terça-feira, 14 de abril de 2015

Venezuela emitiu passaportes diplomáticos para assessores lavarem dinheiro


O governo bolivariano de Hugo Chávez incentivou crimes de lavagem de dinheiro em 2004. Uma investigação, conduzida pelo Consórcio Ibero-americano de Jornalistas Investigativos e publicada pelo jornal espanhol El Mundo, revelou que a Venezuela emitiu passaportes diplomáticos para que dois assessores do então ministro da Economia e atual presidente do Banco Central do país, Nelson Merentes, pudessem lavar dinheiro no paraíso fiscal de Andorra. Os funcionários do governo chavista costumavam levar "as volumosas quantias de dinheiro" en bagagens e entravam no país com credenciais diplomáticas, que os liberava da revista no aeroporto. Ao chegar ao principado, o montante era dividido em diversas contas no Banco Privado de Andorra (BPA), que os auxiliava a mascarar a origem do dinheiro. Os assessores suspeitos de fraudes foram identificados como Tulio Antonio Hernández e Gabriel Ignacio Gil. Ambos apresentam antecedentes criminais: o primeiro foi condenado na Venezuela, em 1999, por narcotráfico, enquanto o segundo foi preso por roubar um avião em 2010. A investigação, batizada de Operação Crua, aponta que os passaportes diplomáticos tramitaram na Secretaria da Presidência venezuelana. Todo o montante repartido em Andorra e em uma filial do banco BPA no Panamá era fruto de "operações suspeitas". Documentos das operações financeiras destacam que a direção do BPA chegou a informar aos assessores que não poderia mais aceitar o ingresso de dinheiro em espécie devido aos altos valores envolvidos - o montante teria chegado a 2,5 milhões de dólares. Para dar prosseguimento ao esquema fraudulento, as partes concordaram em realizar o envio de dinheiro através de transferências bancárias. Andorra consta desde 2010 em uma lista de paraísos fiscais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Ocde). Em março deste ano, as autoridades do principado assumiram o controle do BPA após os Estados Unidos terem a classificado como "entidade submetida a preocupações de primeira ordem em matéria de lavagem de dinheiro". Os documentos destacam que, no mesmo dia da intervenção em Andorra, o Banco da Espanha decidiu agir contra o Banco de Madrid, filial do BPA no país. Clientes da instituição foram investigados pelo Serviço Executivo de Prevenção de Lavagem de Dinheiro, entre os quais a imprensa espanhola destacou diversos venezuelanos. São eles: Nervis Gerardo Villalobos, ex-vice-ministro de Energia, Javier Alvarado, ex-vice-ministro de Desenvolvimento Elétrico, Alcides Rondón, ex-vice-ministro do Interior e Segurança Cidadã, Carlos Luis Aguilera Borjas, ex-diretor de Segurança, Francisco Rafael Jiménez Villarroel, ex-dirigente da petroleira PDVSA, e o empresário Omar Farías, conhecido na Venezuela por manter negócios na área de seguros.

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