quarta-feira, 15 de abril de 2015

Tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, é preso em São Paulo


O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi preso nesta quarta-feira na 12ª fase da Operação Lava-Jato. Vaccari foi preso em sua casa em São Paulo por volta das 6 horas e chegou à superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, por volta do meio-dia. A mulher de Vaccari, Giselda Rousie de Lima, foi ouvida na própria residência do casal, em um mandado de condução coercitiva (quando a pessoa obrigatoriamente depõe). A cunhada do tesoureiro, Marice Correa de Lima, teve um mandado de prisão temporária emitido contra ela, mas ainda não foi localizada, informou a Polícia Federal em uma coletiva de imprensa realizada nesta quarta-feira, em Curitiba. Os procuradores do Ministério Público Federal dizem que se ela não for localizada, pode ter a prisão temporária transformada em preventiva (por tempo indeterminado). Em despacho, o juiz Sergio Moro - da 13ª Vara Federal de Curitiba - justificou a detenção do tesoureiro do PT alegando que “a manutenção dele em liberdade ainda oferece um risco especial pois as informações disponíveis na data desta decisão são no sentido de que João Vaccari Neto, mesmo após o oferecimento contra ele de ação penal pelo Ministério Público Federal em 16/03/2015, remanesce no cargo de tesoureiro do Partido dos Trabalhadores”. Os investigadores detectaram vários depósitos suspeitos nas contas da mulher, da cunhada e da filha de Vaccari o que, segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, são indícios de “lavagem de dinheiro”. Dois apartamentos - um em nome da cunhada e outro em nome da filha de Vaccari - foram citados como parte do esquema.


Além dos mandatos de prisão temporária, preventiva e condução coercitiva, um mandado de busca e apreensão foi cumprido nas residências de Vaccari e de Marice, as duas em São Paulo. Em março, a Justiça Federal havia aceitado denúncia do Ministério Público Federal e Vaccari se tornou réu sob a acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. A Justiça determinou a quebra de sigilo bancário e telefônico de Vaccari e suas mulher, filha e cunhada. A Polícia Federal e o Ministério Público do Paraná apresentaram depósitos bancários suspeitos feitos em nome de Nayara de Lima Vaccari, de 27 anos, a filha do casal. De acordo com relatório da Receita Federal encaminhado à Força-Tarefa da Lava-Jato, foi detectado um significativo aumento patrimonial entre 2009 e 2014 de Nayara, que é médica. Neste mesmo período, a filha de Vaccari não declarou nenhum rendimento à exceção de uma bolsa de residente em Medicina por dois anos. De acordo com a Receita Federal, o patrimônio da médica cresceu de R$ 240 mil para mais de R$ 1 milhão no final de 2013. A casa de Vaccari, no bairro de Moema, na Zona Sul de São Paulo, permaneceu fechada desde a prisão do ex-tesoureiro do PT. A família recebeu a visita apenas de Nayara, por volta das 8 horas. Os vizinhos falam que o casal é bastante discreto e se mudou para a casa há cerca de quatro anos. O ex-tesoureiro não teria apresentado resistência à prisão.


