sexta-feira, 24 de abril de 2015

Documento comprova que o poeta Federico García Lorca foi assassinado pela ditadura do ditador Franco


Federico García Lorca, poeta e dramaturgo espanhol, foi morto na cidade de Granada, Espanha, em 1936, por ordem de oficiais da ditadura do general Francisco Franco. A informação foi confirmada por documentos de 1965 obtidos pelo jornal britânico The Guardian. O escritor é uma das mais conhecidas vítimas da Guerra Civil espanhola, que matou mais de 1 milhão de pessoas. Até então, acreditava-se que o autor de "A Casa de Bernarda Alba" (1933) e "Bodas de Sangue" (1936) havia sido executado por um esquadrão de fuzilamento ligado ao regime, mas sem conexão direta com oficiais do General Franco. Em agosto de 1936, apenas um mês após a guerra civil ter estourado, oficiais invadiram a casa onde García Lorca se escondia em Granada. Prenderam-no e o levaram de carro para uma área conhecida como Fuente Grande. De acordo com os documentos escritos pela polícia, ele foi "imediatamente executado após ter confessado, e enterrado neste local, em uma cova rasa". Nada foi escrito sobre o que ele teria confessado. A publicação dos documentos é resultado de um pedido feito em junho de 1965 pela autora francesa Marcelle Auclair, que pedia informações sobre a morte de García Lorca, seu amigo. A requisição passou por diversos ministros, que debateram o caso, até que foi encomendado à polícia de Granada um relatório sobre o caso, 29 anos depois do ocorrido. Os documentos indicam que García Lorca era descrito como "socialista e maçom, que participava de práticas homossexuais e anormais". Desde 2009, arqueólogos e legistas tentam encontrar o local onde ele foi enterrado, mas ainda não conseguiram. Quando vivo, Franco negou as denúncias de envolvimento do seu regime com a morte de García Lorca: "O escritor morreu ao se misturar com os rebeldes, acidentes comuns em guerra". Ao jornal espanhol El País, Ian Gibson, biógrafo do poeta, afirmou: "Os documentos mostram que não foi uma morte de rua, ele foi preso pelo governo e morto. Eles mesmos dizem isso". Garcia Lorca é autor, entre outros, do magnífico poema abaixo:
Romance sonâmbulo
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas estão mirando-a
e ela não pode mirá-las.
Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
nascem com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lixá-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eriça as piteiras ásperas.
Mas quem virá? E por onde?...
Ela fica na varanda,
verde carne, tranças verdes,
ela sonha na água amarga.
— Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
— Se pudesse, meu mocinho,
esse negócio eu fechava.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Compadre, quero morrer
com decência, em minha cama.
De ferro, se for possível,
e com lençóis de cambraia.
Não vês que enorme ferida
vai de meu peito à garganta?
— Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Que eu possa subir ao menos
até às altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
até às verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a água.
Já sobem os dois compadres
até às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.
Verde que te quero verde,
verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixava
na boca um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
— Que é dela, compadre, dize-me
que é de tua filha amarga?
— Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
rosto fresco, negras tranças,
aqui na verde varanda!
Sobre a face da cisterna
balançava-se a gitana.
Verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da água.
A noite se fez tão íntima
como uma pequena praça.
Lá fora, à porta, golpeando,
guardas-civis na cachaça.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha.

Nenhum comentário: