quinta-feira, 5 de março de 2015

É isso aí! Cada um na sua! Eu critico Janot por ter deixado Dilma fora da lista, e Renan Calheiros, porque está na lista. Ou: Presidente do Senado faz ameaça velada ao Ministério Público

Eu não lido com tolices como “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. Se eu fosse me aliar a todos que não gostam de pessoas das quais também não gosto, teria alguns crápulas como parceiros. E eu não os quero. E também não faço o contrário. Há amigos de amigos que detesto. Há inimigos de amigos por quem tenho apreço. Eu sou rei absoluto da minha simpatia, como escreveu Fernando Pessoa. E isso vale quando penso política ou questões institucionais.

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, desferiu farpas contra Rodrigo Janot, procurador-geral da República. Eu também. Renan tem os motivos dele. Eu tenho os meus, expressos aqui faz tempo, desde o começo. Eu mirei em Janot por ter deixado Dilma Rousseff fora da lista, o que distorce miseravelmente o petrolão; Renan, porque está na lista.
Afirmou o presidente do Senado:
“Eu só lamento que o Ministério Público não tenha ouvido as pessoas, como é praxe, pra que as pessoas questionadas possam se defender, apresentar as suas razões. Mas isso tudo é da democracia. Quando há excesso, quando há pessoas citadas injustamente, a democracia depois corrige tudo isso”.
Ele tem o direito de lamentar. O que Renan não pode e não deve fazer é isto aqui, ó. Leiam direito:
“Nós estamos agora com o procurador em processo de reeleição para sua recondução ao Ministério Público. Quem sabe se nós, mais adiante, não vamos ter também que, a exemplo ao que estamos fazendo com o Executivo, regrar esse sistema que o Ministério Público tornou eletivo”.
É claro que se trata de uma ameaça velada. Se Renan não gostava da forma como o Ministério Público define o seu comando, ele que dissesse antes. Afinal, está exercendo a presidência do Senado pela quarta vez.
Vamos lá! Eu, Reinaldo Azevedo, tenho críticas à forma como se define o procurador-geral. Ocorre que eu a deixei clara neste blog no dia 23 de abril de 2013. O texto está aqui. Lá eu exponho os motivos. Não esperei Janot fazer algo de que não gostei para ter uma opinião a respeito. Pouca gente sabe, mas o procurador-geral, leiam o meu texto de há dois anos, é escolhido, na prática, por uma entidade de caráter sindical: a ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). Como uma República vem a ser o contrário de uma corporação, há caroço nesse angu.
Renan deveria ter se ocupado antes dessa questão, não é? Não apenas agora, quando integra a tal lista. O presidente do Senado foi adiante nas insinuações:
“O último procurador, antes do doutor Janot – que tem uma excelente relação com essa Casa –, no seu processo de eleição, pagou de uma só vez R$ 275 milhões ao Ministério Público de vários anos de ajuda moradia. É evidente que isso ajudou no próprio processo de recondução”.
Eu, por exemplo, não sabia disso, confesso. Se soubesse, teria tratado do assunto aqui. No lugar de Renan, com o poder que ele tem, teria botado a boca no trombone. É evidente que Renan nos permite fazer indagações sobre os métodos a que estaria recorrendo Janot para ser reconduzido ao cargo. Indagado a respeito, desconversou e insistiu nas excelentes relações.
Entenderam a diferença entre quem pensa com independência e quem pensa em nome do rancor, dos interesses contrariados ou da própria loucura? Por Reinaldo Azevedo

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