minhas as palavras do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre uma saída para a grave crise por que passa o país. Leio na Folha que, segundo Renan, tal saída tem de estar “dentro dos limites da Constituição”. Disse mais: “Não vamos silenciar jamais com qualquer saída fora desses limites”, acrescentando ser “importante” que a presidente participe do debate público.

Assino embaixo. Aliás, pergunto: quem defendeu uma saída extraconstitucional? Mesmo quem é favorável ao impedimento de Dilma, se não me engano —  e não me engano —, o faz de acordo com a Constituição e as leis. Quem quer golpe? Alguém está pedindo tanques nas ruas? Há alguém, além de alguns radicais de extrema esquerda, pregando luta armada?
Por que os prosélitos boquirrotos que falam em golpe não dizem, afinal de contas, onde está a ilegalidade do debate que está dado? Vejam que curioso: até agora, nenhum partido entrou com uma denúncia na Câmara dos Deputados; até agora, Rodrigo Janot é de uma comovente inação no que respeita a Dilma Rousseff. Acontece que eles querem criar um cordão sanitário em torno da possibilidade de Dilma deixar o cargo, ainda que venha a ficar claro que há razões por isso.
A entrevista de Dilma à Folha e a gritaria dos petistas obedece apenas à lógica da intimidação, está claro! Quando Dilma fala “Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha tentar”, está provocando quem? O Judiciário? E se o TSE decidir que seu diploma tem, sim, de ser cassado? Ela vai fazer o quê? Botar os tanques na rua ou convocar a luta armada? Vai ser um confronto entre letras da lei, presidente, ou entre a VAR-Palmares e o CCC (Comando de Caça aos Comunistas)? Considerando que CCC não há mais, felizmente, espero que a governanta tenha aposentando também o espírito VAR-Palmares…
Quem avaliou direitinho a reação da presidente foi o senador Romero Jucá (PMDB-RR), que entende de poder como ninguém — tanto é assim que ele nunca foi oposição. Aliás, num país de tantas incertezas, só uma coisa é certa: Jucá estará na base de apoio do próximo governo. É um político sem dúvida sagaz. E ele resumiu bem a coisa ao Globo: “A presidente Dilma deu uma de Collor, chamou a crise para si”.
Ele se referia ao momento em que, diante da crescente onda em favor do impeachment, Collor deu uma entrevista destrambelhada, batendo no peito como costumava, e convocou a população a sair de verde-amarelo na rua. No dia seguinte, a rua se tingiu de roupas pretas.
Até o senador petista Jorge Viana (AC) censurou a retórica de Dilma: “Não precisava ter gasto tanto tempo falando do PSDB. Deixa a gente (parlamentares) tratar dos golpistas. Isso é problema nosso”, afirmou. Viana, claro!, sabe que não existe golpe nenhum e que o papel da oposição, afinal, é se opor. Ocorre que ele não pode negar nem sua origem nem sua natureza.
Volto a Renan
Mas voltemos a Renan. A fala do senador deve ser entendida em sua plenitude. Vamos ver. Digamos que o TSE, depois de colher os depoimentos necessários — inclusive o de Ricardo Pessoa, que afirma ter doado ilegalmente à campanha da presidente R$ 7,5 milhões —, decida cassar a sua diplomação. E aí?
Aí Renan diria o óbvio, ora: “Não vamos silenciar jamais com qualquer saída fora dos limites constitucionais, e o TSE cassar a diplomação de Dilma é… constitucional”. Por Reinaldo Azevedo

Nenhum comentário: