terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

As ciclofaixas de Haddad podem não ser apenas caso de política, mas também de polícia

Até ler reportagem de Aretha Yarak e Silas Colombo na VEJA São Paulo desta semana, eu achava que a obsessão ciclofaixista do prefeito Fernando Haddad, do PT, era só um caso de política. Agora, eu começo a mudar de idéia. Os números são impressionantes. Os indícios de ilegalidades são gritantes. As histórias mal contadas se amontoam. Comece a se escandalizar, leitor amigo. O preço médio por quilômetro das ciclofaixas do prefeito petista — que, no mais das vezes, não passam de um pedaço da rua pintado de vermelho — é de R$ 655 mil. Sabem quanto custa a mesma extensão de uma ciclovia, não mera ciclofaixa, em Paris? R$ 129 mil. Um quinto. Sabem por quanto sai em São Francisco, nos Estados Unidos? R$ 157 mil. Em Copenhague, na Dinamarca? R$ 205 mil. Em Amsterdã, na Holanda? R$ 210 mil. Aqui pertinho, em Bogotá, na Colômbia? R$ 290 mil. Atenção! As ciclofaixas mixurucas de Haddad, com sua tinta desbotada, sua buraqueira, sua sinalização porca, são as mais caras do mundo. Por quê? Acho que há algumas pistas onde transitam coisas mais antigas do que bicicletas. Já chego lá. Atenção, a reportagem foi a campo, leiam, e conversou com empresas e órgãos técnicos para saber quanto custa apenas pintar o chão de vermelho, como faz o prefeito na maioria das vezes. E eles deram a resposta: R$ 105 mil por quilômetro — menos de um sexto. Ah, sim: em Nova York, o trecho sai por R$ 140 mil. Aquelas coisas horrorosas que Haddad entrega custam R$ 510 mil a mais por quilômetro. Quando anunciou a intenção de criar 400 km de ciclofaixas e ciclovias, Haddad estimou o custo das obras em R$ 80 milhões — média de R$ 200 mil por km. Parece que baixou, assim, um espírito Abreu e Lima na Prefeitura. O custo já estabelecido de 177 quilômetros (parte entregue e parte em construção) é de oficiais R$ 116 milhões: R$ 655.367,00 por trecho. Vamos continuar nas contas? O prefeito anuncia a intenção de chegar ao fim do mandato com 444 km de pista exclusiva. Pelo preço médio até aqui, o mais alto do mundo, estamos falando em quase R$ 300 milhões — precisamente R$ 290.982.948,00.
Questão de polícia
Até aqui, poderia ser apenas caso de má gestão. Mas há um cheirinho de caso de polícia. O Tribunal de Contas do Município descobriu que a contratação das empresas para fazer as ciclofaixas é feita com base numa tal “ata de registro de preços”, não por licitação normal. Esse expediente serve apenas a compras rotineiras. Assim, fica impossível a um órgão de investigação saber como é gasta a dinheirama. Agora vejam que curioso: a ciclofaixa da Paulista vai custar R$ 15 milhões. O responsável pela obra é um tal “Consórcio Semafórico Paulistano”, registrado na Junta Comercial só dia 19 de maio do ano passado. E já levou uma obra dessa importância. Gente de sorte! A reportagem da VEJA São Paulo foi até a rua Siqueira Bueno, 35, no Belenzinho, onde deveria estar o dito-cujo. Deu de cara com um edifício residencial. E, por lá, nunca ninguém ouviu falar do tal consórcio. Mas eu confio em Jilmar Tatto, secretário de Transportes. Ele jamais contrataria gente que não fosse da sua mais estrita confiança, não é mesmo? Agora leiam isto: o traçado de ciclovias da Faria Lima tem 12 km. O custo de cada um é de escandalosos R$ 4,5 milhões — R$ 54 milhões ao todo. O trecho ora em construção, de 5,5 km, está orçado em R$ 15,7 milhões. Agora a nota de surrealismo: já existe uma ciclovia entre o Largo da Batata e a Praça Apecatu, que está em operação desde 2012. A dupla Haddad-Tatto planejou uma ciclovia sobre a outra. Jilmar Tatto não quis falar com a reportagem da VEJA São Paulo. O prefeito também não. Sua assessoria afirmou que ele estava muito ocupado. Pensa que é fácil desfilar por aí de shortinho e capacete e ainda fazer ar de pensador pós-moderno? Atenção! R$ 655 mil por quilômetro, insisto, é o que já está mais ou menos contratado para 177 km. Como a gente vê, a obra na Faria Lima vai custar quase seis vezes mais. O buraco pode não ter fundo. E isso tudo para quem? Por enquanto, e sabe-se lá por quanto tempo, para ninguém. Até ler a reportagem da VEJA, podem procurar tudo o que eu escrevi e disse a respeito, eu achava que o ciclofaixismo era só um caso de política. Agora, começo a desconfiar de que seja também um caso de polícia. Sinceramente, eu não tinha noção de que essa aparente obsessão pós-moderna de Haddad era tão cara e desafiava com tanta determinação procedimentos, digamos, mais ortodoxos de probidade e aritmética comparada. Por Reinaldo Azevedo

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