quarta-feira, 22 de abril de 2015

OAS corta contratos pela metade e espera voltar a crescer só em 2018

A construtora OAS decidiu cortar sua carteira de projetos pela metade como parte do plano para escapar da falência, informou o grupo nesta quarta-feira (22). A empresa, envolvida na Operação Lava Jato, pediu recuperação judicial dia 31 de março junto a outras nove companhias do grupo OAS. Para preservar o dinheiro em caixa, a ordem na construtora nos últimos meses foi renegociar contratos e analisar quais projetos poderiam ser repassados a construtoras rivais. O resultado foi uma redução drástica no valor das obras em sua carteira. Ao final de setembro do ano passado, a OAS estava responsável por projetos cujos contratos somavam R$ 21,8 bilhões. Agora, restaram obras de somente R$ 11 bilhões - uma queda de 46%. A maior parte do corte veio de contratos no Brasil (R$ 7 bilhões). A conta inclui os projetos que já estavam paralisados por decisão dos clientes desde o ano passado. Segundo Diego Barreto, diretor de desenvolvimento corporativo da OAS, 15 contratos foram renegociados no total. Em cinco deles, a empresa desistiu completamente do projeto, repassando-o a outra companhia. Em um dos contratos, houve a transferência de parte da obra para um sócio. Nos nove restantes, ocorreu "revisão de escopo", com a redução da obra contratada. Alegando cláusulas de confidencialidade com os clientes, a empresa não revela quais são os 15 projetos renegociados. A medida causa uma forte redução nas receitas futuras da empresa. Por outro lado, diminui a necessidade de desembolsos nos próximos meses para tocar as obras. A falta de recursos em caixa e as restrições impostas por bancos para emprestar dinheiro novo à construtora levaram o grupo OAS a pedir proteção da Justiça para não quebrar. O foco do grupo é garantir a sobrevivência da construtora. A ordem é vender todas as outras companhias e usar o dinheiro para ajudar a quitar as dívidas do conglomerado, que superam R$ 9 bilhões. A OAS não revelou quanto espera arrecadar com as vendas. Limitou-se a dizer que deve levantar de R$ 1,7 bilhão a R$ 2,5 bilhões com a venda "dos ativos mais líquidos". O valor sinaliza que a empresa está menos ambiciosa nas negociações que há poucos meses atrás. No final do ano passado, quando iniciou o processo de busca de interessados, a empresa esperava arrecadar R$ 2,8 bilhões somente com a venda de sua participação na Invepar (dona de concessões de rodovia, metrô e aeroporto). A reestruturação da construtora dependerá do sucesso da negociação com os credores. A empresa precisa do aval da maioria deles para que seu plano de recuperação seja aprovado. As conversas começam nesta quarta-feira (22) com uma reunião com representantes de bancos e de detentores de debêntures em São Paulo. Na semana que vem, será vez da primeira apresentação aos credores internacionais, que possuem a maior parte da dívida da companhia. A OAS tentará convencê-los de que a construtora não só sobreviverá à turbulência financeira como voltará a crescer a partir de 2018. A companhia registrou receita líquida de R$ 7,2 bilhões em 2014, uma queda 6% frente ao ano anterior. Nos cálculos que serão apresentados, o resultado seguirá caindo ano a ano até 2017, quando a empresa faturará somente R$ 3,1 bilhões. Em 2018, contudo, a receita voltará novamente a subir. O crescimento virá com a retomada da disputa por novos contratos no ano que vem, segundo a empresa. O exercício não considera, porém, variáveis importantes como o pagamento de dívidas aos credores e as multas que a companhia pode ser obrigada a pagar caso seja condenada nos processos resultantes da Operação Lava Jato. A OAS é uma das empreiteiras acusadas de pagar propina a ex-funcionários da Petrobras em troca de vantagens em contratos da estatal. É acusada ainda de participar de um cartel que atuava em licitações promovidas pela petroleira com o objetivo de inflar os preços pagos pelas obras. A projeção sobre o futuro da OAS também não inclui a possibilidade de que a empresa seja impedida de disputar novos contratos públicos pela Controladoria-Geral da União ou pelo Ministério Público. O processo de enxugamento da OAS passa também pela saída de mercados internacionais: a empresa já deixou Moçambique, onde finalizou a obra de uma ferrovia para a Vale, e Angola. A tendência é que a construtora deixe de prospectar novos negócios em outros países e passe a focar somente na operação brasileira, segundo seus executivos. A empresa afirma que conseguiu economizar R$ 500 milhões desde março do ano passado com a revisão da carteira de projetos, redução do quadro de funcionários e renegociação de prazo de pagamento com fornecedores. De acordo com a companhia, 350 fornecedores concordaram em receber após o pedido de recuperação judicial.

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