sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Paulo Roberto Costa, o "porquinho" José Eduardo Cardozo e a sem-vergonhice institucionalizada

Paulo Roberto Costa disse em depoimento que não foi o único diretor da Petrobras a receber propina. Taí uma coisa em que acredito. De resto, isso já está dado, não é? Todos sabemos que há outros. E eu vou mais longe, e é este o ponto que me interessa: que razão haveria para o esquema vigorar apenas na Petrobras? Não se está diante de um desvio, mas de um método. O que me incomoda na tese do Ministério Público Federal, que sustenta a formação de cartel de empreiteiras? A suposição de que elas decidiram se unir para fraudar contratos com a Petrobras. Não! O que se viu na estatal é um modelo de relação do estado com o setor privado. E quem dá as cartas e tem o monopólio da aplicação da lei é esse estado. Isso tem história e até resquícios de teoria política. Não duvidem de que existem alguns “magos” do pensamento que acham que é assim mesmo que se faz: eles estariam apenas usando de algumas fissuras morais do “sistema” para poder implementar a sua nova ética. Coisa, em suma, de canalhas. E, claro, em meio aos ladrões que se ancoram numa, vá lá, ideologia, há os batedores de carteira de sempre, já que a bandidagem sabe reconhecer os seus iguais, ainda que estes aleguem outros propósitos. Reportagem da mais recente edição da VEJA, que já está nas bancas, demonstra que José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, começou a se mexer nos bastidores para garantir às empreiteiras que tudo se acalma a partir do Carnaval. E essa garantia foi dada muito especialmente ao advogado Sérgio Renault, defensor da UTC. O dono da UTC é Ricardo Pessoa, acusado de ser o coordenador de um certo “Clube das Empreiteiras”. É amigo pessoal de Lula e considera que foi jogado às cobras. Num manuscrito, deixou claro que a natureza do jogo é mesmo a política e sugeriu que as empreiteiras investigadas foram francas colaboradoras da campanha de reeleição de Dilma. 
A promessa de paz
Nos bastidores, corredores e porões de Brasília, afirma-se que, depois do Carnaval, sai a lista dos políticos. Segundo essa versão, passada adiante também por Cardozo (como é que ele sabe?), alguns nomes graúdos da oposição apareceriam envolvidos na lambança. Isso criaria a união necessária para que todos tentem se salvar, não fazendo virar o barco. Na conversa com Renault, Cardozo entendeu que Pessoa não está disposto a servir de boi de piranha. O ministro da Justiça também saiu agora a botar sob suspeição a investigação, indagando por que ela não abarca os anos FHC, já que pelo menos um delator premiado, Pedro Barusco, afirma ter começado a receber propina em 1997. Bem, é possível que sim. Mas vamos ver: Barusco era um quadro técnico. Em boa parte dos países, quando as empresas decidem comprar almas, procuraram esses cargos intermediários. Parece que foi o que aconteceu com o tal gerente, lá nas priscas era. No Brasil, em razão do modelo — essa estrovenga que chamam “presidencialismo de coalizão” —, os políticos é que têm a primazia. Notem: não serei eu a criminalizar a política. Cardozo tem todo o direito de achar que a presidente é inocente ou que defensores do impeachment padecem de “problema psicológico”. Articular, no entanto, uma linha de defesa, envolvendo os réus, bem, aí já é a esculhambação completa. Mas eu não esperava dele nada diferente. Ninguém recebe o carinhoso apelido de um dos “Três Porquinhos”, como Dilma o chamou (os outros eram Antonio Palocci e José Eduardo Dutra), porque goste, vamos dizer, de ambientes assépticos. Por Reinaldo Azevedo

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