quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A petista Graça Foster avisa, a exploração de petróleo (quer dizer, o pré-sal) cairá ao "mínimo necessário"

A presidente da Petrobras, a petista Graça Foster, anunciou nesta quinta-feira (29), em uma entrevista desoladora, catastrófica, que irá cortar investimentos da companhia a ponto de reduzir a carteira de exploração de petróleo "ao mínimo necessário" e que irá também desacelerar o ritmo das obras das refinarias Comperj, em construção em Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro, e Abreu e Lima, em Pernambuco. A petista Graça Foster fez a afirmação durante teleconferência com analistas para detalhar os resultados não auditados da empresa para o terceiro trimestre de 2014. Durante a entrevista coletiva que se seguiu à teleconferência, o diretor de Exploração e Produção da companhia, José Maria Formigli, afirmou que reduzir a exploração "ao mínimo necessário" significa dizer que a empresa não deverá entrar em leilões de novas áreas de petróleo este ano. Formigli reconheceu, contudo, que a decisão de participação da estatal ou não em novos leilões depende também de uma orientação do governo. Se couber somente à Petrobras, disse ele, a disputa por novas áreas "será de uma seletividade imensa". Além da redução do ímpeto na área de exploração, uma das atribuições chave da empresa e que garante uma produção crescente ao longo dos próximos anos, a empresa dará um freio também nas obras de suas duas principais refinarias em construção. Depois de colocar em operação a primeira linha de produção de diesel da refinaria Abreu e Lima, em final de novembro passado, a Petrobras não sabe quando dará continuidade às obras da segunda parte da unidade, chamada de "segundo trem de refino". De acordo com o diretor de Abastecimento e Refino, José Carlos Cosenza, tanto Comperj, ainda em construção, quanto Abreu em Lima, parcialmente concluída, foram postas em reavaliação e em ritmo mais lento até que corram novos desdobramentos da operação Lava Jato. O diretor lembrou que essas obras vinham sendo tocadas pelas empreiteiras investigadas na operação. Pairam sobre as duas refinarias as principais suspeitas de superfaturamento e pagamento de propina.
 

