quinta-feira, 23 de abril de 2015

O petista Lindbergh entra em contradição no depoimento na Operação Lava Jato com Genú e Paulo Roberto Costa sobre campanha eleitoral

Em depoimento que prestou à Polícia Federal, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) entrou em contradição com depoimentos prestados por dois investigados pela Operação Lava Jato: o do delator e ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e o do ex-assessor do PP, João Claudio de Carvalho Genú. Lindbergh afirmou à Polícia Federal, no inquérito aberto por ordem do ministro relator no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, que não conhece Genú, não se reuniu com ele entre 2013 e 2014, ocasião em que disse ter conversado com Paulo Roberto Costa sobre programa de governo na área de óleo e gás na sua campanha eleitoral ao governo do Rio de Janeiro, em 2014. A presença ou não de Genú nas conversas ganha relevo porque Lindbergh diz que tratava com Paulo Roberto Costa sobre o potencial econômico do Estado e só em um dos encontros discutiu-se eventuais doadoras de campanha. Genú, na época já condenado pelo STF por envolvimento no escândalo do Mensalão do PT, braço direito do falecido deputado federal José Janene (PP), um dos artífices do escândalo na Petrobras, e sem qualquer relação com o tema da energia, complica a versão do senador de que houve apenas consultas técnicas a Paulo Roberto Costa. O ex-assessor do PP detalhou em depoimento também prestado à Polícia Federal, no último dia 9, que se reuniu entre o final de 2013 e início de 2014 duas vezes com Lindbergh, Paulo Roberto Costa e assessores do parlamentar. Em sua delação premiada de setembro passado, Paulo Roberto Costa também afirmou que Genú participou das conversas com Lindbergh. O ex-diretor da estatal disse que recebeu uma planilha, elaborada por Genú, "onde constariam doações oficiais para a campanha de Lindbergh". Em depoimento, Genú diz que o primeiro encontro ocorreu em "um restaurante italiano na Barra da Tijuca, dentro de um shopping", cujo nome disse não se recordar. Na reunião, disse Genú, Lindbergh convidou Paulo Roberto Costa a se tornar secretário em um futuro governo do Rio de Janeiro e pediu sua ajuda para elaborar um programa de governo na área de óleo e gás. Em seguida, segundo Genú, "também se tratou de captação de recursos para a campanha". Lindbergh teria indagado "de que forma Roberto poderia ajudar". A segunda reunião, segundo Genú, ocorreu no restaurante Fidúcia, em Copacabana, no Rio de Janeiro, com "as mesmas pessoas" do encontro anterior. Na reunião, "passou-se a detalhar quem seriam os potenciais colaboradores" para a campanha. Antes do encontro, disse Genú, foi feita uma prospecção, chegando-se a uma lista de empreiteiros que poderiam ajudar. Dois deles, Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, e Sergio Mendes, da empreiteira Mendes Júnior, tinham negócios na Petrobras e posteriormente foram presos na Operação Lava Jato. O depoimento do senador foi completamente diferente nesse ponto. Ele disse que "com certeza João Claudio Genú não participou desse encontro e tampouco o conhece". Indagado sobre a contradição, Lindbergh disse ao delegado da Polícia Federal que "não sabe por que" Paulo Roberto Costa mencionou a presença de Genú. A posição de Lindbergh foi reforçada pelo seu ex-assessor José Antonio Silva Parente, o "Totó", que disse apenas ter dado conselhos na campanha do senador, "na condição de amigo". No seu depoimento, primeiro Parente hesitou sobre a presença de Genú, mas depois "puxou pela memória" e concluiu "ter certeza" de que o ex-assessor do PP não participou das conversas. Em seu depoimento, Lindbergh Farias reconheceu ter recebido uma ajuda de campanha a partir de uma recomendação de Paulo Roberto Costa, mas na disputa eleitoral ao Senado, em 2010. Segundo ele, a empreiteira Andrade Gutierrez colaborou para sua campanha após uma "sugestão" de Paulo Roberto Costa. O senador disse que foi pessoalmente falar com dois executivos da empreiteira, Alberto Quintaes e Otávio Azevedo. Segundo o senador, a doação foi feita ao diretório nacional do PT, que repassou o valor à campanha local. Lindbergh defendeu suas relações com Paulo Roberto Costa, dizendo que as doações foram oficiais, feitas para o caixa declarado do PT. Ao final do depoimento, o senador disse que gostaria de registrar "sua indignação com a instauração" do inquérito, "já que em 2010 não ocupava nenhum cargo público, nunca indicou ninguém a cargo na Petrobras, nunca prestou ajuda a nenhuma das empresas investigadas". Ao perceber a contradição entre as versões de Lindbergh e Genú, a delegada da Polícia Federal que cuida do inquérito, Graziela Machado da Costa e Silva, despachou "no sentido de obter cópia das declarações de João Claudio Genú prestadas na data de ontem (9), em que menciona relação com Lindbergh Farias, promovendo-se a juntada" do documento ao inquérito. A investigação foi enviada ao STF com o pedido de dilação de prazo por 60 dias para continuidade do inquérito. O STF enviou o caso à Procuradoria-Geral da República, que opinará sobre o pedido. 

Nenhum comentário: