segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Cana de açúcar deixa de atrair investimentos estrangeiros no Brasil


Com o agravamento da crise no setor sucroalcooleiro, o avanço de grupos estrangeiros no País foi interrompido. De acordo com especialistas, a retomada só deverá ocorrer quando a rentabilidade das usinas voltar a ficar atraente. A entrada dos "gringos" no setor começou no ano 2000 e se intensificou entre 2007 e 2009, quando boa parte das usinas nacionais estava altamente endividada por causa da expansão de capacidade realizada nos anos anteriores. Com a crise financeira global, muitos grupos nacionais foram obrigados a vender parte ou até o controle de seu capital, mas agora mesmo as empresas estrangeiras passam por dificuldades. "Quando chegaram ao País, os grupos internacionais foram atraídos pelo potencial de mercado que o etanol poderia conquistar, com o crescimento das vendas de carros flex (abastecidos com álcool ou gasolina) e as perspectivas de crescimento das exportações do combustível", disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, da consultoria Canaplan. "A primeira gestão do governo Lula estimulou investimentos. Depois, o governo passou a dar prioridade ao pré-sal, deixando de lado os combustíveis renováveis", disse uma fonte. "É difícil para um grupo estrangeiro ter de explicar para sua matriz que o governo mudou de uma hora para outra as políticas de incentivos. Boa parte das estrangeiras que entraram no País também passa por dificuldades", acrescentou. Neste cenário desanimador, empresários ameaçam abandonar o setor. Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, as famílias Junqueira Franco e Biagi, que já figuraram entre os grupos sucroalcooleiros mais poderosos do Brasil, negociam com um pacote de remuneração para deixar a Biosev, braço de açúcar e etanol do grupo francês Louis Dreyfus. Sem poder de voz e insatisfeitos com o rumo tomado pela companhia, as duas famílias devem seguir caminhos próprios. Atualmente, cerca de 30% da produção de cana-de-açúcar do País está nas mãos de companhias estrangeiras, de acordo com levantamento da consultoria Datagro. Das cinco maiores companhias do setor, quatro têm participação de capital estrangeiro: Raízen (joint venture entre a brasileira Cosan e anglo-holandesa Shell), Dreyfus, Bunge e Tereos lideram o ranking. A Odebrecht Agroenergia é a única que ainda não tem sócio relevante de fora. Em meio ao mau momento do setor, muitas companhias estão à venda, mas a maior dificuldade é encontrar comprador para esses ativos. No entanto, a expectativa de que o governo possa aprovar a retomada da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), tributo sobre a gasolina, e elevar a mistura do álcool na gasolina, de 25% para 27,5%, poderá dar fôlego às usinas. Segundo uma fonte do mercado financeiro, já há fundos nacionais e estrangeiros que vislumbram oportunidades. "Poderemos ver investidores estratégicos de olho na produção da commodity, mas o momento de troca de controle a preços elevados acabou", disse Plinio Nastari, da Datagro.

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