quarta-feira, 24 de junho de 2015

"Carregador de malas" do doleiro Youssef revela números de contas e recibos da propina



A Polícia Federal anexou nos autos da Operação Erga Omnes – 14ª fase da Lava Jato – uma delação premiada de Rafael Angulo Lopes, o carregador de malas de dinheiro de Alberto Youssef, em que ele detalhou como o doleiro entregava dados de contas e recebia os comprovantes de depósitos no Exterior feitos pela empreiteira Odebrecht e pela petroquímica Braskem (controlada pelo grupo) via ex-executivo Alexandrino Salles de Alencar: “Em relação a estas transferências de valores no Exterior, Youssef levava número de contas situadas no Exterior para Alexandrino e este último providenciava o depósito dos valores nas contas indicadas”. Com certeza, era um acerto de contrato de propina e de transferências de dinheiro no Exterior”, afirmou Lopes, que entregou documentos que seriam prova desses repasses. Alexandrino Alencar está preso, agora preventivamente, desde sexta-feira, 19. O delator apresentou “alguns destes comprovantes para juntada”. ”Entregou pessoalmente tais números de contas para Alexandrino, na própria Braskem. Após a transferência dos valores no exterior, também ia buscar os comprovantes das transferências internacionais (swifts)”, explicou. É a primeira vez que o termo de delação de Rafael Ângulo Lopes – que foram fechados no âmbito dos processos que correm no Supremo Tribunal Federal (STF) vem a público na íntegra. “Era Alexandrino quem entregava pessoalmente estes swifts”, afirmou o carregador de malas de Youssef. “Em geral era a própria Braskem que fazia trais transferências internacionais, pois isto consta de alguns dos swifts”, detalhou. Esses comprovantes eram retirados na Braskem e depois entregues ao doleiro. O delator diz ter levado “pessoalmente” número de contas “no Exterior para Alexandrino, que era conhecido entre eles como “Barba”. O delator detalhou que os números das contas controladas por Youssef eram levadas anotadas ou cópias de email, em folhas de sulfite, colocadas dentro de envelopes. O delator afirmou que ia “ao menos uma vez por mês ou a cada duas vezes no mínimo” na Braskem e na Odebrecht. Citou pelos menos de 10 a 15 vezes (visitas) que fez nas empresas, concentradas entre os anos de 2010 e 2011. O delator afirma que lembra que a partir de 2011 chegou a ir até a Odebrecht, onde Alexandrino agora se encontrava profissionalmente, e onde continuou a entregar documentos de depósitos no Exterior, com uma diferença. Destas vezes, a empreiteira não aparecia identificada nos depósitos. “Quando foi buscar swifts na Odebrecht pôde verificar que quem fazia a remessa era alguma pessoa que operava para Alexandrino”, explicou. “A Odebrecht não aparecia nos switfs.” O delator não soube identificar quem seria esse operador, mas concluiu ser alguém que trabalhava na Braskem e posteriormente na Odebrecht. “Alexandrino fazia a ligação interna e a pessoa aparecia em pouco tempo, por volta de cinco minutos”, explicou. “Por vezes Alexandrino chamava uma pessoa na frente do declarante, e dizia para ‘providenciar isto’, ou seja, realizar a transferência internacional". O carregador de malas disse ter levado documentos enquanto Youssef estava com Alexandrino em encontros em São Paulo. O delator disse saber da relação que eles ser encontravam pois o doleiro pedia que ele fizesse entregas de documentos “na Braskem , enquanto Youssef se encontrava naquele local”. “Em 2007 ou 2008 Alberto Youssef se reunia com bastante frequência com Alexandrino em restaurantes perto do escritório da Pedroso Alvarenga”, contou Lopes. “Alexandrino era conhecido entre o declarante e Youssef como ‘Barba’”, registra o termo. Lopes diz não saber o que discutiam o doleiro e o então executivo da Odebrecht, mas diz ter certeza que eram acertos de propina e transferências de dinheiro para o Exterior.

O doleiro Alberto Youssef, também delator da Lava Jato, afirmou à Justiça Federal que operacionalizou pagamentos de propinas para a Odebrecht, tendo mantido contato com os executivos Márcio Faria e Cesar Rocha. Nesse caso, o caminho percorrido pelos investigadores da Lava Jato segue outro destino: Hong Kong. São contas de titularidade das offshores RFY e DGX, nos bancos Standart Chartered e HSBC, em Hong Kong, controladas pelo doleiro Leonardo Meirelles. Alexandrino, enquanto diretor da Odebrecht, portanto sob as ordens de seu presidente, Marcelo Bahia Odebrecht, reunia-se com Alberto Youssef e José Janene para negociar pagamento de propina dirigida a grupo político que se beneficiava dos contratos firmados com a Petrobrás”, completa a Procuradoria. Um dos elementos destacados pelo Ministério Público Federal no parecer são as mensagens trocadas entre o doleiro Alberto Youssef e Alexandrino. Ex-vice-presidente de relações Institucionais da Braskem entre 2002 (quando ela foi fundada) e 2007 e depois diretor da área na Odebrecht, dona da petroquímica, o executivo seria o “interlocutor de Youssef perante a Odebrecht para negociação de favores, ou propinas, destinadas a José Janene e seu grupo”. O ex-parlamentar, morto em 2010, é a origem das investigações da Lava Jato, a partir das apurações iniciadas em 2006 sobre a lavanderia de dinheiro usada por ele para “esquentar” os recursos recebidos no escândalo do mensalão. Ex-líder do PP, era ele quem dava as ordens da cota do partido no esquema de corrupção na Petrobrás, que era comandado ainda pelo PT e PMDB. “Constitui-se Alexandrino em importante elo do esquema criminoso, de integrante da organização criminosa ligado à Odebrecht e que efetuava diretamente as transferências de valores no Exterior, nas contas indicadas por Youssef e por Paulo Roberto Costa, posteriormente entregando os comprovantes”, registra a força-tarefa. 

Nenhum comentário: