terça-feira, 16 de dezembro de 2014

É o fim da picada o jornalismo do nariz marrom falar de Lula candidato antes do fim de 2014, enquanto a Petrobras, sua herança maldita, afunda!

Chega a ser asqueroso. Enquanto somos informados de que as ações da Petrobras caíram 25% em uma semana, temos também a notícia de que Luiz Inácio da Silva — sim, ele mesmo! — já está em franca movimentação com dois propósitos: a) interferir o máximo possível no governo Dilma e b) preparar uma nova candidatura à Presidência em 2018.

O futuro pertence mais a Deus — ou ao indeterminado, a depender das crenças de cada um — do que à vontade dos homens, isso é certo. O próprio Lula deve saber disso. Não creio, para ser franco, que, hoje, em 2014, ele próprio leve tão a sério a possibilidade de voltar a concorrer. Mesmo assim, constate-se: é de uma arrogância sem-par o grande maestro do descalabro que aí está autorizar o pré-lançamento de seu nome à Presidência como uma espécie de ameaça ao jogo político.
Lula sabe bem o que faz. Os dois primeiros anos do segundo mandato de Dilma não serão nada fáceis. Para 2015, já está contratado um crescimento inferior a 1% — e há pessoas muito racionais falando até em recessão. É claro que a oposição tende a crescer em momentos assim — ao menos é o que se espera, para o bem do país e da democracia. Ao se colocar como o grande fantasma de 2018, o imbatível, Lula pretende congelar o jogo político e desestimular os apetites. Ai das oposições se caírem nessa conversa!
Agora e nos meses e anos vindouros é hora, mais do que nunca, de apontar a nudez do rei. Dilma é, sim, corresponsável pelo colapso da Petrobras — quando menos porque não fez nada do que poderia ter feito em quatro anos de mandato para mudar a rotina de descalabros. Mas é evidente que ela não é autora da equação. O modelo que faz da estatal apenas uma franja de um partido político e instrumento da tomada do Estado por esse partido não é dela, é do PT.
Quem transformou a Petrobras numa engrenagem macabra e corrupta para conquistar a base de apoio por intermédio da compra de parlamentares foi o lulo-petismo. O homem  que “ameaça” voltar é o responsável último pela situação pré-insolvente da empresa, que só não quebrou ainda — nem vai quebrar — porque majoritariamente pública.
O jornalismo que se dedica à fofoca desse universo em que transita Lula, que o transforma numa espécie de grande pensador desse maquiavelismo de botequim e que, mesmo de forma mitigada, canta suas glórias de grande estrategista se dedica a uma variante nada edificante do culto à personalidade. Lula tem de ser visto, sim, como o maestro, mas de um modelo que entrou em falência e que tende a condenar o Brasil a mais alguns anos de atraso.
Nunca — e nunca quer dizer precisamente isto: nunca — a Petrobras se viu na situação em que está agora. E sempre cabe lembrar que essa gente tem um método, não uma tara especial por esta ou por aquela empresa. Repita-se o óbvio: a Petrobras tem um grau de profissionalização de seu corpo técnico superior ao de outras estatais e ao da administração direta — refiro-me aos ministérios, que manipulam verbas do Orçamento. Se o padrão de governança por lá é o que vemos, dá para imaginar como se passam as coisas em ambientes menos controlados.
A despeito de sua movimentação frenética, Lula deveria, isto sim, é ser visto como uma página virada da história, a não ser pela herança maldita de um modelo. Em vez disso, está sendo tomado como o grande fator da eleição de 2018.
Com a devida vênia, esse tipo de “jornalismo”, se é que assim pode ser chamado, é mesmo falta de vergonha na cara. Por Reinaldo Azevedo

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