quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A PRECÁRIA SITUAÇÃO ALIMENTAR CUBANA

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A verdadeira história se escreve no coração dos povos. Nem os mais elevados sociólogos, psicólogos, historiadores e sábios que tenham existido ao longo de toda a história da humanidade poderiam caracterizar a sociedade cubana atual de uma forma medianamente correta. Nossa verdadeira história habita no desconhecido interior de cada um, no coração de cada indivíduo. É aí, e não em outro lugar, que estão os originais das escrituras da história cubana; as outras não passam de meras cópias duvidosas. Exatamente por isso, quanto mais totalitária for uma sociedade, quanto mais se imponham limites à liberdade dos indivíduos, mais difícil será tornar visível sua verdadeira essência – a realidade social é distorcida a tal ponto, que até os próprios indivíduos terminam, inevitavelmente, aceitando-a como se fosse verdadeira. Este é o caso de Cuba, lugar em que os donos da liberdade encarregam-se de vender uma realidade viciada, uma história distorcida magistralmente. Pois bem, amigo leitor, pretendo aqui mostrar a outra cara da realidade vivida pelo povo cubano, destacando, concretamente, nossa atual situação alimentar. Não foi por mera questão de gosto que o psicólogo norte-americano Abraham Maslow, na sua teoria das necessidades – também conhecida como Pirâmide de Maslow -, destacou a alimentação como uma das necessidades básicas do indivíduo. Pelo contrário, foi porque é ela que garante a manutenção das funções corporais que fazem a vida ser possível.
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Essa necessidade básica é hoje o principal problema na vida da maioria dos habitantes de meu país. O cubano de hoje vive as 24 horas do dia pensando no que irá comer. Estou falando, em muitos casos, de apenas uma refeição diária, incluindo-se aqui as crianças. E não poderia ser de outra forma. Mensalmente, o Estado garante para cada pessoa, a baixo custo, por meio da caderneta de racionamento, os seguintes itens: 2.250kg [1] de arroz, 450g de feijão, 225ml de óleo de cozinha, 1.800 kg de açúcar e 675g de frango. Quanto tempo podem durar essas quantidades? Convido-os a fazer as contas. Suponhamos que, alimentando-nos uma vez ao dia, estas provisões possam nos manter pelos primeiros dez dias do mês. E os 20 restantes? Pois é aí que começa a agonia dos cubanos. Tomemos como exemplo uma pessoa com média salarial alta. 
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Suponhamos que ganhe $300.00 por mês. Pois bem, teria, então, que comprar os escaços produtos disponíveis em mercados estatais, com preços como: arroz a $5.00 por 450g, feijão a $10.00 por 450g, óleo de cozinha a $60.00 (ou 2.40 CUC [2]) por 450ml, açúcar a $5.00 por 450g e frango a $75,00 (ou 3.00 CUC) por 450g, em média. Quando é possível, podem-se encontrar produtos no mercado negro, custando o óleo de cozinha $25.00 por 450ml e o frango $25.00 por 450g. Caso contrário, o que é o mais comum, deve-se recorrer aos mercados estatais, nos quais se praticam, em média, os preços especificados. Assim, para nos alimentarmos minimamente, apenas uma vez no dia durante os demais 20 dias do mês, teríamos que adquirir: 4,5kg de arroz ($50.00); 900g de feijão ($20.00), 450ml de óleo ($60.00); 3,6kg de açúcar ($40.00) e $75.00 de frango. Quer dizer que, para mal alimentar uma pessoa, uma vez no dia e durante um mês, são necessários $245.00, de um salário mensal de $300.00, restando $55.00 para transporte, vestimenta, medicamentos, pagar a taxa sindical, o dia da defesa [3], os Comitês de Defesa da Revolução (CDR), a água, a luz, o telefone, a federação de mulheres, no caso de se ser mulher, etc, etc, etc. E se temos filhos pequenos? Que loucura! Como é possível viver desta forma? Ora, os cubanos dão um jeito. Os cubanos, em sua grande maioria, precisam delinquir todos os dias para sua subsistência. Os pedreiros, os médicos, os farmacêuticos, os açougueiros, os balconistas, os fiscais, os dirigentes, militantes do partido, caminhoneiros, professores – absolutamente todos, todos precisam fazê-lo, e não porque o desejem fazer, mas porque não resta outra opção.
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Os governantes sabem disso, mas fazem-se de desentendidos para evitar uma explosão social. Somente quando a corrupção periga manchar a “imagem da revolução” é que fazem grandes operações policiais e juízos em nome do povo, culpando os incriminados como os causantes das penúrias e necessidades pelas que o próprio povo passa. Sendo as coisas desse jeito, amigo leitor, as cadeias cubanas encontram-se abarrotadas de seres que sofrem condenações injustas e forjadas, repletas de jovens, pais e mães, filhos e filhas, de maioria da grande parcela humilde da população, que delinquiram por pura necessidade – mais do que isso, por uma necessidade imposta pelo seu próprio governo. Governo este que, por sua vez, os culpa e castiga pelo simples fato de tratarem de garantir as suas subsistências. Sim, dentro de cada cubano, no coração de cada indivíduo desse país, habita a fome: uma gigantesca e irresistível fome de liberdade. 

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