quarta-feira, 8 de outubro de 2014

PT não consegue dialogar com a modernidade de São Paulo, diz cientista político

O voto anti-petista é apontado por analistas políticos como um dos principais fatores para o candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) ter conquistado 44,47% dos votos no Estado de São Paulo, contra apenas 25,75% da candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff (PT). A dificuldade de Marina Silva (PSB) em sustentar sua campanha nas últimas semanas, além da antecipação da migração dos votos da ex-senadora para o Aécio Nevwes, que aconteceria apenas no segundo turno, e o peso do governador reeleito Geraldo Alckmin (PSDB) na eleição, também explicam o sucesso de Aécio Neves entre o eleitorado paulista. O coordenador do Laboratório de Política e Governo da Unesp, Milton Lahuerta, afirma que o PT não consegue dialogar com a modernidade de São Paulo, um estado complexo, segundo o analista: "Em geral, se quer atribuir esse anti-petismo a uma posição conservadora. Eu penso que é o contrário. O PT não está conseguindo dialogar com o contrário do que eles dizem, que é a modernidade de São Paulo. Se pegar São Paulo como uma espécie de metáfora do capitalismo brasileiro, é o Estado com maior presença de desenvolvimento econômico, onde há uma classe média muito expressiva, de gente que opera com a perspectiva de que o que ela tem se deve ao seu próprio esforço e não a benesses do Estado, do governo, ou de quem quer que seja". Lahuerta diz que a classe média paulista é tratada equivocadamente de forma reacionária: "Esse eleitorado tem sido muito mal tratado pelo discurso petista, de certo modo é a maioria da população de São Paulo, que tem esse ethos empreendedor, muito individualista. Tem sido tratado em bloco como se fosse reacionário, de direita. Eu acredito que isso é um grande equívoco do PT, o que explica não só o crescimento de Aécio Neves, como a vitória do Geraldo Alckmin". Também foi importante para o crescimento de Aécio no Estado de São Paulo a migração antecipada dos votos de Marina Silva para Aécio Neves. Em um primeiro momento, Marina Silva seduziu um eleitorado jovem, de classe média, progressista, mais intelectualizado, que não se identifica com o PT, e que ao perceber a fragilidade na candidatura da socialista, migrou para o tucano. "Houve uma precipitação de um voto que estava com a Marina Silva e que foi para o Aécio Neves antes do segundo turno de eleitores que têm característica do voto do eleitor do Aécio Neves, com mais escolaridade, renda mais alta, esse eleitor certamente que foi mais impactado, por exemplo, com o desempenho do Aécio Noves no debate da TV Globo. Ele foi muito bem no debate em comparação com Dilma e Marina, e a tendência de elevação do Aécio Neves que tinha começado há uma semana e a queda de Marina Silva se acentuaram de sexta-feira para domingo", afirmou Wagner Romão, professor de departamento de ciências políticas da Unicamp. Romão também afirma que Alckmin funcionou como um puxador de votos para Aécio em São Paulo: "Alckmin sempre teve cerca de 50% de intenção de votos em todas as pesquisas, desde o começo da campanha. Ele tem um eleitorado cativo e foi uma âncora do voto em São Paulo. Na medida que Aécio Neves se aproximou dessa âncora, nos últimos momentos, houve uma certa acomodação desse eleitorado que já votava no Alckmin tanto para Aécio Neves quanto para José Serra, que se elegeu senador".

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