Durante a divulgação do balanço, na madrugada da última quarta-feira (28), a Petrobras anunciou que abandonou os projetos de construção de outras duas refinarias, conhecidas como Premium I e II, que estavam em fase inicial de construção, respectivamente no Maranhão e no Ceará. Planejadas no segundo mandato do governo Lula e tocadas pela área do ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, as unidades, que estavam em fase de terraplanagem do terreno, consumiram investimentos públicos totais de R$ 2,7 bilhões. Na mensagem final ao acionista, em ocasião do encerramento da teleconferência, a petista Graça Foster tentou passar uma mensagem de otimismo e de segurança com o futuro da companhia diante dos desafios decorrentes da identificação da corrupção, que se suspeita que tenha ocorrido dentro da empresa por oito anos, entre 2004 e 2012. Graça Foster falou que esses desafios obrigarão a Petrobras a fazer ajustes "de uma forma segura, saudável" que envolverão um "aperto no cinto" e uma "redefinição do tamanho da estatal". "O ano de 2014 foi o ano dos recordes de produção, de uma equipe aguerrida, que não se deixa abater e com um trabalho de investigação, com a criação da diretoria de Compliance, com esse aperto no cinto que nós estamos dando com relação aos gastos da companhia, com a redução de Capex (investimento), repriorização (sic), redefinição da Petrobras, do seu tamanho, do tamanho que ela pode ter, de uma forma saudável, de uma forma segura, tudo isso está sendo feito com muita vontade, muita garra e eu tenho certeza que vamos superar e nos tornar uma empresa muito mais forte, com a realidade que estamos imprimindo à nossa companhia", disse. Além das refinarias, a Petrobras também manterá parada a obra da unidade de fertilizantes, no Mato Grosso do Sul, cujo contrato com o consórcio construtor foi rompido no final do ano passado. A unidade, segundo a petista Graça Foster, está 85% concluída e uma nova licitação será "conduzida com a velocidade necessária". Essas são algumas das medidas, ainda não detalhadas, que indicam o caminho que a empresa vai tomar para cortar os investimentos em 30% este ano, dos US$ 44 bilhões anteriormente previstos, para algo entre US$ 31 bilhões e US$ 33 bilhões. A ideia da empresa é reduzir o ritmo dos projetos que "trazem pouca ou nenhuma contribuição para o caixa da empresa" neste ano e em 2016. A empresa pretende este ano ainda fazer a venda de ativos no valor de R$ 3 bilhões, cujas áreas ainda não estão definidas. O que se sabe apenas é que eles não serão da área de exploração e produção, já que o preço do petróleo está em queda, o que pressiona para baixo o valor desses ativos. Outra medida prevista é a revisão da política de preços para os derivados que não sejam gasolina e diesel. Graça Foster não deu maiores detalhes, disse apenas que a revisão atingirá combustíveis como óleo combustível, GLP (Gás Liquefeito de Petróleo) para o setor industrial e o asfalto, também derivado de petróleo cru. A presidente sinalizou uma mudança do subsídio que é dado a esses produtos: "Sobre o Capex (investimento), vai haver redução do ritmo de projetos que trazem pouca ou nenhuma contribuição ao caixa nesse ano de 2015 e 2016. Da área de Abastecimento, estamos diminuindo a velocidade de investimento no Comperj e toda a infraestrutura associada a ele. No Gás e Energia, estamos com a fábrica de fertilizantes já 85% realizada parada no momento". "Não houve entendimento entre nós e o consórcio que constrói essa unidade. Nós denunciamos o contrato e estamos nos preparando para uma próxima licitação, e vamos conduzir isso com a velocidade necessária. E na área de Exploração e Produção, vai haver a revisão da carteira exploratória ao mínimo necessário", disse Graça Foster aos analistas. As ações da Petrobras voltaram a desabar nessa quinta-feira, empurrando a Bolsa brasileira para o vermelho, ainda com avaliações negativas em relação ao balanço não auditado da companhia no terceiro trimestre de 2014, que não contabilizou perdas com corrupção. Após caírem mais de 10% na véspera, as ações preferenciais da Petrobras, mais negociadas e sem direito a voto, tinham desvalorização de 5,09%, para R$ 8,57, às 11h30 (de Brasília). Já as ordinárias, com direito a voto, cediam 6,26%, para R$ 8,09. A Petrobras divulgou na madrugada desta quarta-feira (28), após dois adiamentos, o balanço com os resultados do empresa no terceiro trimestre de 2014. A estatal viu seu lucro despencar 38% no período, em comparação com o trimestre anterior, de R$ 4,9 bilhões para R$ 3,1 bilhões. Em relação ao terceiro trimestre de 2013, o lucro caiu 9%. O valor, contudo, não contabiliza o dinheiro perdido em desvios investigados na Operação Lava Jato e nem a perda de valor recuperável de alguns de seus ativos por efeito do escândalo de corrupção. A companhia atrasou o balanço desde 14 de novembro justamente para a realização de tal ajuste. A estatal afirma em balanço que a metodologia que adotou para descontar o valor incorporado indevidamente como investimento, mas desviado em esquema de corrupção entre 2004 e 2012, mostrou-se "inadequada" e, por isso, recuou da promessa de subtrair o valor de seus ativos. A fórmula, diz a Petrobras, tinha "elementos que não teria relação direta com pagamentos indevidos". Como a Petrobras não fez o ajuste prometido, a empresa alerta que os números serão passíveis de revisão. O comunicado diz que a fórmula adotada ia realizar um ajuste "composto de diversas parcelas de natureza diferente, impossíveis de serem quantificadas individualmente", como câmbio, projeções de preços e margens de insumos e de produtos vendidos, entre outros. A ausência de baixas contábeis relacionadas às denúncias de corrupção da Operação Lava Jato no balanço trimestral da Petrobras decepcionou analistas e investidores, que continuam sem uma orientação clara sobre o valor justo dos ativos da estatal. A Guide Investimentos disse que o balanço foi "uma peça de ficção". Já a XP Investimentos questionou qual a utilidade do documento "se não tem baixa contábil". Em relatórios, analistas apontaram que a companhia divulgou o balanço para atender as obrigações com credores, sem ter incluído a dimensão das perdas decorrentes do sobre preço de contratos que beneficiou ex-funcionários, executivos de fornecedoras e políticos, segundo investigação do Ministério Público Federal.

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