quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Nona fase da Lava Jato acaba com chances de sobrevivência da Sete Brasil


A nona fase da Operação Lava Jato, chamada de My Way, deve colocar uma pá de cal sobre as chances de sobrevivência da Sete Brasil, empresa formada pela Petrobras e sócios privados para administrar o aluguel de sondas para o pré-sal. A empresa, em que a Petrobras tem uma participação minoritária, tem ainda como sócios bancos como BTG, Santander e HSBC, além de fundos de pensão e investidores estrangeiros. Outros bancões, como o Itaú, são credores da Sete. No total, a empresa já deve mais de 4 bilhões de dólares aos bancos, e desde o final de novembro não paga mais nem um centavo aos estaleiros que estão construindo as sondas. A empresa esperava fechar nesta semana um empréstimo com o BNDES, que injetaria mais 3,1 bilhões de dólares na companhia. A companhia já está sendo cobrada na Justiça pelos credores, e tem até o final de fevereiro para pagar ou renegociar suas dívidas. Mas a renúncia da diretoria da Petrobras, aliada às revelações de Pedro Barusco sobre o pagamento de propina na empresa, tornam essa injeção financeira praticamente impossível. Até julho do ano passado, Barusco era o diretor operacional da Sete – e, na função, negociou a contratação dos estaleiros para construir as sondas. Era parte da estratégia petista de impulsionar a indústria naval brasileira que pelo menos 55% dos equipamentos de perfuração fossem construídos no Brasil – determinação a que se deu o nome de política de conteúdo nacional. Dos cinco estaleiros escolhidos, três são de empreiteiras que hoje tem executivos presos na Lava Jato. Odebrecht, UTC e OAS estão no Enseada, na Bahia. Camargo Corrêa e Queiroz Galvão são as principais acionistas do Estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco. O terceiro estaleiro nacional é o Rio Grande, em Porto Alegre, construído pela Engevix. Completam a lista os estaleiros da Jurong e o Brasfels, cujas donas são multinacionais sediadas em Singapura. De acordo com a delação de Barusco, todos pagaram propina de 1% sobre os contratos já fechados, que somam 22 bilhões de dólares. Além do próprio Barusco, o presidente da empresa, João Carlos Ferraz, o ex-diretor de serviços da Petrobras, Renato Duque, e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, receberam as propinas, em contas no Exterior. Desde o início da semana, advogados de todas as partes estão reunidos em um escritório no centro do Rio de Janeiro, finalizando os muitos documentos que baseiam o contrato de financiamento. Os papéis mais sensíveis do processo são as declarações em que os executivos de todos os estaleiros e da própria Sete asseguram não terem pago e não terem tido conhecimento do pagamento de propina para a obtenção dos contratos – as chamadas declarações anticorrupção. A previsão de todos era assinar o contrato amanhã, sexta-feira. Com a renúncia da diretoria da Petrobras, já não há sequer quem assine os documentos pela estatal. Além disso, com a nova leva de prisões e a divulgação dos trechos da delação de Pedro Barusco que dizem respeito à Sete, o que era para ser o ato final de uma longa negociação vai se transformar em uma sala de crise. A esta altura, ninguém mais é capaz de prever o que vai acontecer – mas todos sabem que o tempo da Sete está se esgotando e a cada momento a recuperação judicial se torna mais provável. Se isso realmente acontecer, provocará um importante golpe simbólico na política do conteúdo nacional – e um rombo bem real e bilionário nos balanços dos bancos privados, fundos de pensão e estaleiros.

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