terça-feira, 31 de março de 2015

"Modelo bancário suíço está morto", diz dirigente financeiro de Abu Dhabi

Abu Dhabi pretende se estabelecer como um novo pólo para a gestão de patrimônio, e o dirigente de seu incipiente centro financeiro internacional declarou que o velho modelo suíço de bancos privados e sigilo bancário estava "morto". O Abu Dhabi Global Markets (ADGM) é uma expressão de ambição mundial, e tem o objetivo de conduzir o emirado rico em petróleo e gás natural à qualidade de uma das mais influentes instituições mundiais, como o Comitê da Basiléia para Fiscalização Bancária ou o Grupo dos 20 (G20), usando Cingapura e não a Suíça como modelo, disse o presidente da organização. "A inovação está vindo de mercados novos e emergentes. Por isso os centros financeiros asiáticos agora participam dos comitês da Basiléia e legislam para o Ocidente - porque eles não cometeram qualquer erro em 15 anos", disse Ahmed Ali al-Sayegh em Londres, definindo as pretensões do ADGM com relação aos bancos: "Temos ambição similar". Os comentários dele surgem em um momento no qual os centros de gravidade de instituições como essas mudaram palpavelmente do oeste para o leste, e quando a Ásia começa a desenvolver instituições próprias a fim de rivalizar com as do Ocidente, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, liderado pela China. O ADGM, que terá uma agência regulatória própria e tribunais que operarão sob o regime da common law inglesa, é uma tentativa de diversificar a economia da capital dos Emirados Árabes Unidos. Os fundos de investimento soberano muito bem financiados do emirado, a Abu Dhabi Investment Authority e o Mubadala, serão os dois sediados na zona livre, construída na ilha de al-Mariya, na capital. Isso preocupa algumas pessoas no vizinho Dubai, cujo centro financeiro internacional foi inaugurado uma década atrás, atraindo os maiores bancos e escritórios de advocacia do planeta. Sayegh e sua equipe, que inclui Sir Hector Sants, antigo presidente da agência regulatória dos mercados financeiros do Reino Unido, insistem em que existe espaço para dois centros financeiros a duas horas de carro um do outro, enfatizando que não só Abu Dhabi se concentrará em áreas específicas, como a gestão de patrimônio, como também que os dois centros vizinhos se complementarão. "Quando houve a ascensão de Cingapura, surgiram preocupações de que isso tiraria mercado de Hong Kong, o que não aconteceu", disse Richard Teng, ex-diretor de fiscalização da Bolsa de Valores de Cingapura e contratado como principal responsável pela fiscalização do ADGM. A indicação de Teng no ano passado foi numa demonstração implícita de que Cingapura serviria de modelo ao projeto. Agora isso se tornou explícito. O modelo da Suíça "está morto", disse Sayegh, em referência ao sigilo bancário naquele país: "Cingapura assinou um acordo muito transparente com o mundo. Você não é muito esperto se escolhe copiar um modelo morto". O novo aspirante à coroa da gestão de patrimônio está surgindo em um momento no qual o atual detentor do posto, a Suíça, vem sofrendo repetidos abalos de reputação, já há alguns últimos anos. Mais recentemente, vazaram informações sobre os clientes da divisão de gestão de patrimônio do HSBC, com dados dos últimos 10 anos, o que causou embaraços ao banco britânico e à Suíça como centro financeiro. O banco foi acusado de ajudar na sonegação de impostos e de facilitar manobras para reduzir legalmente os impostos a pagar de seus clientes. Ao mesmo tempo, documentos judiciais quanto a um escândalo de corrupção envolvendo a gigante estatal da energia Petrobras, do Brasil, sugerem que pelo menos US$ 100 milhões em propinas foram encaminhados por meio de diversos bancos suíços. Os bancos, sediados principalmente em Genebra, também foram prejudicados por uma série de disputas tributárias com autoridades de todo o planeta. Os Estados Unidos, especialmente, protestaram contra os bancos suíços por ajudarem os cidadãos norte-americanos a evitar suas obrigações mundiais de impostos. A reputação muito acalentada do setor como um gestor discreto e eficiente de patrimônio foi fortemente prejudicada, ainda que os bancos insistam em que continuam respeitados como instituições financeiramente robustas. "Existe uma mudança fundamental em termos de como os serviços mundiais de gestão de patrimônio estão sendo prestados", disse Sir Hector: "As pessoas preferem ter seu patrimônio administrado no local em que vivem; e Abu Dhabi e o Golfo Pérsico naturalmente têm muita riqueza natural".

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