terça-feira, 23 de junho de 2015

Senadores do PT ignoram Dilma em nota de solidariedade a Lula

Sem mencionar Dilma Rousseff, a bancada de senadores do PT divulgou nesta terça-feira (22) nota em solidariedade ao ex-presidente Lula X9, que nos últimos dias disparou críticas à presidente e ao partido. Os senadores afirmam, na nota, que Lula é vítima de uma "sórdida campanha" que tem como objetivo "deslegitimar" a sua liderança, baseada no "ódio espesso dos ressentidos" – sem citar quais seriam os seus adversários. A bancada também diz que alguns têm "medo" de serem derrotados pelo ex-presidente nas eleições de 2018, por isso tomam atitudes "pouco republicanas e francamente antidemocráticas". A nota não faz menção às críticas de Lula ao PT e a Dilma, tampouco cita o nome da presidente ou faz qualquer elogio ao governo. Os senadores concentram o texto em sucessivas frases de apoio a Lula, a quem comparam a Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart –ex-presidentes que, segundo os petistas, foram vítimas de ataques políticos. "Tentam transformar suas virtudes em vícios e suas ações pelo Brasil em crimes. Insinuam de forma leviana, acusam sem provas, distorcem, mentem e insultam. No vale-tudo contra Lula, vale até mesmo usar o recurso torpe de expor seu defeito físico, o que revela incurável defeito de caráter. Falta, sobretudo, respeito ao presidente mais bem avaliado da história do Brasil", diz o texto publicado no site da bancada do PT no Senado. Os senadores também não citam a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, mas afirmam que os adversários do ex-presidente usam "cínica e seletivamente" a luta contra a corrupção para "tentar destruir um projeto nacional e popular que elevou o Brasil e seu povo". "A bancada do PT no Senado manifesta sua total e irrestrita solidariedade ao grande presidente Lula, vítima de campanha pequena e sórdida de desconstrução de uma imagem que representa o que o Brasil tem de melhor: sua gente", diz a nota. Segundo os petistas, o ex-presidente está acima da "mesquinhez eleitoreira" e não será "apequenado" por movimentos que se motivam pelo "ódio". "Lula é tão grande quanto o Brasil que ele ajudou tanto a construir. Lula carrega em si a solidariedade, a generosidade e a beleza do povo brasileiro. Para esse povo e por esse povo, Lula fez, faz e fará história", afirmam os senadores do PT. A nota foi divulgada um dia depois de Lula pregar uma "revolução" no PT e afirmar que a sigla tem os vícios de todo partido que cresce e chega ao poder. Lula disse ainda que os correligionários "só pensam em cargo, em emprego, em ser eleito", em referência a cargos no governo federal e disputas eleitorais. Na semana passada, o ex-presidente disse em evento com religiosos que a presidente Dilma está no "volume morto" e que o PT está "abaixo dele". Nesta terça, Dilma afirmou que "todos têm direito de criticar, principalmente Lula". Aliados do petista atribuem as críticas e reclamações dirigidas a Dilma como uma reação à tentativa do governo de se descolar das acusações de corrupção que resvalam no ex-presidente na Operação Lava Jato. As críticas de Lula seriam uma resposta do ex-presidente à estratégia do Palácio do Planalto de se descolar das denúncias de corrupção, enfocando as irregularidades na sua gestão. A nota dos senadores do PT seria, desta forma, uma maneira de reforçar a tese do ex-presidente, demonstrando que a bancada apóia as críticas de Lula – já que em nenhum momento menciona, ou faz a defesa, da presidente Dilma. O texto foi elaborado por alguns senadores do PT, com o aval do líder da bancada, Humberto Costa (PE), que está fora de Brasília. O vice-presidente do PT, deputado José Guimarães (CE), afirmou que as críticas de Lula ao próprio partido são pertinentes apenas em um contexto interno da legenda. Para ele, as eleições municipais do ano que vem mostrarão que a sigla ainda se sairá bem. "Lula tem todo o direito de criticar o que ele quiser. Eu só posso dizer que a perspectiva do PT no Nordeste é muito boa. Quem fica apregoando que o PT está no fundo do poço ou está no volume morto ou coisa que o valha, vamos esperar as eleições. Eu já vi tantas projeções feitas e não realizadas", afirmou Guimarães, que também é líder do governo na Câmara. Uma ala do governo Dilma Rousseff e também peemedebistas avaliam que o ex-presidente, com suas últimas críticas direcionadas à petista, ensaia um descolamento de sua criatura para tentar sobreviver politicamente até 2018, data da próxima eleição presidencial. "Ele é um ser humano como qualquer outro. Nossa preocupação agora é retomar o crescimento da economia brasileira. Quem ganha eleição é economia, é bolso, não é nada de outra coisa. Se a economia retoma seu processo de crescimento em 2016 eu não tenho a menor dúvida de que nós vamos sair bem", minimizou Guimarães. Questionado se considerava as críticas pertinentes neste momento, o líder do governo na Câmara respondeu que, no momento, elas podem ser consideradas internamente. "Eu acho que no momento são críticas internas e não públicas", disse. O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), afirmou que as críticas de Lula ao PT servem apenas para desviar a atenção da população. "Esse discurso eu estou ouvindo há muito tempo. Depois que ele conseguiu um triplex no litoral paulista com a Odebrecht e o Vaccari (ex-tesoureiro do PT, preso pela Operação Lava Jato) pela cooperativa dos bancários, temos certeza absoluta que ele arrumou a vida dele, e agora cobra dos outros do PT que são todos crias do próprio Lula", disse. Já para o vice-líder do PSDB, deputado Nilson Leitão (MT), Lula se comporta mais como lobista do que como ex-presidente da República. "O PT é o próprio presidente. Se o Lula mudasse de nome, ele se chamaria PT. Agora, deu pt (perda total) no Lula, esse que é problema", ironizou. Segundo Leitão, a oposição se reunirá com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), nesta quarta-feira (24) para pedir que ele coloque em pauta a votação das contas de governos passados que ainda não foram analisadas pelo Congresso. O Congresso não analisa as contas da Presidência desde 2002, ignorando as recomendações do Tribunal de Contas da União sobre irregularidades nos gastos públicos nos últimos 13 anos. "O Brasil hoje está vivendo uma crise moral, ética e econômica e não é uma crise internacional e nem setorial. É uma crise criada pelo próprio governo com mentiras pregadas. Um governo que navega falando inverdades, prometendo o que não vai cumprir e leva o País para onde levou, tem que ter um pouco mais de seriedade", afirmou Leitão.

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