quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Os nomes para a Fazenda: “Ô Dilma, liga pra mim; não, não liga para ele!”

Fico realmente tão impressionado ao saber que Dilma Rousseff se reuniu com Luiz Inácio Lula da Silva na terça à noite para definir nomes de seu futuro ministério e debater a crise da Lava Jato. Por que ela se encontrou com ele? Ele é presidente do PT? É autoridade na República? Tem ainda algum poder institucional. Por quê? Não há resposta a não ser o Brasil patrimonialista, patriarcal e, sim, senhores!, machista, que remanesce e de que o PT é a perfeita expressão contemporânea. Nessas horas, as feministas oficiais do PT ficam de boca bem fechada, não é? Eis aí um bom momento para queimar sutiãs metafóricos. Vocês acham que um macho petista se submeteria à supervisão de uma mulher se a sequência fosse invertida, e Lula fosse o sucessor de Dilma? Uma ova! E não apenas porque, afinal, o Poderoso Chefão é ele, mas porque Lula sempre a tratou como uma café-com-leite. Vejam as vezes em que ele já a chamou, em comícios, docemente, de “a Bichinha”… A ele falta pudor. A ela falta decoro. A ele falta simancol. A ela falta a solenidade do cargo. A ele falta senso de ridículo. A ela falta… senso de ridículo. Se o Brasil fosse uma empresa, você confiaria num presidente incapaz de escolher seus próprios subordinados? “Ah, mas o Brasil não é uma empresa…” Ainda bem, se é que me entendem! Aloizio Mercadante, ministro-chefe da Casa Civil, e Rui Falcão participaram do encontro, o que ajudou a tornar tudo mais cinzento. Fico cá a pensar: Deus do céu! Nem a “Bichinha” merece esse destino. Mercadante foi aquele senhor que sugeriu que os ministros pedissem demissão coletiva quando a presidente ainda não tinha alternativas. Gênio mesmo! A turma de Lula não dá muita bola para a presidente e vaza que Lula preferiria mesmo Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. Mas Dilma acha que ele é “mercado demais”, entendem? Os dois concordariam com o nome de Luiz Carlos Trabuco, presidente-executivo do Bradesco, mas parece que é Trabuco quem não está disposto a virar alvo de ansiedades coletivas. Alexandre Tombini, atual presidente do BC, estaria entre as opções, o que me parece piada. Se ele não conseguiu a confiança dos agentes econômicos como presidente do BC, por que deveria assumir a Fazenda. Vai saber com quais critérios lida essa gente. Também teria entrado na lista Joaquim Levy, ex-secretário do Tesouro no Governo Lula e hoje presidente da Bradesco Asset Management, o braço de fundos de investimento do Bradesco. E há ainda a hipótese Nelson Barbosa, ex-secretário-geral da Fazenda. O único com perfil para a Fazenda aí, que tem alguma intimidade com formulação de política econômica — e se é ministro da Fazenda para isso, não apenas para cuidar da política monetária —, é Barbosa. E isso nada tem a ver com a competência dos demais. Acho que o Brasil sai ganhando se Trabuco continuar no Bradesco, um banco importante. E ganhará muito menos se ele for para a Fazenda. Dilma deveria me ouvir e parar com soluções extravagantes. Chame Murilo Portugal, atual presidente da Febraban. Ele é bom. Sabe das coisas e tem uma visão abrangente de economia. É tecnicamente capaz e tem o tal respeito dos mercados. Presidente, liga pra mim; não, não liga pra ele! Por Reinaldo Azevedo

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