quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Publicitário diz que apresentou ex-diretor da Petrobrás a J&F

O marqueteiro Franklin Mandim Pereira, da agência Blow Up, afirmou nesta terça-feira, 6, que foi o responsável pela aproximação do grupo J&F, controlador do frigorífico Friboi-JBS, com o ex-diretor da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, acusado de comandar um esquema de desvios na estatal que financiava partidos e políticos. O grupo empresarial é investigado pela Operação Lava Jato, que desbaratou o esquema, em razão de aparecer em anotações e planilhas de Costa. A Polícia Federal suspeita que o ex-diretor da Petrobrás tenha atuado como consultor do J&F. A empresa foi a maior doadora das campanhas eleitorais de 2014, R$ 357 milhões. O Estado revelou que as planilhas apreendidas no computador do ex-diretor da Petrobrás citavam um contrato de consultoria em andamento com o grupo empresarial. O J&F nega que tenha feito qualquer acordo com o acusado da Lava Jato. “Nunca fiz nada. Nunca teve contrato nem participação. Quem apresentou (Costa) fui eu mesmo, não para fazer negócio, mas para ele falar de uma conjuntura geral”, afirmou o marqueteiro, que diz ter sido amigo do deputado federal José Janene (PP-PR) – morto em 2010. O ex-líder do PP e seu envolvimento no Mensalão foram a origem das investigações da Lava Jato. Segundo ações penais em trâmite na Justiça Federal, Janene participava do esquema de desvios em contratos da Petrobrás e repassava o dinheiro para o partido. O nome do publicitário apareceu nas anotações da agenda do ex-diretor da Petrobrás associado à divisão percentual de comissionamento em negócio supostamente ligado ao J&F. Nelas, há a inscrição “ 25% Franklin” próximo a “J&F”. A Polícia Federal investiga o nome como sendo uma referência a Agenor Franklin de Medeiros, executivo da OAS, preso na operação.

Nesta terça-feira, o J&F contestou informação, dizendo se tratar na verdade de Franklin Pereira. O marqueteiro confirmou ter atuado na aproximação, mas disse não ter havido assinatura de contrato com o ex-diretor da Petrobrás. “Eu procurei o Paulo, conversei com ele, marquei um encontro com ele e o levei até a JBS, em São Paulo, a Friboi”, afirmou Pereira. Segundo o publicitário, Paulo Roberto Costa foi apresentado como um consultor na área de energia para os executivos do grupo: ”Cheguei lá, ele (Costa) foi falar sobre a estrutura brasileira de energia, óleo e gás, o futuro do Brasil". Segundo o publicitário, naquele período ele prestava serviço para o empresário Joesley Batista, controlador do Grupo J&F: “Eu estava fazendo trabalho de consultoria para o Joesley na área de pesquisa política, principalmente em Goiás. Um dia no Rio estávamos conversando sobre o Brasil, em geral, e ele disse que queria entrar no negócio de energia, de transmissão, de gás. Falamos de pessoas e falei de um cara que tinha saída da Petrobrás que dizem ser muito bom". Entre os documentos reunidos pela Polícia Federal para apurar o elo entre o esquema alvo da Lava Jato e o grupo J&F está uma anotação de Costa referente à tentativa de compra do Grupo Rede Energia, dono de usinas pelo País, que acabou não se concretizando. “J&F fez proposta de compra do Grupo Rede Energia que inclui dívida de R$ 5,7 bi (nove distribuidoras)”, escreveu Paulo Roberto Costa na agenda.


Na versão contada nesta terça-feira pelo publicitário, foi Paulo Roberto Costa quem propôs o recebimento de 25% da parte do comissionamento de um negócio de venda de uma empresa prestadora de serviços da Petrobrás, ao comentar a anotação da agenda do ex-diretor investigada pela Polícia Federal. Teria sido na apresentação que Paulo Roberto Costa fez ao controlador do J&F, em São Paulo, sobre energia que o ex-diretor da Petrobrás apresentou a proposta de intermediação de venda da Astromarítima Navegação S.A. – que aluga navios para a estatal petrolífera. A Polícia Federal já sabia que o J&F havia sido procurado por Paulo Roberto Costa, no fim de 2012, para que o grupo comprasse a empresa de embarcações. “Ele falou na época lá (sede da JBS) que tinha algumas coisas que podia apresentar. Aí o Joesley levantou, chamou o Humberto (Junqueira de Farias), que era diretor de novos negócios, colocou na sala, se despediu e foi apresentado o negócio”, explicou o marqueteiro, dizendo tratar-se da proposta de venda da Astromarítima. Farias é o nome do executivo do grupo que aparece na lista de 81 contratos de Costa, que consta em um dos inquéritos da Lava Jato. A planilha intitulada “Contratos assinados – Costa Global” tem oito campos em que estão listados os negócios do ex-diretor da Petrobrás. Os itens das colunas trazem o “Nº do contrato”, “Empresa”, “Pessoa de Contato”, “Data da assinatura”, “Valor mensal”, “Validade”, “% de success fee” e “Status”. No caso do contrato com o grupo controlador da Friboi, de número “14”, é de 10 de dezembro de 2012. Ele tinha validade de cinco anos e previa o pagamento de 2,5% de comissão nos negócios fechados. No item status foi anotado “assinado e trocado (p.s.: sem firma reconhecida)”. Não há indicação, na planilha, sobre o motivo da consultoria. O grupo J&F sustenta que se tratava do mesmo negócio que veio a público em abril do ano passado: as negociações para a compra da Astromarítima. Segundo Pereira, foi após a apresentação sobre o setor de energia que Paulo Roberto Costa levou a venda da Astromarítima à discussão e disse que ele teria uma participação no comissionamento caso a venda fosse concretizada. “Quando saímos de lá, ele (Costa) me chamou e disse ‘apresentei isso aqui, é um negócio de barcos, e se isso der certo ficou acertado que eu tenho dois e meio por cento. Nisso aí, eu fico com 75% e você fica com 25%”, afirmou o publicitário. A planilha de contratos de consultoria, a agenda de anotações e a quebra de sigilo bancário de uma empresa fantasma do esquema são os indícios que levaram a PF a apurar o envolvimento do Grupo J&F no caso. Os investigadores da Lava Jato não tinham conhecimento da participação do publicitário da Blow Up no negócio, mas vão apurar que tipo de relação ele teve com o ex-diretor da Petrobrás. Pereira afirmou ter conhecido Costa via Janene. ”Eu sempre fui amigo do Janene. Fiz campanha política no Paraná para governador e um dos candidatos a deputado era o Janene". Sua relação com ex-deputado, pilar das investigações do esquema da Lava Jato, teriam sido profissionais, afirmou: “Um dia, em um café com o Janene, ele me apresentou o Paulo. Eu o vi duas vezes na minha vida". Paulo Roberto Costa confessou à Justiça Federal os crimes em troca de redução de pena. Ele admitiu que as consultorias via Costa Global eram usadas para recebimento de dinheiro não declarado e de propina atrasada do período em que foi diretor (2004-2012), em depoimento prestado em ação penal que corre em Curitiba, no Paraná.

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