terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Deputado pede abertura de CPI para investigar institutos de pesquisas

Na retomada dos trabalhos do Congresso, o deputado Ricardo Barros (PP-PR) protocolou nesta segunda-feira (2) pedido de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Câmara para investigar a divulgação de pesquisas eleitorais e seu reflexo nas urnas. O congressista pede que sejam avaliados cenários a partir de 2000 para examinar as discrepâncias, contradições, distorções, erros e falhas verificados. A solicitação, que depende de 171 assinaturas para prosseguir, ainda será analisada pelo comando da Casa. Os técnicos da Câmara não souberam informar quantos parlamentares assinaram o requerimento. Como foi uma das primeiras matérias apresentadas, deve ter preferência na pauta da Casa. Segundo Barros, a CPI deverá aprofundar investigações sobre a qualidade e confiabilidade da metodologia de amostragem, da coleta dos dados e da análise e avaliação dos resultados para verificar se houve manipulação dos resultados das intenções de votos pesquisadas. "Também se deverá investigar se há vínculo de qualquer natureza entre os institutos de pesquisa e os veículos de comunicação, e entre estes, individualmente, com candidatos, partidos ou coligações, que produzam resultados díspares em relação às urnas, favorecendo ou prejudicando este ou aquele candidato", afirmou o deputado. Barros citou problemas em levantamentos divulgados por institutos em Estados como Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. "Para se ter uma idéia, no Rio Grande do Sul, o candidato do PMDB (em 2014), José Ivo Sartori, aparecia em terceiro lugar, com 23% das intenções de voto. Após a votação em 1º turno, Sartori ficou em primeiro lugar, com 40,4% dos votos", disse. Para o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, é um equívoco frequente comparar pesquisas feitas dias antes com o resultado das urnas. "O processo eleitoral está cada vez mais dinâmico, muda rapidamente. A eleição presidencial foi um exemplo disso. Houve um fenômeno que começou nas últimas semanas e se manteve até os últimos dias, de ascensão do Aécio Neves (PSDB) e queda da Marina Silva (PSB)", explicou Paulino. A diretora do Ibope, Márcia Cavallari, acrescenta que "falta clareza sobre o papel das pesquisas". "A pesquisa monitora tendências, movimentos. A função não é prever, acertar resultados na vírgula", diz ela. Cavallari afirma ainda que a legislação impõe bastante transparência ao trabalho dos institutos. Não é a primeira vez que um político questiona a conveniência da divulgação de pesquisas. Em 2012, por exemplo, o senador Luiz Henrique (PMDB-SC) apresentou projeto com a intenção de proibir a veiculação de pesquisas nos últimos 15 dias antes de eleições. "Por trás desses movimentos há sempre uma tentativa de constranger institutos e evitar a divulgação de pesquisas. Há sempre um candidato ou um partido descontente com os resultados", avalia Paulino. O diretor-geral do Datafolha ressalta, no entanto, que embora questionem a divulgação dos levantamentos, políticos recorrem frequentemente a eles. "Os políticos entendem muito bem de pesquisas, tanto que recorrem a elas com frequência. Alguns contratam mais de um instituto para trabalhar com os dados. Os políticos gostam tanto que querem as pesquisas só para eles", afirma Paulino.

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