quinta-feira, 2 de julho de 2015

Delegado e agente confirmam que Polícia Federal fez escuta ilegal na cela de Youssef


O delegado José Alberto de Freitas Iegas, ex-diretor de Inteligência da Polícia Federal, confirmou nesta quinta-feira, em depoimento à CPI da Petrobras, que agentes federais instalaram escuta ilegal na cela em que estavam o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. O depoimento do delegado ocorreu a portas fechadas, a pedido dele. Também prestou depoimento o agente Dalmey Fernando Werlang, apontado como o responsável pela instalação da escuta. Segundo dois deputados, o agente disse que instalou as escutas a pedido do superintendente da Polícia Federal, Rosalvo Ferreira Franco e dos delegados Márcio Anselmo e Igor Romário de Paula, que estão à frente da Lava-Jato. A escuta teria sido instalada depois da chegada de Youssef à cela e sem a devida autorização judicial. O deputado Aluisio Mendes (PSDC-MA) disse que não poderia falar sobre o conteúdo da conversa, mas, segundo ele, as revelações feitas pelo delegado são "gravíssimas". O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) criticou as declarações do delegado. Para ele, as informações de Iegas poderiam ser usadas por aqueles que querem implodir a Lava-Jato. Ele afirma, no entanto, que possíveis tentativas de contaminar a investigação não vão prosperar. "As informações da Lava-Jato vieram das delações, não de escutas", disse. Iegas teria dito ainda que a responsabilidade sobre escutas na Polícia Federal em Curitiba é dos chefes locais da instituição e não dele. No período das escutas, o delegado era o diretor de Inteligência da Polícia Federal. O agente Dalmey Fernando Werlang disse ainda que foram instaladas escutas ambientais também no fumódromo do prédio da Polícia Federal. O agente disse que fazia as escutas e depois entregava um pen drive com as gravações das conversas ao delegado Márcio Anselmo e a uma delegada. Ainda hoje a comissão deverá divulgar o conteúdo dos depoimentos. O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB) disse que escutas sem autorização judicial são graves. Para o deputado, os responsáveis devem ser punidos. Ele entende, no entanto, que o caso não compromete a Lava-Jato e que as investigações sobre as fraudes na Petrobras devem seguir seu curso normal. "Que procedimentos que não sejam legais e autorizados pela Justiça, se não aconteceram não venham mais acontecer, e quem fez isso e não tinha autorização da Justiça seja punido para que isso não seja uma praxe dentro das investigações futuras no nosso País", disse Motta. As escutas foram descobertas ano passado ao longo da Operação Lava-Jato. A primeira versão era de que a espionagem faria parte de uma disputa de poder entre Iegas e Rosalvo. O caso foi investigado numa sindicância da polícia. Com base na apuração, o juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, rejeitou pedido de Youssef, que queria medidas judiciais contra as escutas na cela dele. "Não há qualquer indício ou registro concreto de que o aparelho tenha sido utilizado na investigação presente para qualquer finalidade e não há nenhuma prova nos autos decorrente de qualquer escuta ambiental. Portanto, não existem, em princípio, providências a serem tomadas por ora", escreveu Moro em despacho de 22 de setembro. Os depoimentos do delegado e do agente começaram por volta das 10h30 e terminaram às 17 horas. O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) disse que, a partir de agora, pedirá a convocação dos delegados apontados como responsáveis pelas escutas clandestinas na sede da Polícia Federal. Com base nas informações de Iegas e Werlang, o deputado disse que os delegados Rosalvo Ferreira, Márcio Anselmo, Rosalvo Igor de Paula mentiram para Sérgio Moro. Eles teriam informado o juiz que a escuta da cela de Youssef era antiga e tinha como finalidade gravar conversas do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Durante o depoimento, Werlang disse que os equipamentos utilizados na escuta de Beira-Mar eram diferentes da escuta instalada na cela de Youssef. Ainda nesta quinta-feira a CPI deverá interrogar o empresário Auro Gorentzvaig. Em maio, um dispositivo de gravação telefônica teria sido descoberto na área reservada para fumantes no prédio da Superintendência em Curitiba. A denúncia foi feita por dois delegados federais, Rivaldo Venâncio e Reginaldo Gallan.

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