quarta-feira, 27 de maio de 2015

Chuck Blazer, o "Senhor 10%" que colaborou na investigação do FBI sobre corrupção da Fifa


As notícias da investigação do FBI sobre o caso de corrupção na Fifa começaram a surgir em março de 2013. Mas pelo menos desde 2011 que a polícia americana se debruça sobre o caso que resultou na prisão de dirigentes da entidade nesta quarta-feira. Foi naquele ano que um personagem importante no trabalho dos americanos surgiu. Chuck Blazer, ex-membro do comitê executivo da Fifa foi acusado de ter recebido propinas quando era secretário-geral da Concacaf entre 1990 e 2011. Para escapar de um processo dos americanos, ele passou a cooperar com as investigações do FBI, o que foi fundamental para a operação em conjunto das polícias suíça e americana nesta quarta-feira. Blazer ocupou os mais altos cargos na área do futebol dos Estados Unidos. Ele chegou a ser conhecido pelo apelido de “Sr. Dez por cento” depois de supostamente ter negociado um contrato extraordinário com a Concacaf que lhe dava 10% de cada centavo trazido para a entidade. O dirigente ainda era conhecido por seu estilo de vida extravagante e, quando não estava em seu apartamento em Manhattan, em Nova York, descansava em seu condomínio de luxo nas Bahamas. O dirigente também é dono de um apartamento na Trump Tower, em Nova York, em que vivem apenas os seus gatos. Blazer é um corpulento dirigente de 70 anos e 200 kg que precisa de uma scooter para se mover. Em maio de 2013, ele foi suspenso por 90 dias pela Fifa sob a alegação de ter recebido mais de US$ 20 milhões da Concacaf durante os seus 20 anos de reinado na confederação. Ele surgiu no epicentro de uma investigação criminal em que as autoridades suspeitavam de fraude e lavagem de dinheiro nos mais altos níveis do futebol ao redor do mundo antes da escolha da Copa do Mundo de 2018, na Rússia. Jornais americanos divulgaram em novembro do ano passado que Blazer fez uma série de gravações de executivos da Fifa para ajudar na investigação das autoridades americanas. Estes registros teriam sido feitos, inclusive, durante os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Antes de viajar para Londres com o intuito de colaborar com os investigadores americanos, Blazer mandou e-mails para autoridades russas, húngaras, australianas e americanas no sentido de organizar encontros que seriam secretamente gravados. Graças a elas, os investigadores tiveram acesso aos escalões superiores da Fifa. Em Londres, Blazer ficava no hotel My Fair, de cinco estrelas e onde recebia uma série de dirigentes. Entre os convidados por Blazer para um encontro estava dirigentes das candidaturas da Rússia para a Copa de 2018 e da Austrália para a Copa de 2022. Os nomes contatados por ele foram Alexey Sorokin, chefe da candidatura da Rússia; Frank Lowy, a chefe da candidatura da Austrália; Anton Baranov, um secretário de Vitaly Mutko, presidente do comitê organizador local da Copa de 2018 e Vitaly Logvin, o presidente do fundo de caridade internacional "Para o futuro do Cerco". O húngaro Peter Hargitay, conselheiro de Blatter, e outros nomes importantes do alto escalação do futebol também foram contatados pelo americano para se encontrarem com ele em Londres. Nem todos, porém, aceitaram se encontrar com Blazer. É o caso de Alan Rothenberg, uma figura importante na candidatura dos Estados Unidos para a Copa de 1994. Ele chegou a mandar uma mensagem para Blazer pedindo desculpas, mas afirmando que não estaria em Londres e sugerindo uma conversa quando ele voltasse aos Estados Unidos. Depois que deixou o cargo na Fifa em 2013, Blazer desapareceu do mundo do futebol. Procurado pelo "Daily News" em um hospital onde passa por tratamento de câncer, ele não quis comentar sobre a investigação. As acusações do FBI estão relacionadas a um grande esquema de corrupção dentro da Fifa nos últimos 24 anos, envolvendo corrupção, fraude, extorsão, lavagem de dinheiro e propinas no valor de US$ 150 milhões (cerca de R$ 450 milhões) ligados a Copas do Mundo e acordos de marketing e de transmissão de jogos pela televisão. Os mundiais da Rússia (2018) e do Qatar (2022) são alvos da investigação de agentes da polícia federal americana. 

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