Marice, a cunhada de Vaccari, ainda não foi localizada mas, segundo os investigadores, já sabe do mandado de prisão temporária. Os investigadores citaram a compra de um apartamento por Marice de R$ 200 mil em São Paulo, que foi revendido à construtora OAS por R$ 480 mil. Mais tarde, segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, o mesmo imóvel foi vendido novamente pela OAS por menos de R$ 400 mil o que, segundo ele, “é uma operação suspeita (...) típica de lavagem de dinheiro”. Outro apartamento, em nome da filha da Vaccari, também foi citado pelos investigadores. Segundo eles, Nayara não tem recursos para realizar a transação. Esses apartamentos já apareciam nas investigações do Ministério Público Estadual de São Paulo relacionadas à gestão de Vaccari na Cooperativa do Bancários de São Paulo (Bancoop). E agora também fazem parte das investigações da Lava-Jato. Segundo o delegado Igor Romário de Paula, o principal motivo da prisão preventiva de Vaccari é a reiteração das atitudes criminosas. De acordo com o delegado, a função que o tesoureiro exerce facilita as operações de corrupção e desvio de dinheiro. "Na posição que ele mantém hoje, a influência que ele tem, como tesoureiro do partido, deixa ele num ambiente favorável a manter a conduta criminosa. Então assim, se o foco hoje está na Petrobras, nada garante que a conduta criminosa não está continuando na Caixa Econômica ou no Ministério da Saúde. Se ele sequer foi afastado da função dele no partido, o que não é garantia dele parar, já que poderia continuar como uma pessoa informal em nome do partido. Mas se sequer isso foi tirado, é um sinal que ele continua com a mesma influência e potencial de fazer as mesmas operações", disse o delegado. "A posição de João Vaccari é muito semelhante à de Alberto Youssef (doleiro) porque ele é um operador de um partido político num esquema da Petrobras", declarou Carlos Fernando dos Santos Lima. O PT convocou uma reunião para esta quinta-feira sobre a prisão de Vaccari. Irregularidades cometidas pelo tesoureiro do PT na época em que foi presidente da Cooperativa do Bancários de São Paulo (Bancoop), de 2004 a 2010, foram apontadas pelo Ministério Público Federal como uma das razões que levaram o juiz Sérgio Moro a decretar a prisão preventiva do dirigente petista. A Força Tarefa da Operação Lava-Jato também suspeita que a gráfica Atitude, de São Paulo, usada para produzir materiais para a primeira campanha da presidente Dilma Rousseff foi usada pelo tesoureiro do PT para lavar dinheiro desviado da Petrobras. Contribuíram ainda para a prisão movimentações suspeitas feitas pela família do tesoureiro. O ex-gerente de Serviços da estatal Pedro Barusco, que também é investigado pela Justiça, afirmou em delação premiada que Vaccari recebeu cerca de R$ 200 milhões em nome do PT no esquema investigado pela Lava-Jato. As apurações da Polícia Federal apontam que as propinas eram pagas por empreiteiras que firmavam contratos com a petroleira. Segundo depoimento do doleiro Alberto Youssef, R$ 400 mil desviados pelo esquema de corrupção na Petrobras foram depositados na conta de Giselda, em 2008. Uma planilha apreendida pela Polícia Federal, no ano passado, indicou que Marice Correa de Lima também recebeu dinheiro de Youssef: cerca de R$ 244 mil, que viriam de propina da construtora OAS. Na última sexta-feira, em depoimento à CPI da Petrobras, o ex-tesoureiro do PT deu respostas evasivas e repetidas para defender a legalidade das doações eleitorais recebidas pelo partido e negou ter tratado sobre finanças do PT com o doleiro Alberto Youssef e ex-gerente da estatal Pedro Barusco. Os dois são delatores da Operação Lava-Jato e o acusam de ter recebido recursos decorrente de propinas pagas por empreiteiras contratadas pela Petrobras. No depoimento, Vaccari, no entanto, admitiu ter se encontrado com operadores do esquema de corrupção descoberto na estatal, mas evitou explicar os contatos. Na chegada de Vaccari à sala para depor na CPI, um homem abriu uma caixa e soltou ratos dentro do plenário. O homem foi detido pela Polícia Legislativa e os animais, capturados. Delatores da Lava Jato afirmaram que Vaccari era encarregado de recolher propina cobrada pela diretoria de Serviços da Petrobras. O diretor na época era Renato Duque, que tinha o ex-gerente Pedro Barusco como subordinado. Barusco, que decidiu colaborar com as investigações, disse que parte da propina ficava com ele e outra parte ia para o PT. Em depoimento à CPI da Petrobras, o ex-gerente disse que ele e Duque se reuniam com Vaccari em hotéis para tratar da propina. A Operação Lava -Jato foi deflagrada pela Polícia Federal em março e 2014 e investiga um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A última fase da operação foi deflagrada na última sexta-feira e prendeu sete pessoas. Entre elas três ex-deputados federais: André Vargas, Luiz Argôlo (SDD-BA) e Pedro Corrêa (PP-PE).

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