sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O PT e o PSDB na televisão: virulência ou suavidade; mudancismo ou terror; união ou arranca-rabo de classes

O horário eleitoral gratuito voltou ao ar nesta quinta-feira. Comentarei o conteúdo de cada um. Mas o que interessa agora é apontar as respectivas estratégias. O primeiro programa a ir ao ar foi o do PT. Dilma deixou claro que quer mesmo partir para a pancadaria. O negócio dela é dividir o Brasil entre “nós” (eles) e “eles” (nós). Para ela, não se trata de uma disputa eleitoral, mas de um confronto entre “dois modelos de país”. Um deles seria, segundo diz, de FHC, que Aécio representaria e que teria “quebrado o Brasil três vezes” — o que é uma mentira histórica, mas e daí?

Dilma voltou a fazer outra acusação falsa. Disse que o governo tucano “privatizou patrimônio público a preço de banana”. Também é mentira. A menos que as bananas valessem seu peso em ouro. Um ano depois, as ações da Telebras que foram vendidas — a privatização da telefonia — valiam em Bolsa menos do que o governo havia arrecadado com a venda. O Brasil só tem hoje muito mais celulares do que pessoas porque o setor privado entrou no negócio. De resto, tivesse havido ilegalidade, por que o PT não reverteu o processo? Daria confusão, sim, mas possível era.
Foi adiante na mistificação e afirmou que o PT chegou ao poder com 50 milhões de brasileiros “na indigência”. É mentira também. Aliás, o partido faz uma baita confusão com o que seja miséria, pobreza, fome etc. Misturou tudo. “Fome” como um problema de massas já não havia no país quando Lula chegou ao poder, em 2003. É por isso que o seu “Fome Zero” nunca saiu do papel. No lugar, o petista adotou o Bolsa Família, um programa herdado de FHC.
A propaganda investiu pesado no arranca-rabo de classes e fez uma indignidade com FHC. Numa entrevista, o ex-presidente comentou que a desinformação levava, sim, muita gente a votar em Dilma. Em que contexto? Os petistas espalham a mentira de que, se algum outro presidente se eleger, acaba o Bolsa Família. É, é evidente, só acredita nisso quem está desinformado. No horário do PT, a entrevista do ex-presidente foi transformada numa manifestação de suposto preconceito contra os pobres.
Ironia: no dia em que vieram a público as revelações de Paulo Roberto Costa e de Alberto Youssef sobre como funcionava o esquema corrupto na Petrobras, inclusive durante o processo eleitoral que fez Dilma presidente, ela prometeu, se reeleta, combater… a corrupção!!!
Aécio
O programa de Aécio deixou de lado a pancadaria e preferiu iniciar com o tom elevado do agradecimento. A peça publicitária parece especialmente voltada para Minas Gerais, onde o tucano teve menos votos do que se esperava. Nem de longe Minas seguiu, por exemplo, o padrão de São Paulo, que foi muito mais “mineiro”. Em seu estado natal, o tucano ficou com 39,75% dos votos, contra 43,48% da petista; em São Paulo, o placar foi favorável a ele, com uma vantagem estrondosa: 44,22% a 25,82%.
Foram ao ar imagens do jovem Aécio ao lado de Tancredo Neves, num momento crucial da história do país: o fim da ditadura, quando o avô do agora candidato tucano costurou a participação da oposição no Colégio Eleitoral, o que permitiu a transição pacífica para a democracia.
Aécio acenou ainda aos eleitores de Marina Silva — sem citá-los explicitamente, mas lembrando que a maioria do eleitorado pediu mudanças — e também chamou a votar os que se abstiveram no primeiro turno, uma massa gigantesca, de quase 30 milhões (19,39% do eleitorado): precisamente, 27.698.475 pessoas. Notem: as abstenções superam os votos dados a Marina — 22.176.619 — em exatos 5.521.856 indivíduos aptos a votar.
O confronto com a petista, bem leve, ficou para o fim: apresentadores opõem Aécio a Dilma, afirmando que ela é candidata que representa a continuidade do que está aí e que ele encarna a mudança.
Os dois programas refletem o momento de cada campanha. Aécio vem de uma trajetória ascendente e pode falar em nome de uma esperança que diz estar nas ruas. Dilma, ao contrário, vem de uma dita expectativa de até vencer no primeiro turno para um confronto acirrado no segundo, em que provavelmente está atrás. Isso explica a suavidade dele e a virulência dela.
Vamos ver os próximos lances. E que se note: confronto e críticas mútuas fazem parte do jogo. O que não é tolerável numa campanha é a mentira. Por Reinaldo Azevedo

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