quinta-feira, 25 de junho de 2015

Pimentel no olho do furacão. Ou: Se governador acha que é conspiração, que diga os nomes dos conspiradores e represente contra a Polícia Pederal, ora!

O Brasil está virando o reino do bate-boca estéril e da conversa mole. O quiproquó da hora envolve o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, do PT, e a Polícia Federal. Já explico por que digo isso.

Nesta quinta-feira, a Polícia Federal deu início à segunda fase da Operação Acrônimo. Com um mandado de busca e apreensão autorizado pela Justiça, foram alvos da ação escritórios da agência Pepper, que presta serviços ao PT, e um imóvel que foi alugado para a campanha de Pimentel ao governo do Estado. A Acrônimo apura se o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o Bené, coordenava o caixa dois da campanha do petista.
Pimentel e Bené, que já chegou a ser preso e está indiciado por formação de quadrilha, são amigos pessoais. O empresário, dono da Gráfica Brasil, fez fortuna na última década, no mandarinato petista. Entre 2005 e 2014, manteve contratos com o governo federal que somam R$ 525 milhões. Ele e o governador já apareceram juntos em outro caso cabeludo.
A Polícia Federal encontrou indícios, informa a Folha, de que a campanha do PT ao governo ocultou pagamentos feitos à gráfica de Bené. “Subfaturamento ou doação ‘in natura’ não declarada teriam por objetivo minorar gastos da Gráfica Brasil com a campanha, bem como possibilitar que os gastos do candidato não atingissem o limite estipulado no início da campanha”, sustenta a Polícia Federal.
Os policiais também tentaram um mandado de busca e apreensão na residência oficial do governador e na sede do partido em Minas, mas o pedido foi negado pela Justiça. Documentos obtidos pela VEJA indicam que a Polícia Federal aponta Carolina Oliveira, mulher de Pimentel, como dona de uma empresa fantasma utilizada pela organização criminosa.
O STJ tem na gaveta um pedido da Polícia Federal para a abertura de inquérito que investigue o governador por “lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores”. Na primeira fase da operação, como já informou VEJA, “investigações indicaram que Bené montou uma ampla rede criminosa envolvendo empresas-fantasma para financiar as campanhas petistas, incluindo a do governador Pimentel. Basicamente, ele superfaturava contratos com o governo federal e repassava parte do que arrecadava aos partidos através de doações legais, como no petrolão, ou clandestinas, através das empresas-fantasma. Na operação policial que prendeu o empresário, a polícia realizou buscas no apartamento onde Carolina morava antes de se mudar para Belo Horizonte.
Reação
O governo de Minas Gerais emitiu uma nota dura. Leiam a íntegra. Volto em seguida.
“A operação de busca e apreensão pretendida contra o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, e a realizada na manhã desta quinta-feira, 25 de junho, no seu antigo escritório particular, em Belo Horizonte, é a extensão da arbitrariedade cometida anteriormente, quando os policiais estiveram no apartamento de sua esposa, em Brasília.
Com base somente em ilações e deduções fantasiosas, essa investigação prossegue eivada de irregularidades, tanto que os pedidos para a realização de busca e apreensão nas sedes do governo de Minas Gerais, na residência oficial e na residência particular do governador, e ainda em relação a sua esposa, foram negados pelo ministro Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça, por considerá-los desarrazoados.
É importante ressaltar que o órgão competente negou à Polícia Federal o prosseguimento de atos sem base legal e sem fundamentação em fatos que os justificassem. Embora oportunamente impedida, esse tipo de arbitrariedade merece o repúdio da sociedade civil. O governador e sua esposa reafirmam sua confiança na Justiça e colocam-se, como sempre estiveram, à disposição das autoridades para qualquer esclarecimento, o que torna desnecessária e abusiva a reiterada tentativa de utilizar esse tipo de medida policial.
Todas as providências necessárias para assegurar o respeito ao direito individual, à legalidade e à autonomia federativa serão tomados para coibir o abuso e a arbitrariedade na condução do inquérito policial. Resistiremos a qualquer tentativa de impor a Minas Gerais constrangimentos indevidos e antirrepublicanos.”
Retomo
Não espero que Pimentel esteja feliz com a investigação. Vale para ele o que vale para todos: até que a Justiça não diga que é culpado, é inocente. Mas vamos devagar. Não é Minas Gerais que está sendo investigada. É Bené quem está no centro do imbróglio, em conjunção com a campanha do PT ao governo.
A nota sugere uma espécie de conspiração contra as pessoas relacionadas à investigação — e até contra o Estado. Ora, se é assim, que se deixe de lado a firula retórica e que se recorra aos órgãos competentes para coibir o que se considera abuso. Mas aí cabe a pergunta: nesse caso, há abuso?
Que Pimentel seja íntimo do enrolado Bené, ah, isso é fato. A dupla viajou, em companhia das respectivas mulheres, em jatinho privado para Punta Del Este, no Uruguai. Acompanhava os casais o deputado federal Gabriel Guimarães (PT-MG), filho do ex-deputado Virgílio Guimarães, o homem que apresentou Marcos Valério ao PT. Na primeira fase da Operação Acrônimo, uma casa de Virgílio também foi alvo de um mandato de busca e apreensão. A Polícia Federal investiga, inclusive, se ele não é um sócio oculto de Bené.
Como reza a poética mineira, parece que aquelas montanhas andam a guardar segredos. E, desta feita, bem pouco inspiradores.
Para encerrar
Em 2010, Pimentel comandava o comitê de pré-campanha de Dilma. VEJA revelou que uma operação havia sido montada para fabricar um falso dossiê contra o tucano José Serra. Coisa típica de banditismo político. Quem pagava o aluguel da casa alugada pela turma? Bené. Por Reinaldo Azevedo

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