sexta-feira, 20 de março de 2015

Chefe do clube do bilhão, UTC financiou campanha de aliada do tesoureiro de Dilma


Recém-empossada para seu primeiro mandato na Assembleia Legislativa de São Paulo, a deputada estadual Márcia Lia, do PT, recebeu 632.985 reais como contribuição de campanha, no ano passado, da UTC Engenharia, empreiteira-chefe do cartel desbaratado na Operação Lava Jato. Márcia Lia é afilhada política do tesoureiro da campanha à reeleição de Dilma Rousseff, Edinho Silva. A contribuição foi declarada à Justiça Eleitoral, conforme exigência da legislação, mas uma das conclusões da força-tarefa da Lava Jato é que doações das empreiteiras investigadas, na verdade, eram recursos do propinoduto desviado de contratos da Petrobras - disfarçados em um sofisticado esquema de lavagem de dinheiro. No ano passado, a Direção Nacional do PT arrecadou 10,8 milhões de reais. Uma das parcelas, no valor de 1 milhão de reais, pingou no caixa da sigla no dia 5 de agosto. Horas depois, 632.985 reais foi transferido para Márcia Lia. Ela recebeu 70.945 votos e só garantiu a vaga na Assembleia Legislativa por coeficiente partidário. A deputada paulista foi apenas um dos candidatos do PT para os quais a Direção Nacional intermediou doações da UTC. Mas a quantia doada chama a atenção. Quando considerados apenas os 10,8 milhões de reais distribuídos ao PT pela construtora de Ricardo Pessôa, empreiteiro preso pela Polícia Federal e apontado como chefe do clube do bilhão, Márcia Lia foi a parlamentar que mais recebeu recursos da UTC - ainda que seja uma estreante no Legislativo paulista. À frente dela, só os candidatos a governador Delcídio Amaral (MS), Gleisi Hoffmann (PR) e Lindbergh Farias (RJ) - todos derrotados -, além das direções estaduais da Bahia e de São Paulo. O Supremo Tribunal Federal (STF) abriu investigação contra Gleisi e Lindbergh no escândalo do petrolão. Contra Delcídio, as citações ao seu nome no esquema foram arquivadas pela Justiça. A parlamentar declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que arrecadou 3,3 milhões de reais em sua campanha - 19% dos recursos foram da UTC Engenharia. Mais de 80% do que Márcia Lia arrecadou em geral saiu do comando do partido: um total de 2,66 milhões de reais. Ela recebeu da cúpula petista mais verba do que a campanha à reeleição do ex-governador gaúcho Tarso Genro, do que as dos governadores eleitos Camilo Santana (CE) e Wellington Dias (PI), e a do deputado federal Arlindo Chinaglia, escolhido pelo Palácio do Planalto para concorrer à presidência da Câmara neste ano. A campanha da presidente Dilma Rousseff recebeu 7,5 milhões de reais da UTC. O tesoureiro da campanha era Edinho Silva. Edinho afirmou que sua atribuição como tesoureiro era "responder apenas pela campanha majoritária nacional" e que "as campanhas proporcionais eram responsabilidade das instâncias do Partido dos Trabalhadores" - embora ele também tenha sido presidente da seção estadual do PT até 2013. Conforme VEJA revelou, Ricardo Pessôa chegou a escrever, na carceragem da PF em Curitiba, bilhetes nos quais sugeria que Edinho Silva "estava preocupadíssimo" por tê-lo procurado para pedir doações eleitorais à campanha de Dilma. Edinho repudiou as informações e disse que a arrecadação da campanha de Dilma "foi realizada de forma ética e transparente, conforme previsto na legislação eleitoral". No domingo, Edinho concluiu seu mandato como deputado estadual. Também ex-presidente do Diretório Estadual do PT, ele publicou uma foto nas redes sociais ao lado de Márcia Lia, a quem trata como "amiga e companheira de jornadas no PT". Em seu site, ela explica a relação entre eles: Márcia Lia é herdeira política do mandato de Edinho Silva e usou a mesma base eleitoral para se eleger. Ambos são de Araraquara (SP), cidade que Edinho administrou duas vezes. Em 2001, Márcia Lia filiou-se ao PT e ganhou um cargo na prefeitura, quando Edinho era prefeito. Ela ainda tornou-se secretária de Governo no segundo mandato dele. Atualmente, a deputada também preside o diretório petista na cidade. Procurada, ela não comentou a doação da UTC. Diversos outros candidatos foram beneficiados com doações da UTC, diretas ou intermediadas pelos partidos. Um deles, o deputado federal licenciado Arnaldo Jardim (PPS), atual secretário de Agricultura e Abastecimento do governo de São Paulo, prestou depoimento nesta terça-feira como testemunha de defesa de Ricardo Pessoa na Justiça Federal.

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