quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Ditador sanguinário da Guiné Equatorial, mecenas da Beija Flor, já gastou dinheiro com jogadores brasiileiros

Muito antes de aparecer na Marquês de Sapucaí, ser homenageada pela Beija-Flor e provocar polêmica no Carnaval do Rio de Janeiro, a Guiné Equatorial já havia estreitado os laços com o Brasil via futebol. O país, que é uma ditadura sangrenta e assassina, comandada há 35 anos por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, realiza naturalizações em massa de jogadores brasileiros para reforçar sua seleção há cerca de uma década. Entre os brasileiros que defenderam Guiné Equatorial nos últimos dez anos estão o ex-lateral direito Daniel, que passou por Corinthians e Palmeiras, e os atacantes Jônatas Obina, ex-Atlético-MG, e André Neles, também com passagens pelo time mineiro e pelo alviverde paulista. Pelo menos dois técnicos brasileiros participaram desse processo de aproximação entre os dois países. Antônio Dumas dirigiu a seleção entre 2003 e 2007. Gilson Paulo ficou do começo de 2012 ao segundo semestre de 2013. Ambos negam ter realizados naturalizações em massa. O primeiro admite apenas que levou Daniel para a Guiné Equatorial. "Já tinham alguns jogadores brasileiros por lá desde 2006. Esses eu escalei na seleção", afirmou Gilson Paulo. Dumas e Paulo também disseram não saber se o ditador "comprou" jogadores estrangeiros para defender a seleção africana e admitiram apenas que os atletas recebiam salários durante os períodos de treinos e competição. "Só sei quanto eu ganhava e não era nada fora do padrão do futebol africano", adicionou Paulo. Os salários, aliás, não eram pagos pela federação de Guiné Equatorial, mas diretamente pelo governo. "Era o presidente (Obiang) mesmo que me pagava. Todos os treinadores lá são funcionários públicos ligados ao ministério do Esporte", contou Dumas. O ditador do país que organizou entre janeiro e fevereiro a Copa Africana de Nações tem uma fortuna pessoal avaliada em US$ 600 milhões, de acordo com a revista "Forbes". O governo de Guiné Equatorial pagou R$ 10 milhões à Beija-Flor para a escola fazer do país seu enredo de 2015 - apesar de criticado devido ao tema, o desfile foi campeão deste ano. A trajetória dos brasileiros que foram defender a seleção do país de Obiang teve até uma tragédia. Em 2013, Rincón, um desses tantos naturalizados, morreu sob suspeita de ter contraído malária em uma viagem para disputar um jogo das eliminatórias da Copa do Mundo -2014. A Guiné Equatorial acabou sendo eliminada daquele qualificatório por ter utilizado um jogador cujo processo de naturalização estava irregular, o espanhol Emilio Nsue. Episódio semelhante tirou a seleção das eliminatórias da Copa Africana de 2015 - ganhou uma segunda chance ao ser escolhida como país-sede. Tanto Dumas quanto Paulo admitem que a família Obiang tentou algumas vezes interferir em seus trabalhos e participar da escalação da seleção. A intervenção não acontecia via o presidente Teodoro Obiang, mas sim através de um dos seus filhos, Rúslan. "Ele tentava interferir, mas eu era garoto e não dava muito trela", diz Dumas. "Eu sabia que eles eram assim, então decidi cortar desde o começo", completa Paulo. Segundo Dumas, o único desses pedidos aceito foi para que Rúslan pudesse treinar junto com a seleção durante as excursões: "Mas não era demais, ele só brincava nos dois-toques. O preparador físico e o auxiliar participavam também".

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