sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Objetos confiscados de Perón após golpe desencadeiam batalha judicial na Argentina

Um biombo ornamentado dado a Evita Perón pelo então líder chinês Mao Tse-Tung, atrás do qual a diva populista argentina se vestia e despia, é um dos milhares de itens desaparecidos sendo disputados em uma batalha judicial prestes a começar em Buenos Aires. A peça de madeira foi presenteada em algum momento entre 1946 e 1952 como gesto de solidariedade entre o país de Mao e o de Juan Domingo Perón, lendário ex-presidente argentino e marido de Evita. O biombo é um dos tesouros de uma coleção de objetos da residência dos Perón que foram confiscados em 1955, quando Perón foi deposto por um golpe de Estado. Armazenados em um banco local, a maioria dos itens desapareceu, desencadeando uma ação civil de Mario Rotundo, cuja fundação Funpaz desfruta de direitos legais sobre as peças desde 1990. “Há uma quantidade enorme de coisas faltando. Eu diria que 95% dos itens sumiram”, disse Rotundo, que processou o Banco Ciudad. As negociações preliminares na ação de 1 bilhão de dólares já começaram, e um julgamento deve ter início antes do fim do ano. O biombo de três painéis – unidos por dois conjuntos de dobradiças e decorado com toques de ouro, prata e marfim – tem mais de dois metros de altura e três de comprimento. Ele foi levado de uma das casas dos Perón que hoje abriga a Biblioteca Nacional no bairro de alto luxo da Recoleta, em Buenos Aires. A peça de mobília não está entre os cerca de 300 itens ainda de posse do banco. O resto da coleção original – que inclui livros antigos, jogos de mesa de porcelana fina e jóias, entre elas um broche dado a Evita pelo falecido ditador espanhol Francisco Franco em 1947 – foi furtada ou arruinada pelas más condições de armazenamento ao longo das décadas. “Ainda sobraram algumas jóias, sobre as quais não sabemos muito. Há uma coleção de armas, pinturas e muitas peças de ouro e prata que foram salvas”, declarou Rotundo, de 64 anos, que conheceu Perón na Espanha em 1970. Os dois continuaram amigos até a morte de Perón, em 1974, o que abriu caminho para que a fundação de Rotundo recebesse os direitos sobre a coleção 24 anos atrás da terceira esposa de Perón, Estela Martínez. Ele entrou com a ação para compensar os itens perdidos. Outra ação apresentada por Rotundo em 2007, e que deve ir a julgamento em breve, busca obter o controle dos objetos remanescentes sem pagar a taxa de 100 mil dólares exigida pelo Banco Ciudad.

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