quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Presidente de estaleiro detalha funcionamento do cartel em delação

O executivo Maurício Mendonça Godoy, presidente da EBR (Estaleiros do Brasil), que integra o grupo Toyo Setal, disse em depoimento prestado após acordo de delação com procuradores da Operação Lava Jato que as empreiteiras se reuniam para dividir obras da Petrobras. Dois outros delatores da Lava Jato já haviam mencionado a existência de uma espécie de clube de empreiteiras: o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e e o executivo Augusto Mendonça, também ligado à Toyo Setal. Godoy afirma que que o "clube" chegou a reunir 16 empreiteiras, lideradas, segundo ele, por seis grandes empresas: Odebrechet, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, OAS, Queiroz Galvão e UTC. A Galvão Engenharia, segundo ele, não fazia parte do grupo, mas foi convidada a integrá-lo depois que ganhou uma obra na Replan (Refinaria do Planalto), em Paulínia (SP), "com um preço muito baixo". O executivo relatou que participou de "uma ou duas reuniões em 2010 e oito ou nove em 2011". Os encontros, segundo ele, eram realizados nos escritórios da UTC e na sede da Queiroz Galvão, ambos no Rio de Janeiro. Gogoy também foi presidente da Toyo Setal Participações e Investimentos e também vice-presidente da SOG Óleo e Gás. Segundo ele, a SOG conquistou obras em Paulínia e na Repar (Refinaria Presidente Vargas, no Paraná) a partir de acordos, mas disse não conhecer detalhes porque à época não participava das reuniões. Houve acerto, de acordo com ele, entre SOG, Camargo Corrêa e OAS para uma obra do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro). Nesse acordo, ainda segundo Godoy, Odebrecht, UTC e Mendes Junior deveriam apresentar "propostas que deveriam ser perdedoras na licitação". O acordo, no entanto, não deu certo, segundo ele, porque um consórcio que não integrava o cartel apresentou um preço mais baixo. As empreiteiras têm negado enfaticamente a existência do suposto cartel. Ele contou que houve uma reunião em 2011 em que as empresas listaram suas obras futuras preferidas até 2013. Os planos, porém, não deram completamente certo. A partir de 2012, segundo ele, as reuniões deixaram de ser realizadas porque haviam se tornando "infrutíferas", já que as empresas passaram a mandar executivos de segundo escalão, sem poder de decisão. Godoy disse que as empresas economizavam com os acordos. Sem acerto, segundo ele, custa cerca de R$ 5 milhões apresentar uma proposta para uma licitação da Petrobras. Com o acordo, esse custo baixava para R$ 500 mil. O executivo diz que nunca ter ouvido discussão sobre propina nessas reuniões. O depoimento foi prestado na última terça-feira (24) e tornado público nesta quinta (26) pela Justiça Federal.

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