terça-feira, 5 de maio de 2015

Lava-Jato: depósito milionário termina com sociedade de advogados em Brasília

Muito conhecidos em Brasília, os advogados Eduardo Ferrão e Paulo Baeta Neves romperam uma sólida sociedade financeira depois de se desentenderem por causa de um depósito milionário recebido pelo escritório que mantinham numa casa no Lago Sul, na capital federal. Em setembro de 2008, Ferrão identificou o depósito de R$ 5,7 milhões na conta do escritório. De acordo com delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, poderia ser propina relacionada a um acordo entre a Petrobras e o Sindicato dos Práticos. O dinheiro teria como origem a entidade que representa os profissionais de orientação naval, e um dos destinatários seria o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE). Ele é um dos investigados pelo Ministério Público em inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal para avaliar suspeitas de ligação com o escândalo da Petrobras. Em um dos depoimentos, Paulo Roberto Costa, um dos responsáveis pelo acordo com os práticos, apontou Aníbal como representante do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), naquela e em outras negociações na estatal. Paulo Roberto Costa disse que receberia R$ 800 mil se ajudasse na correção da tabela dos práticos e que as cifras dos demais seriam ainda maiores. O pagamento seria feito por meio do escritório de advocacia, que trabalhava para o sindicato. Ferrão e Baeta se desentenderam quando os práticos já comemoravam o acordo de R$ 40 milhões com a Petrobras. Em 23 de setembro de 2008, Ferrão cobrou explicações do sócio e do contador sobre o depósito de R$ 5,7 milhões e logo depois descobriu que a transação tinha como origem o acordo do Sindicato dos Práticos. O negócio teria sido conduzido por Baeta e o também advogado Paulo Ornelas com a ajuda de Aníbal. Com receio de ser arrastado para o centro de um escândalo, Ferrão exigiu que o sócio retirasse imediatamente o dinheiro da conta dele. Dois dias depois, em 25 de setembro de 2008, os R$ 5,7 milhões foram transferidos para uma conta de Baeta. Nos dois meses seguintes, os dois concluíram a separação do escritório e não voltaram mais a falar sobre o assunto. O caso só reapareceu nos depoimentos da delação premiada de Costa e do doleiro Alberto Youssef. Num dos interrogatórios, ao explicar como passou a receber apoio político do grupo de Renan em troca de dinheiro, Paulo Roberto Costa falou sobre a propina vinculada ao acordo dos práticos. O ex-diretor disse que, numa das conversas reservadas que manteve com Aníbal, o deputado combinou de repassar a ele, por intermédio do escritório de advocacia, R$ 800 mil como recompensa pelo acordo. O ex-diretor disse, no entanto, que o deputado “passou a perna” nele e, depois do acordo, ignorou a dívida. Paulo Roberto Costa não soube dizer qual o percentual que seria destinado ao grupo político representado por Aníbal. Ferrão disse que desfez a sociedade com Baeta e que nada tem a ver com as operações financeiras relacionadas ao Sindicato dos Práticos. Aníbal Gomes confirmou o lobby em favor do acordo, mas negou que tenha recebido dinheiro ou prometido propina para Paulo Roberto Costa. Ele diz que apenas apresentou Baeta ao ex-diretor da Petrobras e mencionou o interesse dos práticos no acordo. 

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