domingo, 5 de abril de 2015

Reservas internacionais de países emergentes caem após 20 anos

As reservas cambiais dos mercados emergentes caíram no ano passado pela primeira vez em duas décadas, porque as economias em desenvolvimento se viram prejudicadas pela perda de competitividade, fuga de capitais e preocupações quanto à política monetária dos Estados Unidos. Nove entre 10 economistas de mercados emergentes consultados pelo "Financial Times" disseram que os mercados emergentes haviam passado por um período de "pico de reservas" e poderiam continuar vendo uma redução de suas reservas de moedas estrangeiras pelos próximos meses. O declínio pode prejudicar a capacidade das economias emergentes para continuar comprando títulos de dívida dos Estados Unidos e países europeus, uma tendência que vem sendo um dos propulsores do crescimento do Ocidente na última década. "Passamos do pico das reservas cambiais nos mercados emergentes", disse Maarten-Jan Bakkum, estrategista sênior para mercados emergentes da ING Investment Management. "O pico veio em junho do ano passado. Desde então, vimos declínios em todos os grandes países de mercado emergente, excetuados México, Índia e Indonésia". O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou na terça-feira que as reservas cambiais totais das economias emergentes e em desenvolvimento caíram em US$ 114,5 bilhões em 2014 ante 2013, para US$ 7,74 trilhões – o primeiro declínio anual desde que o FMI começou a acompanhar esse indicador, em 1995. Em seu pico, as reservas cambiais dos mercados emergentes atingiram US$ 8,06 trilhões no final do segundo trimestre do ano passado. Os dados recolhidos pela ING sobre as 15 maiores economias emergentes indicam que a queda se acelerou em janeiro e fevereiro deste ano, quando as reservas encolheram em US$ 299,7 bilhões. Os dados do ING também demonstram que as reservas encolheram em termos anualizados por três meses consecutivos, em dezembro, janeiro e fevereiro, outra tendência inédita para esse indicador. "O primeiro trimestre deste ano também deve mostrar declínio nas reservas dos mercados emergentes, em termos anualizados", disse Bakkum. "É uma mudança realmente significativa". A alta nas reservas dos mercados emergentes, de uma base de US$ 1,7 trilhão no final de 2004, vem sendo uma das fundações da economia mundial há uma década. Boa parte do capital absorvido pelos mercados emergentes como resultado de superávits comerciais, ingresso de capitais e investimento direto foi reciclado nos mercados de títulos dos Estados Unidos e Europa, o que ajuda a financiar o crescimento bancado por dívidas das economias desenvolvidas. Frederic Neumann, do HSBC, e outros economistas apontam para a influência da China na tendência da queda de reservas. O fim do chamado "carry trade" chinês – quando especuladores chineses reduziram sua captação em moedas estrangeiras depois que o yuan enfraqueceu no ano passado – causou uma saída recorde da conta de capital do país, de US$ 91 bilhões no terceiro trimestre do ano passado. Os economistas dizem que a dinâmica precedente pode estar se revertendo. "Tudo isso aponta para algo de mais preocupante. Se os mercados emergentes não estão mais acumulando reservas cambiais, o excedente mundial de poupança pode ser mais aparente que real", disse Neumann, economista do HSBC. O mundo "sentirá muita falta" da reciclagem das reservas dos mercados emergentes quando começar o aperto da política monetária nos países do Ocidente, ele acrescentou. Mas essas saídas de capital de maneira alguma se restringem à China. O medo do aperto da política monetária por Washington, em um ambiente de força para o dólar, também levou os devedores dos países emergentes a reduzir sua exposição a empréstimos denominados na moeda norte-americana. Além disso, os investidores dos mercados desenvolvidos reduziram seus riscos em alguns mercados emergentes.

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