quarta-feira, 22 de julho de 2015

CPI do BNDES coloca governo em pânico


O governo avalia que a CPI anunciada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para investigar contratos do BNDES pode paralisar a instituição e causar sérios prejuízos à economia. O receio do Planalto é que o impacto da comissão sobre a atividade econômica seja ainda pior do que o provocado pela CPI da Petrobrás, aumentando a temperatura da crise política. A avaliação foi feita ontem em reunião da presidente Dilma Rousseff com ministros da coordenação política do governo. Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma dizem pouco poder fazer para impedir a CPI, mas acreditam que até mesmo empresários vão atuar para esvaziá-la. A equipe econômica estuda abrir uma linha de capital de giro, financiada pelo BNDES, para socorrer empresas em dificuldades financeiras após a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, com o objetivo de evitar quebradeiras e demissões em massa. Ministros dizem, porém, que nada disso será levado adiante se a CPI vingar. Rompido com o governo desde que o lobista Júlio Camargo o acusou de ter cobrado propina de US$ 5 milhões, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Eduardo Cunha quer pôr o PMDB na presidência e até mesmo na relatoria da CPI do BNDES, o que preocupa o Planalto. Além disso, o Senado ameaça abrir uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o mesmo assunto, criando nova fonte de problemas para Dilma.  Para piorar o quadro, o governo sabe que o grupo de Eduardo Cunha e a oposição vão tentar constranger o ex-presidente Lula X9 na CPI e temem que a crise bata com mais força à porta do Planalto. Na semana passada, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu investigação contra Lula, acusando-o de tráfico de influência internacional e no Brasil. A suspeita levantada pelo Ministério Público é a de que Lula tenha usado o seu poder para facilitar obras da empreiteira Odebrecht em países da África e da América Latina, com financiamento do BNDES. “Não há possibilidade de ingerência política no BNDES”, disse Luciano Coutinho, presidente do banco: “Os processos de governança do BNDES são extremamente rigorosos. Temos plena convicção da nossa capacidade de esclarecer e demonstrar a contribuição do BNDES para o desenvolvimento". Também diziam a mesma coisa a respeito da Petrobras. A estratégia do governo é tentar pacificar a relação com Câmara e Senado durante o recesso, liberando emendas parlamentares e acertando nomeações de segundo e terceiro escalões. Embora na reunião de ontem a avaliação tenha sido a de que Eduardo Cunha “extrapolou e passou dos limites”, a ordem é isolar o presidente da Câmara, e não atacá-lo. “Eu quero ver isso como uma questão de momento em que ele (Cunha) se sentiu injustiçado”, afirmou o ministro da Justiça, o "porquinho" petista José Eduardo Cardozo: “Espero que essas iniciativas não se traduzam na busca de desestabilização das relações políticas e do próprio quadro institucional. Não creio que ele faria isso". Por ordem de Dilma, ministros também tentarão se reaproximar do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Em pronunciamento na TV Senado, na sexta-feira, Renan elogiou Eduardo Cunha e chamou de “tacanhas e ineficientes” as medidas propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Disse, ainda, que ajuste fiscal sem crescimento econômico é como “cachorro correndo atrás do rabo”, porque não sai do lugar. “O senador Renan é aliado, é integrante do PMDB e os aliados não estão proibidos de fazer críticas”, amenizou o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, que está perdendo a sua magia no PMDB.

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