sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A economia de supermercado no Congresso, parlamentares na gôndola, a sem-vergonhice e o Chicabon

A gente precisa tomar cuidado com os juízos que faz, não é?, para não cair vítima do mal que denuncia. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), não compõe exatamente o meu perfil de super-herói. Mas eu abandonei essa bobagem faz tempo. Os colunistas a serviço do PT agora deram para acusar o seu oportunismo. É mesmo? Não importa a proposta que faça, sempre haveria algum interesse subjacente. Bem, para que essa crítica seja válida, será preciso demonstrar que os que se opõem a ele só se preocupam, como diria o poeta, com substantivos celestes. Quem, afinal, não tem interesses a defender por ali? Então ficamos assim: entre os interesses vários, a gente escolhe o que for melhor para o País. Os pessimistas incorrigíveis ou os católicos escolham, como fundamento ético, o mal menor. Por que essa introdução escrita com alguma galhofa e melancolia, como diria aquele?

Na próxima quarta-feira, Eduardo Cunha quer pôr em votação o projeto do deputado Mendonça Filho (DEM-PE), que cria empecilhos à fusão de partidos. Ela seria permitida apenas cinco anos depois da criação das legendas. Alvo número um: o tal PL (Partido Liberal), que está em gestação no ventre do Ministério das Cidades, cujo titular é Gilberto Kassab. Quando na Prefeitura de São Paulo, ele deu à luz o PSD.
A manobra de Kassab, todo mundo sabe, interessa ao governo. Como um parlamentar corre o risco de perder o mandato se migrar de forma imotivada para outra legenda, achou-se uma saída: uma nova agremiação poderia recebê-lo. É claro que o Planalto apóia a movimentação de Kassab. O PL abrigaria parlamentares que estão hoje na oposição e outros tantos do PMDB. Fundido ao PSD, o sonho grande é se tornar, quem sabe?, a segunda sigla da Câmara, desbancando os peemedebistas. Acho a pretensão exagerada, mas a ambição existe.
É claro que ao PMDB não interessa a criação da nova legenda. O partido perderia poder de fogo e de negociação. A chance de que a restrição seja aprovada é grande. Eduardo Cunha já demonstrou que tem cacife para derrotar o governo. E aí cabe a pergunta: estará o presidente da Câmara sendo oportunista? Quem sabe… Mas e Kassab? Bem, nesse caso, não cabe nem a dúvida.
Assim, se estamos numa mera disputa de interesses, cabe perguntar: o que é melhor para o País? Criar partidos com a facilidade com que se toma um Chicabon ou coibir um pouco a sem-vergonhice? Respondo: coibir um pouco a sem-vergonhice. Se Eduardo Cunha apóia ou não; se é ou não do seu interesse, eis uma questão que só é relevante para os petistas e os kassabistas. E eu não sou nem uma coisa nem outra.
Logo, espero que a proposta de Mendonça Filho vá mesmo a votação e seja aprovada. Eu sou, como sabem, um fanático da economia de mercado, mas sou contra a economia de supermercado no Congresso. Esse negócio de pegar parlamentar na gôndola e passar no caixa não é bom para o País. Por Reinaldo Azevedo

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