quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Lava Jato negocia com delator informações sobre área que a petista Graça Foster dirigiu

A força-tarefa do Ministério Público Federal quer saber do novo delator da Operação Lava Jato, o engenheiro Shinko Nakandakari – apontado como carregador de malas de dinheiro na Petrobrás – informações detalhadas sobre a arrecadação de propinas pelo ex-diretor de Serviços, o petista Renato Duque, e pelo tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, em contratos da Diretoria de Energia e Gás, entre 2008 e 2013. A diretoria – comandada pela ex-presidente da estatal, a petista Graça Foster, de 2007 a 2012 – teria sido o canal de arrecadação de dinheiro ilícito em quatro contratos intermediados por Nakandakari, em nome da Galvão Engenharia, uma das 16 empreiteiras do cartel alvo da Lava Jato. A nova ofensiva da Lava Jato, agora colocando na mira a Diretoria de Gás e Energia, não significa que Graça Foster está sob suspeita. Mas contratos firmados em sua gestão nessa unidade serão rastreados. “A Galvão Engenharia manteve seis contratos, isolada ou em consórcio, em que Shinko operou, sendo dois na área de Abastecimento e quatro na área de Gás e Energia, cujo valor total aproximado foi de R$ 2,6 bilhões, com início em 2008 até 2013″, afirmou o ex-gerente de Engenharia da estatal, Pedro Barusco, em sua delação premiada, realizada em novembro.
Novo alvo da Lava Jato, Nakandakari começou a ser ouvido pela força-tarefa na tentativa de fechar um acordo de delação premiada, em que confesse seus crimes e ainda revele novos fatos para as investigações, em troca da redução de pena numa eventual ação criminal. Segundo Barusco – que era braço direito do petista Renato Duque e amigo de Nakandakari -, o operador da Diretoria de Serviços chegou a acordar o pagamento de R$ 6 milhões a R$ 8 milhões no âmbito dos seis contratos, sendo que uma parte desse montante não chegou a ser efetivamente entregue. “As propinas foram pagas por Shinko em espécie”, afirmou Barusco. “De um modo geral, o pagamento de propinas nesses contratos obedeceu a regra”, que segundo ele, previa pagamento de 1% a 2% do valor dos contratos. ”Metade era para o Partido dos Trabalhadores, representado por João Vaccari Neto, e a outra metade era para a ‘Casa’”, explicou Barusco. 


“Casa” era o termo usado para se referir a Renato Duque e Barusco – lotados na Diretoria de Serviços, cota do PT no esquema da Petrobrás. Por fazer os contratos, a Diretoria de Serviços arrecadava nas demais diretorias da estatal, segundo confessaram Barusco e o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa. A Lava Jato não tem informações sobre o envolvimento de Graça ou outro diretor da área de Energia e Gás no esquema, mas vai buscar aprofundar as investigações nessa área. Segundo afirmou Barusco, “quando os contratos envolviam a Diretoria de Gás e Energia, cujo diretor inicialmente era Ildo Sauer e depois Maria das Graças Foster” os valores iam para o PT e para ele e  Renato Duque. Barusco afirmou que Vaccari arrecadou até US$ 200 milhões em propinas para o PT. Questionado pelos investigadores da Lava Jato se Graça Foster e Sauer tinham conhecimento desses pagamentos, o ex-gerente de Engenharia afirmou que “não havia espaço para conversar essas coisas” com os dois ex-diretores. “Se sabiam, conservaram isso para si”, acrescentou Barusco. O delator apontou ainda cinco obras como as principais envolvendo a Diretoria de Gás e Energia, em que Renato Duque teria arrecadado propina. São elas: Gasoduto Gastau, Gasoduto Urucu-Coari-Manaus, Gasoduto Cabiúnas-Reduc (Gasduc), Gasoduto Cacimbas-Catu (Gascac) e em piers de Gás Natural Liquefeito (GNL). Graça Foster deixou a presidência da Petrobrás na semana passada, em meio a mais explosiva crise da história da estatal petrolífera, após reunião com a presidente Dilma Rousseff. 

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