sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Se líderes islâmicos não se mobilizarem pra valer contra o terror, o medo no Ocidente cobrará a fatura dos muçulmanos

França, Alemanha e Bélgica prenderam nesta sexta-feira 29 pessoas vinculadas, de algum modo, ao terror. As ações delinquentes obedecem a um chamamento geral do extremismo islâmico, mas não têm, tudo indica, um centro de comando. Aqueles que são incitados a agir — tendo como horizonte o martírio; afinal, os aguardariam as 72 virgens no Paraíso, o que também não está no Corão — apresentam-se como voluntários de uma causa que, no fundo, desconhecem. O medo se espalha nas ruas; o risco da ação terrorista passa a fazer parte do cotidiano das pessoas; nunca se sabe de onde os facínoras podem surgir. É isso o que querem os chefões do terrorismo? É isso.

Há desdobramentos que são invitáveis. Os muçulmanos que nada têm a ver com o terror acabarão pagando um preço alto. Se o temor se generaliza, a etapa seguinte será evitar aqueles que, por origem, costumes, religião, nome e até semelhança física possam remeter ao universo dos terroristas. Quando o pânico se instala, busca-se a máxima segurança possível.
De pouco adiantará o cretinismo acadêmico vigente nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil sair por aí gritando contra a suposta islamofobia. À diferença do que afirmou um tal Daniel Serwer, em entrevista à Folha, o terrorismo islâmico não é uma reação ao crescimento da extrema direita francesa. Trata-se precisamente do contrário.
Sim, senhores, a continuar essa escalada, Os muçulmanos que não estão vinculados ao terror, e que são, obviamente, a maioria, acabarão arcando com as consequências. E os únicos responsáveis por isso serão suas autoridades religiosas e suas lideranças políticas, que, reitero, manifestam-se de modo ambíguo, quando não moralmente criminoso.
Quando Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro da Turquia, acusa Benyamin Netanyahu, chanceler de Israel, de ação semelhante às que se viram em Paris, não duvidem: ele está, na prática, apoiando os terroristas.
Cumpre ser realista. Medidas de força são, sim, eficazes contra o terror. Os ataques promovidos contra Israel na Cisjordânia caíram a praticamente zero depois da construção do muro. Aquilo é bonito? Não é, não! Mas tente convencer os israelenses de que não era necessário.
A estupidez acadêmica ocidental prefere, a cada novo ato terrorista, voltar, como diria o poeta Horácio, às musas. “Ah, isso é culpa do colonialismo; ah, isso é culpa das divisões artificiais promovidas pela Europa no mundo árabe; ah, isso é parte ainda da conta do eurocentrismo….” Tudo é de uma supina estupidez. De culpa em culpa, a gente pode dizer, também, que é tudo culpa de Maomé. Se não tivesse imposto na porrada o monoteísmo na península arábica, no século VII, talvez a coisa fosse diferente.
O mundo é o que temos, não o que poderia ter sido. Quem pensa a história na base do “e se isso, e se aquilo, e se aquilo outro….” está querendo se livrar dos problemas do presente. A Arábia Saudita condena um blogueiro a mil chicotadas por ter supostamente ofendido um clérigo porque essa prática interessa ao esquema de poder vigente daquele país. O colonialismo europeu do século XIX não tem nada com isso.
Se os líderes islâmicos, políticos e religiosos, não tomarem a decisão firme de banir o horizonte terrorista como reação possível, é a vida dos muçulmanos mundo afora que vai se transformar num inferno. E, nesse caso, aí sim, estaremos caminhando para o confronto antevisto por Samuel Huntington no livro “O Choque de Civilizações e a Recomposição da Ordem Mundial”.
Acreditem: o Ocidente dispõe de instrumentos para esmagar o terror e reduzi-lo à sua força mínima. A questão é saber até onde ele vai. E irá até o ponto necessário para garantir a sua permanência. Por Reinaldo Azevedo

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