terça-feira, 21 de abril de 2015

Empreiteiro delator diz que o bandido petista mensaleiro José Dirceu fez lobby por contrato na Petrobras


O executivo Julio Camargo, da Toyo Setal, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou em novo depoimento prestado no dia 8 de abril, que o ex-ministro da Casa Civil e bandido petista mensaleiro condenado José Dirceu interveio pela contratação da empresa junto ao ex-presidente da Petrobras, o também petista José Sérgio Gabrielli. O depoimento faz parte do material encaminhado pela Polícia Federal ontem ao Supremo Tribunal Federal relativo aos inquéritos que apuram envolvimento de políticos no esquema de corrupção e propina na estatal. Julio Camargo disse à Polícia Federal que conheceu o petista em uma festa de aniversário do ex-ministro, quando ele já tinha deixado a Casa Civil. O convite foi feito por um amigo em comum. Os dois tiveram mais de vinte encontros, segundo os relatos de Júlio Camargo, a maioria no escritório ou residência do bandido petista mensaleiro José Dirceu. Ou seja, a ex-mulher de José Dirceu, Evanise Santos, executiva do grupo Espírito Santo no Brasil, também deverá ter informações a prestar. No novo depoimento, Julio Camargo afirma que tinha meios de dar suporte financeiro à Petrobras, mas em contrapartida a estatal deveria celebrar contrato com um consórcio do qual a Toyo fazia parte. Diante da sinalização de mudança da Petrobras desse modelo de negócio, o executivo teria buscado ajuda de José Dirceu. O ex-ministro disse, segundo o relato de Camargo, "ter feito gestão junto a Gabrielli no sentido de entender por qual razão a Petrobras havia mudado a sistemática". Ele declara que doou valores ao PT, mas destaca que nunca ofereceu vantagens "devidas ou indevidas" a José Dirceu. O executivo lembra ter dado apenas um uísque e um vinho ao ex-ministro, o último como presente em um aniversário. Apesar disso, Júlio Camargo diz ter autorizado viagens de José Dirceu em seu avião em "várias oportunidades", mas não se lembra de o petista ter feito menção a ninguém da Petrobras nas viagens. Já o petista Sérgio Gabrielli disse não se lembrar de nenhuma discussão sobre modelo de contratação da Toyo. "Não tenho a menor idéia sobre o que se refere sua consulta. Não lembro de nenhuma discussão geral sobre modelo de contratação da Toyo e é muito difícil lembrar, sem maiores detalhes, especialmente sem relacionar qual projeto esta questão poderia estar associada. Quanto a conversas deste teor com José Dirceu tenho certeza que nunca tive", afirmou o ex-presidente da estatal. O advogado de José Dirceu nas investigações relativas à Lava Jato, Roberto Podval, afirmou que o depoimento de Júlio Camargo aponta que nenhum negócio foi firmado. Podval diz ainda "não ver ilicitude" no caso, uma vez que José Dirceu não estava mais no governo e possui empresa de consultoria. José Dirceu e o executivo da Toyo também conversaram sobre Venezuela, segundo o delator. A Toyo enfrentava problemas na execução de contratos no País e José Dirceu chegou a sinalizar que "conseguiria uma entrada" de Camargo com o presidente da PDVSA, estatal venezuelana responsável pela exploração de petróleo, de acordo com o depoimento. O executivo não teve autorização da Toyo para continuar com a negociação, conforme a delação. O executivo da Toyo relata ainda ter se encontrado com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em duas ocasiões. Os dois trataram sobre questões do setor portuário. Na época, estava em tramitação no Congresso a medida provisória conhecida como MP dos portos, que regulamentou o setor. Cunha teria perguntado a Camargo se haveria disponibilidade de a Toyo, por meio de banco japonês, conseguir financiamento para projetos de investimentos nos portos. O peemedebista teria prometido "fazer gestões" para a contratação da Toyo caso o financiamento fosse obtido. As conversas cessaram depois que Júlio Camargo afirmou que não conseguiria obter o financiamento. Cunha disse ter sido procurado por diversas pessoas na época da tramitação da MP dos Portos. Uma delas poderia ter sido Camargo, segundo o presidente da Câmara. Ele destaca que o executivo queria investir e a nova legislação previa investimentos privados em áreas externas dos portos. O depoimento de Julio Camargo foi uma das diligências solicitadas pela Procuradoria-Geral da República no inquérito que investiga o senador Edison Lobão (PMDB). O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, disse em delação premiada que recebeu do parlamentar a solicitação da entrega de 1 milhão de reais. O doleiro Alberto Youssef disse que já foi levar dinheiro para o Maranhão em razão de uma operação com Julio Camargo e que não sabe quem era o destinatário dos valores. No depoimento do início de abril, Julio Camargo negou ter dado a Youssef valores para pagamentos no Maranhão ou para pagamentos de interesse de políticos do Estado.

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