segunda-feira, 29 de junho de 2015

Delator diz que procurou Vaccarezza para não incluir obra em 'lista suja'


Em depoimento de delação premiada, o empresário Ricardo Pessoa, da UTC, relatou que procurou o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) para pedir que uma obra fosse excluída de uma "lista suja" feita pela Câmara dos Deputados, em 2010. Na época, Vaccarezza era líder do governo do presidente Lula (PT), e tinha, segundo o empreiteiro, poder de influência na Câmara. O rol de obras com indícios de irregularidades, feito pelo COI (Comitê de Obras com Irregularidades), impede o repasse de recursos do governo federal a esses projetos. Quem envia a lista para os deputados é o TCU (Tribunal de Contas da União). Os parlamentares analisam os pedidos, mantendo ou excluindo as obras. O contrato de interesse de Pessoa era a ampliação e modernização da Repar (Refinaria Getúlio Vargas), no Paraná – uma obra bilionária, orçada em US$ 5,4 bilhões. A UTC fazia parte do consórcio contratado pela Petrobras, junto com Odebrecht e OAS, também investigadas na Operação Lava Jato. O TCU apontou que havia deficiências no projeto básico, além de restrições de competitividade na licitação, sobrepreço e orçamento incompleto ou desatualizado. Pessoa relatou às autoridades da Lava Jato que a inclusão da obra no relatório do COI traria um enorme prejuízo à empreiteira e que, por isso, pediu a Vaccarezza que ele interferisse para impedir essa situação. No final do ano, a obra da Repar foi excluída do relatório aprovado pela Câmara. O empreiteiro diz não saber se a atuação do parlamentar foi fundamental para que isso ocorresse. Também afirmou que o ex-deputado nunca lhe sugeriu que pudesse fazer algo nesse sentido. Ainda naquele ano, porém, Vaccarezza procurou Pessoa pedindo doações à sua campanha eleitoral. A UTC deu R$ 200 mil em 2010, e outros R$ 150 mil em 2014, tudo em doações oficiais.


O acordo de colaboração de Pessoa foi homologado na quinta-feira (25) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, que considerou que ele atendeu aos requisitos legais. O empresário poderá obter redução de penas na Justiça caso as informações prestadas por ele sejam confirmadas por outras provas. Entre os episódios relatados à Justiça, Pessoa contou um em que foi "logrado" por um deputado: o pernambucano Eduardo da Fonte (PP). O empreiteiro disse que o parlamentar ofereceu a ele participação em uma obra da área de Abastecimento da Petrobras –na época, controlada pelo diretor Paulo Roberto Costa, indicado pelo PP. Em troca, Pessoa teria que pagar R$ 300 mil. O acordo foi feito: a UTC depositou R$ 200 mil em doações oficiais a Fonte, em 2010, e outros R$ 100 mil foram entregues em dinheiro vivo, por fora. A obra, porém, nunca saiu. Era uma fábrica de coque da Coquepar (Companhia de Coque Calcinado de Petróleo), da qual a Petrobras é sócia. O coque é matéria-prima para a indústria de alumínio. A UTC chegou a fazer um projeto e estudos para a fábrica, a ser instalada no Paraná, mas sequer houve licitação. O projeto até hoje não foi aprovado pelos acionistas da empresa. Vaccarezza nega que tenha se encontrado com o empreiteiro para tratar da exclusão da obra do COI. 

Nenhum comentário: