sexta-feira, 10 de abril de 2015

Lava Jato chega à Caixa Econômica Federal e ao Ministério da Saúde

A Operação Lava Jato da Polícia Federal detectou um esquema de repasse de dinheiro realizado por uma agência de publicidade contratada pelo Ministério da Saúde e pela Caixa Econômica Federal para duas empresas de fachada ligadas ao ex-deputado petista André Vargas, preso nesta sexta-feira, na 11ª fase da operação, batizada "A Origem". Segundo a Polícia Federal, a agência Borghi/Lowe, com filiais em São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, repassava 10% dos ganhos a título de bônus de volume a empresas do petista André Vargas e seu irmão, Leon, também preso nesta sexta-feira em sua casa no Paraná. O publicitário Ricardo Hoffmann, diretor geral da agência, também foi preso temporariamente. Os valores totais dos repasses como bônus ainda estão em apuração. Desde 2011, a Borghi/Lowe recebeu do governo federal 112,8 milhões de reais em pagamentos referentes a campanhas desenvolvidas para o Ministério da Saúde, de acordo com dados do Portal da Transparência. O contrato foi assinado em 2010. “A princípio esse bônus ia para os políticos”, disse o delegado Márcio Anselmo, que conduziu a investigação: “Ainda não dá para estimar os valores porque dependemos das buscas de hoje". A Polícia Federal identificou a operação como um crime de lavagem de dinheiro. Produtoras subcontratadas pela Borghi/Lowe para gravar filmes publicitários e spots de rádio do Ministério da Saúde e da Caixa Econômica Federal faziam pagamentos de comissões por volume, orientadas pela agência, às empresas fantasmas do petista André Vargas. Na prática, em vez de pagar o bônus à agência principal, prática comum no mercado da publicidade, as produtoras subcontratadas pela Borghi/Lowe – e que de fato prestavam serviços – pagaram para as duas empresas do petista André Vargas e seu irmão. As produtoras serviram para intermediar pagamentos ao deputado petista. Por meio de suas empresas, o ex-deputado emitia notas frias, ou seja, de serviços que não foram prestados. As empresas dos irmãos Vargas não tinham sede nem funcionários, segundo a Polícia Federal. “Essas empresas não existem fisicamente e recebem um percentual equivalente a 10% do contrato firmado com a empresa principal. Então, tudo nos leva a crer que seja um percentual a ser desviado para o agente público”, disse o delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado. A Caixa Econômica Federal informou nesta sexta-feira que abrirá uma investigação interna para apurar os fatos revelados pela Lava Jato. O banco ainda afirmou em nota que colaborará integralmente com as investigações, encaminhando imediatamente todos os contratos relacionados às empresas citadas à Controladoria-Geral da União, Polícia Federal e Ministério Público”. Os investigadores encontraram um repasse de 2,4 milhões de reais do doleiro Alberto Youssef para o irmão do petista Vargas, por meio de uma consultoria da contadora Meire Poza. Uma casa de alto padrão em Londrina (PR) foi registrada no nome da mulher do petista André Vargas, que não tinha lastro financeiro para a aquisição, em 2011. O imóvel custou 980.000 reais. A Justiça Federal decretou o arresto da residência. O petista André Vargas já era investigado por tráfico de influência em associação ao doleiro para beneficiar o laboratório Labogen Química Fina em parceria com o laboratório da Marinha, para firmar um convênio de 135 milhões de reais no Ministério da Saúde. Servidores do ministério serão ouvidos pela PF tanto por causa dos contratos de publicidade quanto pelo convênio do Labogen. Nesta sexta-feira, a Polícia Federal deflagrou a 11ª fase da Lava Jato e sete pessoas foram presas, entre elas o ex-deputado federal Luiz Argôlo (SD-BA). Já foram cumpridos catorze mandados de busca e apreensão dos dezesseis autorizados pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba (PR). Contra Argôlo, a Polícia Federal tem indícios de que ele emitiu notas fraudulentas para simular pagamentos e receber repasses de dinheiro e era sócio de Youssef em uma empresa de locação de máquinas e equipamentos. Além disso, ele pediu dinheiro emprestado a Youssef para quitar a compra de um helicóptero. A aquisição terminou feita pelo doleiro, que emprestou a aeronave ao ex-deputado, conforme seu depoimento. Moro também decretou a prisão preventiva do ex-deputado mensaleiro Pedro Corrêa. Como ele cumpre pena em regime semiaberto em Pernambuco, o juiz federal solicitou ao Supremo a transferência do mensaleiro para Curitiba. Segundo o delegado Marcio Anselmo, um laudo pericial comprovou depósitos de Youssef em contas de Corrêa e assessores dele no PP, bem como evolução patrimonial incompatível.

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