terça-feira, 19 de maio de 2015

Empresário-delator do Petrolão explica na Justiça Federal porque pagou propina após demissão dos diretores da Petrobras


O ex-vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Hermelino Leite, afastado do cargo porque foi preso pela Operação Lava Jato, declarou à Justiça Federal que pagou propina e foi cobrado pelos ex-diretores da Petrobrás, Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços) – indicados do PP e do PT, respectivamente – mesmo depois que eles deixaram os cargos na estatal petrolífera. “Isso (pagamentos) era uma dívida referente a um acordo que havia sido firmado, as pessoas vieram cobrar essa dívida. A gente não tinha certeza que a saída dele (Paulo Roberto Costa) representava o fim do apadrinhamento dentro da Diretoria (Abastecimento). Então, o fato de não acertar a dívida, isso pode te gerar um problema. A gente estava navegando em um mar que a gente não sabia qual era a influência do que ia ocorrer”, afirmou. 


Eduardo Leite foi preso pela Lava Jato em 14 de novembro de 2014, quando a Polícia Federal deflagrou A Operação Juízo Final, fase da Lava Jato que mirou exclusivamente o cartel de empreiteiras que se instalou na Petrobrás. Para se livrar da cadeia, Leite fez delação premiada com a força tarefa da Lava Jato no Paraná. Em depoimento à Justiça Federal nesta segunda feira, 18, Eduardo Leite afirmou que foram pagos valores a Costa, referente a propina devida ao PP, após sua saída da estatal, em 2012, mediante contrato de consultoria fechado com a empresa de consultoria aberta pelo ex-diretor, a Costa Global. O executivo disse ainda que Renato Duque, braço do PT no esquema e preso desde fevereiro de 2015, chegou a encaminhar por e-mail um contrato de sua empresa D3TM, aberta após ele deixar a estatal, para que fosse pago o restante da propina devida na área de Serviços. “Posteriormente, ele (Duque) me encaminhou um e-mail com a apresentação da empresa de consultoria dele para celebrar um contrato assim como a do Paulo (Roberto Costa)”, afirmou Leite. O empresário-delator disse já ter identificado o e-mail e garantiu que vai apresenta-lo à Justiça Federal como prova do que diz. “É um e-mail em que ele (Duque) me encaminha o contrato social da empresa na qual ele havia me pedido pessoalmente para que a gente efetuasse o pagamento dos atrasados, depois que ele saiu da Petrobrás”, explicou Eduardo Leite, ao responder a uma pergunta do advogado de Duque na audiência. Segundo Leite, o contrato não foi efetivado, nem os pagamentos. O ex-diretor de Serviços da Petrobrás nega todas as acusações. Por seus advogados, Renato Duque afirma que nunca recebeu propinas. Perguntado então pelo juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato, sobre a que se referiam esses pagamentos, Eduardo Leite respondeu: “O saldo devido de propina de quando ele saiu da Petrobrás". “Ele (Duque) teve uma reunião comigo na qual fez o pedido para que isso fosse feito através de uma consultoria dele. Me enviou o contrato, e esse e-mail é o envio desse contrato”, completou Leite. Ao final do depoimento, Sérgio Moro insistiu em saber os motivos que levaram a Camargo Corrêa a pagar propina a ex-diretor mesmo após sua saída do cargo na Petrobrás: “Nós não sabíamos quem era o beneficiário, de que forma seria dividido. E tinha um apadrinhamento por trás disso". Segundo ele, no caso de Duque, o pagamento não chegou a ser efetivado apenas por uma “questão de timing“. “Nós não tínhamos a convicção de que o não pagamento não geraria nenhum tipo de ônus. A gente não sabia qual era a nova Petrobrás que estava surgindo com a saída desses apadrinhados. Se entrariam outros apadrinhados pelos mesmos partidos e isso poderia gerar uma situação de desconforto para a gente". O procurador da República Roberson Pozzobon, da força-tarefa da Lava Jato, quis saber como Leite sabia que o dinheiro chegava aos destinatários: “partidos e aos ex-diretores”. “Quando não tinha reclamações. Apesar que as reclamações eram uma constante, porque sempre estávamos em atraso com os pagamentos. Mas a situação é que eu tentava evitar de ser cobrado, tentava ter uma agenda pró-ativa para conseguir performar meus contratos”, explicou Leite. O delator explicou ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos em primeira instância da Lava Jato, que o lobista Julio Camargo – réu como operador de propina e também delator – era quem fazia a ponte entre a Camargo Corrêa e os contratos da Petrobrás em que ele atuou. “A Camargo usava exclusivamente o Julio Camargo para tratar na área de Serviços”, explicou. Os pagamentos eram feitos por meio de contratos de consultoria com duas empresas do lobista, a Piemonte e a Treviso. O delator listou em juízo os contratos nas obras em que teria sido paga propina – refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, Repar, no Paraná, entre outras, e também em um gasoduto em Caraguatatuba (SP), em que Leite confessou ter intermediado o pagamento de valores por seis anos. “A Camargo Corrêa pagou no período até 2013 R$ 110 milhões em propina sendo, R$ 63 milhões para a área de Serviços e R$ 47 milhões para a área de Abastecimento”, afirmou. No caso da diretoria de Abastecimento, controlada pelo PP, o juiz Sérgio Moro já condenou no mês passado Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto Youssef e outros acusados por lavagem de dinheiro e arrecadação de 1% a 5% de propina. Leite também já é réu em processo em que o ex-diretor de Serviços e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto também são acusados por corrupção e lavagem de dinheiro.

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