quarta-feira, 18 de março de 2015

Cid Gomes tripudia a Câmara, fala no Plenário, diz que lá tem mesmo 300 ou 400 achacadores, e afirma que começa pelo presidente Eduardo Cunha; deputados pedem demissão do ministro e o confronto está aberto


Há 20 dias, o ministro da Educação, Cid Gomes, irritou deputados governistas e de oposição ao afirmar que a Câmara tinha "400, 300 deputados achadores" durante uma palestra na Universidade Federal do Pará. Acabou convocado a dar explicações sobre a fala na Câmara, o que conseguiu adiar alegando problemas de saúde. Nesta quarta-feira, Cid Gomes finalmente compareceu ao chamado dos deputados, que aguardavam por um recuo ou até que ele se desculpasse. Mas Gomes fez exatamente o contrário: repetiu o que disse, provocou diretamente o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e incendiou o plenário. Gomes iniciou seu discurso exaltando as políticas nacionais de educação e os programas federais que dão acesso às universidades. Depois de meia hora, tratou do motivo de sua presença: "Eu fui acusado de ser mal educado. O ministro da Educação é mal educado", afirmou, em referência à declaração de Eduardo Cunha, feita logo após articular a convocação de Gomes. E continuou, apontando para o chefe da Câmara: "Eu prefiro ser acusado por ele do que ser como ele, acusado de achaque, que é o que diz a manchete da Folha de S.Paulo", continuou o ministro da Educação, em alusão às denúncias de envolvimento de Eduardo Cunha com o esquema do Petrolão do PT. Antes, quando ensaiava um pedido de desculpas, Cid Gomes afirmou que sempre teve respeito pelo Parlamento. Mas cutucou: "Isso não quer dizer que eu concorde com a postura de alguns, de vários, de muitos que mesmo estando no governo, com seus partidos participando no governo, tenham uma postura de oportunismo", disse, acrescentando que os aliados que votam contra o Palácio do Planalto deveriam "largar o osso" e "sair do governo". Em seguida, seguiu com um discurso que culminou numa reação multipartidária pelo seu pedido de demissão: "Eu não tenho nenhum problema em pedir perdão para aqueles que não agem dessa forma. Desculpem-me, não foi minha intenção agredir ninguém individualmente, muito menos a instituição. O que penso é que nós conquistamos com a democracia a possibilidade de fazer uso livre da manifestação das opiniões. E me perdoe se isso fere alguém, se alguém traz para si essa carapuça ou se enxerga nessa posição". A fala de Cid Gomes incendiou o plenário. Em meio à gritaria do plenário, o líder do PMDB e braço-direito de Eduardo Cunha, Leonardo Picciani (RJ), assumiu o microfone para reclamar da fala de Gomes "Apesar de uma extensa vida política, o ministro esqueceu as regras de convivência democrática, desrespeitou o parlamento brasileiro, e de forma sem consistência, aponta o dedo, faz acusações, mas não diz o crime e não dá os nomes. É muito fácil fazer críticas levianas e não ter consequências", disse o peemedebista. "O ministro perdeu a condição de exercer o cargo. Nós cobraremos do governo que se posicione e diga aos ministros que respeitem o parlamento brasileiro. Não reconheço autoridade em vossa excelência para criticar o Parlamento", continuou Picciani. A reação ao discurso do ministro foi suprapartidária e gerou novos momentos de constrangimento. O deputado Cabo Sabino (PR-CE) chamou Cid de "empregadinho da mamãe". O líder do PSC, André Moura (SE), lembrou que Cid Gomes, quando era governador do Ceará, usou dinheiro público para alugar um jatinho e ir passear na Europa com a família - inclusive a sogra. O parlamentar também pediu a demissão do ministro e chamou-o de "mal educado", "desqualificado" e disse que Cid não tem decência e "envergonha este País". Oposicionistas também aproveitaram o episódio para explorar as cisões na coalizão governista. O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) foi um deles: "Ele está mais como um tradutor da presidente Dilma Rousseff. É o sentimento da presidente Dilma Rousseff com a sua base". O líder do DEM, Mendonça Filho (PE) citou o ataque de Cid Gomes ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e afirmou que, como a oposição foi excluída da conta dos "achacadores", a base governista precisava tomar uma atitude: "Ou o ministro se demite do cargo, ou a presidente demite o ministro, ou os 400 deputados da base do governo assumem que são achacadores. Não há outra opção", afirmou. Nem todos se incomodaram com o destempero de Cid Gomes. Ele foi aplaudido por seus aliados da Câmara, inclusive por petistas. A deputada Maria do Rosário (PT-RS), que assistia ao discurso em pé, na primeira fila, não se conteve. "Parabéns, ministro!", disse ela, três vezes, após Cid Gomes encerrar sua fala. O ministro da Educação sorriu de volta. Enquanto Cid Gomes falava, Eduardo Cunha olhava apenas para a frente, sem se voltar para o ministro da Educação. Eduardo Cunha nem mesmo convocou o ministro para sentar-se à mesa, como é comum nesses casos. Cid Gomes permaneceu em pé, na tribuna, até que o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) pediu que a presidência providenciasse um lugar para que o ministro se sentasse. Eduardo Cunha consentiu, mas Cid Gomes preferiu descer ao plenário e usar um dos assentos reservados aos deputados.

Nenhum comentário: