quarta-feira, 4 de março de 2015

O problema é que o governo Dilma é chavista. Eu me refiro ao amigo do Quico e da Chiquinha. Ou: “Ai que burro, dá zero pra ele!”

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), devolveu a MP da “reoneração” da folha de pagamentos. Alegou vício legal. Disse que a elevação de tributo não podia ser feita por Medida Provisória e que ela desrespeitava o Congresso. E ainda aproveitou para discursar, lamentando não ter devolvido também as outras MPs do ajuste fiscal. Sabem por que isso acontece? Porque temos um governo chavista.

Não, caros! Não estou me referindo àquele tirano mixuruca que governou a Venezuela — mixuruca, mas cujo cadáver adiado mata pessoas. Não! Eu me refiro mesmo é ao amigo do Quico e da Chiquinha, aquela que tem um bordão muito eloquente: “O que você tem de burro, você tem de… burro!”. Eu me refiro é à personagem de Roberto Bolaños! É o que me ocorre quando penso nas lambanças protagonizadas por José Eduardo Martins Cardozo, ministro da Justiça. Eu fico com vontade de dizer, como o Chávez no vídeo abaixo:
“Ai que burro! Dá zero pra ele!” Com a devida vênia, é tolice essa história de que Renan devolveu a MP por causa desse ou daquele cargos, desse ou daquele interesses contrariados. Isso tudo, como estamos carecas de saber, já estava no preço. No mês passado, não faz tanto tempo assim, Renan atropelou a oposição e a deixou fora da Mesa do Senado, o que rendeu um bate-boca com Aécio Neves (MG), presidente do PSDB — que ontem elogiou o presidente da Casa. Renan já tinha, àquela altura, agasalhado a perda dos cargos.
Se você notar, leitor, encontrará uma coisa estranha nos jornais e nas análises. Os jornalistas sustentam que a razão principal de Renan ter se insurgido contra o governo foi a inclusão de seu nome na lista dos “54 de Rodrigo Janot”. Sim, o procurador-geral da República incluiu os nomes do presidente do Senado e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entre aqueles que devem ser alvos de inquérito.
Aí o sujeito de bom senso logo se pergunta: “Mas o que a Dilma tem com isso? A lista não é de Janot?”. Pois é… Eis aí boas perguntas, que seguiram sem resposta até aqui, mas não mais.
Quando Cardozo se mobiliza para, como direi?, manter conversas informais com Janot, o que Brasília inteira leu, embora muitos não queiram vocalizar, é que a dita-cuja obedece, digamos, a uma orientação também política. Nos bastidores, o governismo sabia que alguns nomes do petismo fatalmente estariam lá. A questão era saber quais outros.
Cardozo passou a impressão — que até pode estar errada, né? — de que ele tinha poder sobre a lista. Olhem aqui: pior do que não exercer um poder que se tem é dar a impressão de ter um poder que não se tem. O fato é que Cardozo jamais poderia ter se metido nessa operação — o que inclui a conversa com advogados sobre a conveniência de delações premiadas. Ao fazê-lo, o sistema político sentiu o cheiro da armação. Verdade? Mentira? Pois é… O fato é que Cardozo faz cara de sabido, não é? E essa é outra coisa que também não convém fingir.
Como é que Dilma restabelece as pontes com o PMDB? Não tenho ideia. O discurso de Renan ao devolver a MP era quase o de líder da oposição. Ele sabe que, a partir desta quarta, a sua autoridade está arranhada. Agora, ele é um dos 54, não importa o tamanho do erro, da falha ou da falcatrua que tenha cometido. Ele até pode ser chefão de muita coisa na República, em Alagoas ou em Murici, mas, na Petrobras, nunca chegou a ser um peixão.  Enquanto durarem os inquéritos, como explicar as eventuais diferenças?
Verdade ou mentira, o fato é que Cardozo passou a impressão de que a lista era feita a quatro mãos, com o concurso do Palácio do Planalto. O resultado é o que se vê. Essa é mais uma crise que a incompetência política do governo Dilma levou para dentro do Palácio. Por Reinaldo Azevedo

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