domingo, 5 de abril de 2015

Recusar propina no Carf dava "castigo", aponta investigação da Polícia Federal na Operação Zelotes

As investigações da Polícia Federal na Operação Zelotes apontam que empresas que se recusavam a pagar propina a integrantes de uma quadrilha que supostamente agia no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) eram punidas com "castigo" de até R$ 1 milhão por mês. A multa seria imposta à empresa se houvesse o julgamento no Conselho do processo a que ela estava respondendo e, por isso, a quadrilha pressionava para que a votação ocorresse rapidamente. O Carf é um órgão da Fazenda que julga, em segunda instância, casos em que o contribuinte já foi autuado. Em várias das interceptações feitas os suspeitos falam abertamente sobre os esquemas de corrupção. Em um diálogo entre o conselheiro Paulo Cortez e seu sócio, o advogado Nelson Malmann, o conselheiro diz que a quadrilha fazia absurdos contra os "pequenininhos" e que os "grandões" ficavam "livres". "É só pagar a taxa", diz o conselheiro. Os integrantes do esquema também conseguiam formas originais de receber a propina, dizem os investigadores. Eles comentam que, no caso do Santander, um dos conselheiros que votaram para que o banco fosse isento de uma multa foi convidado a dar uma palestra na instituição. Segundo Cortez, o conselheiro não quis voltar de avião, mesmo com passagem grátis, pois não queria "chamar a atenção" para a mala de dinheiro que estava trazendo. Cortez não informa o valor na conversa. O conselheiro voltou de ônibus para Brasília. Os valores são sempre contados a partir da casa dos milhões. Em um diálogo do ex-auditor da Receita e conselheiro do Carf, Jorge Victor Rodrigues, com Jefferson Ribeiro Salazar, também ex-auditor, eles falam em um pagamento de 20 (identificado pelos investigadores com R$ 20 milhões) para resolver o problema do Banco Safra. Segundo ele, parte do dinheiro teria de ser repassada à Procuradoria, identificada como a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, órgão da Fazenda. "Nesses 20 (milhões) está também a Procuradoria, eles têm uma boca grande!", disse Rodrigues. No mesmo caso, Rodrigues e Salazar discutem a forma de receber o pagamento, já que o banco exigia que houvesse uma empresa de boa qualidade para receber o pagamento pela consultoria para evitar que a área de compliance (fiscalização interna) do banco suspeitasse da operação.

Nenhum comentário: