sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Subsolo tem água ‘ociosa’ suficiente para abastecer 1,8 milhão de pessoas em São Paulo

Enquanto observa seus principais reservatórios secarem diante da pior crise de estiagem da história, a Grande São Paulo contabiliza debaixo da terra um volume de água inutilizado que seria suficiente para abastecer cerca de 1,8 milhão de pessoas. Segundo estudo do Centro de Pesquisa de Águas Subterrâneas (Cepas) do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), os aquíferos da região metropolitana têm capacidade para produzir até 16 mil litros de água por segundo, mas 40% dos recursos não são aproveitados. Os cálculos apontam hoje para a existência de aproximadamente 12 mil poços privados em operação na região, cerca de 60% clandestinos, que retiram dos aquíferos cerca de 10 mil litros por segundo para abastecer, predominantemente, indústrias, condomínios, hotéis, hospitais e clubes, entre outros. Com a diferença de 6 mil litros por segundo que estão “ociosos” no subsolo, seria possível abastecer, juntas, as populações de Guarulhos e Mauá, cidades que decretaram racionamento por causa da seca nos Sistemas Cantareira e Alto Tietê. Cada mil litros por segundo abastecem 300 mil habitantes. Se fosse aproveitada integralmente, a reserva subterrânea seria o segundo maior manancial da Grande São Paulo, ficando à frente dos Sistemas Alto Tietê (15 mil l/s) e Guarapiranga (14 mil l/s) e atrás apenas do Cantareira, que tem capacidade de produzir 33 mil litros por segundo, mas opera atualmente com 21 mil litros por segundo. Os cálculos consideram a disponibilidade de água subterrânea nos aquíferos sedimentar e cristalino da região densamente urbanizada, que corresponde a 40% da Grande São Paulo. “Estamos falando de um volume de água expressivo que nem entra na contabilidade dos órgãos oficiais na hora de se planejar o consumo de água. As águas subterrâneas são completamente desprezadas, embora garantam segurança hídrica à região. Se os usuários privados resolvessem abandonar os poços e migrar para o sistema público, a gente veria o colapso do sistema de abastecimento”, afirmou o diretor do Cepas, Reginaldo Bertolo. Segundo ele, as águas subterrâneas apresentam em geral boa qualidade química e são aptas para o consumo humano. Um dos motivos é o fato de que parte da recarga dos aquíferos resulta de vazamentos de água já tratada na rede de distribuição da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que desperdiça cerca de 30% da produção no trajeto até os imóveis. Uma análise feita em 2007 em um ponto de monitoramento na Vila Eulália, na zona leste da capital, constatou que dos 427 milímetros da recarga registrada no poço durante um ano, 244 milímetros, ou 57%, tinham características de água infiltrada da rede da Sabesp e os 183 milímetros restantes eram de água da chuva. “Tenho a impressão de que áreas da zona leste, que é altamente adensada, mas tem baixa quantidade de condomínios e indústrias, são propícias para ter a recarga com os vazamentos e um risco menor de contaminação”, diz Bertolo. Segundo o pesquisador, a crise da água, que se arrasta desde o início do ano, tem provocado uma enorme corrida por poços na região, com cerca de 400 poços perfurados no período de um ano. Bertolo alerta, contudo, que a Grande São Paulo tem áreas com alto risco de contaminação, seja pela poluição industrial do solo, como na região do Jurubatuba, na zona sul da capital, ou pela infiltração da rede de esgoto. “Temos mais de 100 áreas potencialmente com contaminação. Isso tem feito com que os poços sejam cada vez mais profundos”, afirma.

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