segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Grandes consumidores de energia querem discutir custos com o governo Dilma

O slogan “Governo novo, idéias novas” encampado na campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT) foi incorporado por aliados da presidente antes mesmo da vitória no segundo turno. De acordo com o presidente executivo da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, membros da candidatura à reeleição sinalizavam que o novo mandato da presidente promoveria mudanças na relação com os setores produtivos. “A campanha foi de mudanças e nosso diálogo com a campanha foi bastante positivo”, afirma Pedrosa, citando nominalmente o coordenador do programa de governo da candidata, Alessandro Teixeira. “Houve acolhimento por parte da campanha sobre as questões de energia e de produtividade”, explica Pedrosa. A Abrace representa principalmente grandes indústrias consumidoras de energia, casos de Vale, Usiminas, Braskem e Alcoa, entre outras. Pedrosa acredita que o resultado da eleição, com vitória apertada de Dilma sobre Aécio Neves (PSBD), mostra que grandes temas estão na agenda de discussão do futuro do Brasil e que o foco nos ganhos sociais não pode excluir outras prioridades. “O fato de as regiões onde estão localizados os pólos produtivos do Brasil não darem a ela uma votação tão expressiva mostra as dificuldades enfrentadas pelo setor”, analisa o presidente da Abrace. “Sem abrir mão da distribuição de renda, é preciso ter a visão de que também devemos olhar para outro ciclo, o do aumento da produtividade”, complementa. Um estudo feito a pedido da entidade, mas ainda não divulgado, mostra que um terço da desaceleração da economia brasileira em 2014 teve origem no alto custo da energia para a produção. Outro levantamento da Abrace mostra que as indústrias associadas à entidade podem ser obrigadas a arcar com um custo extraordinário da ordem de R$ 20 bilhões na energia até 2018. Apenas em 2015, o desembolso adicional com a compra de energia estaria estimado em cerca de R$ 5 bilhões. O custo mais elevado viria da assinatura de novos contratos de energia, em substituição em acordos já em vigor, da elevação dos custos de transmissão e dos desembolsos com a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Não estão incluídos nesse valor possíveis aumentos das despesas com os Encargos de Serviços do Sistema (ESS) e com o fim do contrato de energia entre a Chesf e grandes indústrias instaladas na região Nordeste do País, as quais são atendidas em regime especial de fornecimento e preços. Na visão de Pedrosa, o resultado das eleições mostra que é preciso manter os ganhos sociais alcançados pelo Brasil nos últimos anos, mas também recuperar a capacidade de produção do País. “A campanha de governo foi de mudanças, e estamos mais próximos de mitigar o desafio da inclusão social e do combate à miséria. A questão da competitividade é um grande desafio”, salienta o presidente da Abrace. Ao estimular a recuperação da competitividade produtiva no Brasil, a presidente Dilma Rousseff também pode contribuir para melhorar os indicadores sociais do país, reforça Pedrosa. O estudo inédito da Abrace mostra que o efeito positivo de uma energia mais barata destinada à produção tem um impacto 16 vezes maior no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do que quando a mesma energia é destinada ao consumo de pequenos clientes, caso das residências, por exemplo. “Ao aumentarmos a produção, também há aumento de renda na mão da população. E o diálogo com a campanha nos permitiu ter um alento para essa situação”, diz Pedrosa, após citar o custo da energia como um dos entraves a serem superados neste momento. Outros dois pontos cuja discussão é considerada essencial pela Abrace para o próximo mandato da presidente Dilma Rousseff são a redução das incertezas associadas a encargos, fator que igualmente pode elevar o custo da energia, e a elaboração de uma política nacional que viabilize a oferta de gás natural competitivo para as indústrias e para a geração de energia.

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