terça-feira, 23 de junho de 2015

Polícia Federal quer investigar Instituto Lula


Esclarecer a relação entre a Odebrecht e o ex-presidente Lula X9 (ele delatava companheiros para o Dops paulista durante a ditadura militar, conforme Romeu Tuma Jr, em seu livro "Assassinato de reputações") está entre as prioridades dos delegados da força-tarefa da Operação Lava-Jato. Desde que deixou o Palácio do Planalto, ao término do seu mandato em dezembro de 2010, o chefe petista viajou pelo mundo em jatos cedidos pela empreiteira. Lula ajudou a construtora a obter contratos milionários em outros países e virou uma espécie de embaixador dos interesses da empresa. O instituto também recebeu doações em dinheiro da Odebrecht. Os delegados da Polícia Federal esperam compreender melhor o relacionamento a partir dos depoimentos de Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira, preso na última sexta-feira na 14ª fase da Lava-Jato. Ele está detido em Curitiba, na carceragem da superintendência da Polícia Federal. "É uma expectativa que todos temos. Esperamos que ele (Marcelo) possa esclarecer porque pagou ao Instituto Lula. E quem acertou o valor? São perguntas que precisam ser esclarecidas. Acreditamos que dificilmente um ex-presidente negociaria pessoalmente com um executivo sobre pagamentos", afirma o delegado Luciano Flores de Lima, integrante da força-tarefa. Presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto disse nesta segunda-feira, em evento promovido pela entidade, que o dinheiro doado pela Odebrecht é da "origem mais lícita". Okamotto reiterou que o procedimento existe em vários países do mundo, sem citar o instituto do tucano Fernando Henrique Cardoso. O executivo disse que pediu dinheiro às melhores empresas de todos os setores, entre as quais a Odebrecht. Lima, lotado em Santa Cruz do Sul e cedido à Lava-Jato, refuta qualquer possibilidade de a prisão do presidente da maior empreiteira do País estar relacionada com a intenção de obter informações sobre a atuação de Lula. "Não prendemos ninguém por achar que poderá nos levar até determinada autoridade, não somos imbuídos pela expectativa de que alguém vai falar sobre determinado político. Isso não existe", ressalta Lima. O dia foi movimentado ontem na superintendência da Polícia Federal. Uma acareação entre o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, se estendeu por quase nove horas. Os dois são delatores do esquema de corrupção na estatal do petróleo. Às 15 horas desta segunda-feira começaram os depoimentos de parte dos detidos na última sexta-feira, na 14ª fase da Lava-Jato, focada na apuração da suspeita de pagamento de propina e formação de cartel pelas empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez, em conluio com outras gigantes do setor, na obtenção de contratos com a Petrobras. O primeiro a depor foi o executivo Alexandrino de Alencar, da Odebrecht, que era representante dos interesses da empreiteira em negociações. Ele tinha trânsito no Rio Grande do Sul, onde era diretor do sistema Ciergs/Fiergs e da Federasul. Sempre era ciceroneado pelo publicitário Alfredo Fedrizzi, um dos donos da agência de publicidade Escala, dona da poderosa conta do Banrisul, um queridinho do PT, para o qual fez as últimas campanhas eleitorais. Alexandrino Alencar também foi executivo da Braskem, braço petroquímico da Odebrecht, que conta com unidades industriais em Triunfo e escritório administrativo em Porto Alegre. Conforme os delatores do esquema disseram à Polícia Federal, Alexandrino Alencar participaria de reuniões do cartel de empreiteiras como representante da construtora e organizaria o pagamento de propina da empresa, via transferências em contas secretas no Exterior, aos ex-diretores da Petrobras. Nos bastidores da Lava-Jato, chamou atenção a tranquilidade de Alexandrino durante a prisão. Ele permaneceu algemado no avião desde o Rio de Janeiro até Curitiba. Antes do embarque, passou por minuciosa revista, que incluiu ficar completamente nu, com verificações íntimas. Apesar do constrangimento, veio ao lado de um delegado na aeronave conversando, relatando experiências de vida e negando envolvimento em irregularidades. Nesta segunda-feira à tarde, cinco pessoas portando cartazes de protesto estavam em frente à Polícia Federal em Curitiba. Um dos escritos dizia: "Marcelo, seja sincero ou será Marcos Valério". Outro complementava: "Coragem, rapaz, deixa o Lula para trás. #FalaMarcelo". As manifestações se referiam ao presidente da Odebrecht, que poderia incriminar o Lula X9. Especulada há meses, a investigação sobre financiamentos obtidos por empreiteiras envolvidas no escândalo da Petrobras no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tomará forma no decorrer desta semana. O delegado Eduardo Mauat da Silva, responsável pelos inquéritos da 14ª fase da Lava-Jato, levará ao juiz federal Sergio Moro uma "representação apartada", que permitirá a abertura de um inquérito exclusivamente para a investigação desses fatos. Na semana passada, no despacho em que autorizou 12 prisões, o magistrado considerou o pedido de investigação dos contratos com o banco "pertinente", mas determinou que o processo corresse em separado. Inicialmente, o requerimento de Mauat será focado na retirada do sigilo sobre os contratos de financiamento para a realização de obras internacionais pelas construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez. Das empreiteiras de grande porte do Brasil, a Odebrecht é uma das que mais executou empreendimentos fora do País. "Quanto foi emprestado? Qual a taxa de juro? E o retorno ao banco?" — comentou o delegado sobre as dúvidas que planeja esclarecer. Na 14ª fase da Lava-Jato, 12 pessoas foram presas, a maioria altos executivos ligados às construtoras Odebrecht e Andrade Gutierrez. Moro acatou as argumentações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. O entendimento é de que provas documentais indicam a participação dos dirigentes das empresas nos supostos crimes. Em um e-mail, o assunto é a colocação de "sobrepreço" na operação de sondas para a Petrobras.

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