quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Papa Francisco tropeça na sandália do pescador de águas turvas e diz besteira. Ou: Bergoglio está preparado para cura de aldeia, não para chefe da Igreja Católica

O mundo vive uma crise de liderança sem igual. Em toda parte. Onde está Barack Obama, presidente dos Estados Unidos? Deixem-me ver. Ele tentou transformar em notícia desta quinta-feira mais um passo do governo americano na aproximação com… Cuba! Quem se importa com essa bananice? No comando da Igreja Católica está um jesuíta com formação teológica precária, talhado, como diz um meu amigo italiano, para ser “cura de aldeia”, não o chefe da Igreja. Sim, ele é o líder máximo da minha religião, mas suas ambiguidades me incomodam.

Se concede uma entrevista sobre o aborto, depois é preciso esclarecer pontos obscuros de sua fala; se tece considerações sobre catolicismo e homossexualidade, logo é preciso que o Vaticano esclareça o que quis dizer. Faço aqui uma ironia delicada: jesuítas sempre foram de uma inteligência política ímpar, mas, em matéria de teologia, não são aquilo tudo… E Padre Vieira? Foi o maior prosador da língua portuguesa e um… grande político. Na teologia, forçava a mão.
O ex-peronista Bergoglio não me entusiasma nem como teólogo, o que ele não é, nem como liderança política — e seu posto também tem esse significado. Parece-me viciado em aprovação popular. “E João Paulo II não era assim?”, poderia indagar alguém. Não à custa da clareza, respondo eu.
O papa falou a jornalistas durante uma viagem do Sri Lanka às Filipinas. Indagado sobre o ataque ao jornal francês “Charlie Hebdo”, saiu-se com a ambiguidade de hábito. Reconheceu que tanto a liberdade religiosa como a de expressão são “direitos humanos fundamentais”. Mas considerou: “Temos a obrigação de falar abertamente, de ter esta liberdade, mas sem ofender”.
É claro que ninguém defende o direito natural à ofensa. O ponto não é esse. A questão é saber como devem reagir os que se consideram ofendidos. O papa afirmou, sim, que não se deve matar em nome de Deus, mas se saiu com um exemplo de uma pobreza, lamento dizer, estúpida. Até botou a mãe no meio. Disse: “Temos a obrigação de falar abertamente, de ter esta liberdade, mas sem ofender. É verdade que não se pode reagir violentamente, mas se Gasbarri (Alberto Gasbarri, responsável pelas viagens internacionais do papa), grande amigo, diz uma palavra feia sobre minha mãe, pode esperar um murro. É normal!”.
O exemplo é de um didatismo pedestre. Não é uma fala para ser entendida pelos simples, como devem fazer os cristãos, mas para excitar os tolos. Em primeiro lugar, “papa” e “murro” não devem se misturar numa mesma frase. Em segundo lugar, a sua metáfora cretina, queira ele ou não, justifica o ataque terrorista. Afinal, para os extremistas, eles apenas deram “um murro” — a seu modo — porque provocados.
A fala se dá em meio a outras declarações delinquentes. Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro da Turquia, comparou seu congênere israelense, Benyamin Netanyahu, aos terroristas de Paris. Lideranças muçulmanas mundo afora têm se manifestado de forma ambígua sobre os ataques, sempre partindo desse lamentável ponto de vista do papa: “Eles falaram mal de nossa mãe” — no caso, do “nosso Profeta”.
Bergoglio, dito Francisco, deveria se calar. Ser ambíguo sobre aborto, homossexuais ou casamento de padres só traz alguma turbulência à própria Igreja. Ser ambíguo sobre terrorismo pode ser muito perigoso. A propósito: se alguém insultar Cristo, que tipo de “murro” o papa acha que os católicos devem dar? Por Reinaldo Azevedo

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